Vista do exterior da galeria da aclamação do Rei Dom João VI, no Rio de Janeiro

Tanto a timidez natural de D. João VI, herdeiro legítimo da coroa de sua mãe desde fins de fevereiro de 1816, como a distância considerável pela qual o Brasil está separado do continente, foram sem dúvida as causas principais das circunstâncias que atrasaram de dois anos o reconhecimento do Reino Unido de Brasil, Portugal e Algarves.
O novo Rei precisava, com efeito, obter a ratificação da Regência portuguesa estabelecida em Lisboa, além da anuência das grandes potências da Europa, dele separadas por duas mil léguas. Por isso, foi somente a 6 de fevereiro de 1818 que se realizou, no Rio de Janeiro, o ato da aclamação solene do novo rei Dom João VI.
Depois de apresentar uma vista do interior da galeria em que se passam todos os detalhes do ato da aclamação, reproduzo agora o exterior dessa mesma galeria que ocupava todo o fundo do largo com frente para o mar.
O momento escolhido é o da partida do Rei, em que aparece ao balcão central do edifício para mostrar-se ao povo e receber as primeiras homenagens antes de descer para a Capela Real a fim de assistir ao Te Deum com que termina a cerimônia da aclamação. Percebe-se, através da abertura das arcadas, na primeira janela à esquerda, o trono; na segunda, a tribuna da família real, das damas da Corte e das legações estrangeiras; na terceira, antes do fim, vê-se a porta de comunicação que conduz à Capela Real e pela qual deve passar o cortejo; as duas últimas, finalmente, servem para clarear o vestíbulo arranjado à entrada da escadaria de que se vê uma parte do lado de fora. Uma balaustrada erguida no envasamento do balcão de honra serve de coreto para a orquestra composta unicamente dos músicos alemães que acompanharam a princesa durante a travessia. O comandante da praça e dois oficiais de seu estado-maior mantêm-se no centro de um espaço vazio reservado em torno do balcão. Pelotões de infantaria e de cavalaria distribuem-se entre a massa de espectadores espalhados pelo largo.
É preciso dizer que o conjunto dessas medidas militares contribuiu bastante para tranquilizar o novo Rei temeroso da explosão de um motim popular fomentado pelo descontentamento dos portugueses enciumados com sua longa permanência no Brasil e isso apesar da promessa feita de voltar para Lisboa logo após a conclusão da paz geral.
Fonte
- Debret, Jean Baptiste. Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Tradução e notas de Sergio Milliet. São Paulo: Livraria Martins, 1940. 2 v. (Biblioteca Histórica Brasileira, 4, 1954).
Imagem destacada
- The Miriam and Ira D. Wallach Division of Art, Prints and Photographs: Print Collection, The New York Public Library. (1834 - 1839). Vue de l’extériere de la galerie de l’acclamation du roi D. Jean VI (à Rio de Janeiro). Retrieved from http://digitalcollections.nypl.org/items/510d47df-7b91-a3d9-e040-e00a18064a99.
Mapa - Paço Imperial