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Colônia Suíça de Cantagalo, por Jean Baptiste Debret

Colônia Suíça de Cantagalo, por Jean Baptiste Debret,
Colônia Suíça de Cantagalo, por Jean Baptiste Debret, via NYPL

Encorajado pela feliz influência das artes e da indústria reunidas em torno do trono brasileiro desde 1816, quis o governo português, poucos anos mais tarde, incentivar também a agricultura. Nova Friburgo, situada no distrito de Canta Galo, província do Rio de Janeiro, foi a primeira colônia suíça instalada no Brasil, no reinado de D. João VI.

O Rei entregou a direção geral dessa colônia a Monsenhor Miranda, eclesiástico português que visitou vários Estados importantes da Europa.

A partir de 1820 viu-se portanto surgir, como que espontaneamente, nas ruas do Rio de Janeiro, uma nova população cujos cabelos louros e pele branca contrastavam violentamente com a tez escura dos espectadores negros, espantados com a nova aparição.

Logo após o desembarque o diretor geral procurou dirigir esses ativos colonos para as terras que lhes eram concedidas, mas, a carência de caminhos, que obriga o transporte a lombo de burro, tornou-se um obstáculo funesto para os suíços forçados a abrir suas bagagens a fim de reduzir-lhes o tamanho. Nessa operação bastante longa, perderam eles coisas preciosas, como livros, instrumentos, utensílios especializados, etc., pois é preciso dizer que, nessas circunstâncias, os agentes subalternos se enriqueceram à custa do estrangeiro. Embora afligidos por esse contratempo, os colonos se resignaram e se puseram a caminho. Chefes de numerosa família em sua maioria, opunham filosoficamente sua coragem e sua atividade à influência momentânea de uma desgraça que parecia entravar-lhes a organização inicial e baseavam na sua capacidade a esperança de um futuro feliz. Finalmente, divididos em vários grupos, cada um dos quais formava uma vasta caravana, puseram-se a caminho e após 10 a 12 dias de marcha sempre difícil, e não raro perigosa, chegaram à terra prometida, isto é, a um dos mais belos vales da comarca de Canta Galo, cujo solo é regado por um pequeno rio dividido em vários riachos que contornam alguns morros cobertos de vegetação e dominados por diversas cadeias de montanhas.

Foi nesse vale fértil que os viajantes encontraram diversos casebres construídos à moda brasileira e já com as ferramentas e instrumentos necessários à cultura. O governo tivera também o cuidado de mandar para aí certo número de escravos de ambos os sexos, destinados a serem repartidos entre as famílias suíças. Um ano bastou para que Nova Friburgo revelasse aos brasileiros os recursos admiráveis da atividade europeia desenvolvida sob todas as formas. Já se viam um moinho, várias casas de diferentes tamanhos, carros e carretas, teares mecânicos, móveis, etc., tudo com o caráter da pátria desses preciosos colonos. Faziam-se tentativas de novas culturas. Gado numeroso e outros animais pastavam em campos formados com sementes importadas e que prometiam uma feliz renovação das pastagens; e para completar a ilusão, de todos os lados se viam em Nova Friburgo animais domésticos obedecerem a linguagem ainda europeia dos colonos. O governo, que mandara construir a princípio uma casa para o governador e uma capela, acrescentou, posteriormente, uma caserna e um hospital militar.

Tudo prosperava na colônia, a agricultura se estendia e a criação já podia ser considerada lucrativa; mas a rapidez do êxito revelou a imprevidência do governo, demasiado lento na abertura de estradas. Com efeito, percebeu ele, mas já muito tarde, que a Serra do Mar, situada entre Nova Friburgo e Rio de Janeiro, era uma barreira intransponível e desastrosa para a exportação dos produtos da colônia. Disso resultou que somente os cultivadores profissionais se contentaram provisoriamente em aumentar sua fortuna agrícola; o artífice, ao contrário, desanimado, resolveu atravessar a serra e vir exercer a sua profissão na capital. A partir de então aumentou o número de ferreiros, marceneiros, carpinteiros, sapateiros, etc., cujas mulheres, habituadas aos trabalhos caseiros e de agulha logo encontraram ocupação nas casas francesas e inglesas. Algumas entre as mais velhas foram mesmo logo consideradas excelentes enfermeiras.

É preciso dizer que esses efeitos da civilização foram em parte contrabalançados pelo abuso da bebida, vergonhoso exemplo até então desconhecido entre os artífices livres. E como consequência inevitável dessa desordem, viram-se crianças de famílias alemãs arruinadas pedindo esmola nas ruas do Rio de Janeiro. Entretanto a Arquiduquesa austríaca Leopoldina, então princesa real na Corte do Brasil, madrinha natural da colônia de Nova Friburgo, esvaziou várias vezes seus cofres pessoais para socorrer as viúvas e os órfãos (ver terceiro volume). E assim foi possível organizar várias outras expedições alemãs que chegaram sucessivamente ao Brasil. Mas, instaladas em três pontos do reino, não tiveram elas as mesmas vantagens na distribuição das terras e muitas emigraram para as províncias do sul de temperatura mais fresca e favorável às culturas europeias.

Uma dessas colônias, embora cercada de tribos selvagens, começava a prosperar para além das terras já exploradas. Mas os indígenas hostis, ambicionando os despojos dos europeus, andavam sempre à espreita dos colonos. Até que um dia, verificando que os homens se haviam ausentado para ir vender seus produtos agrícolas numa pequena aldeia, a um dia de distância da colônia, sua audácia se manifestou. Aproveitaram-se da ausência de uma noite para atacar a aldeia e massacrar as mulheres e crianças, carregando consigo todos os instrumentos e utensílios encontrados.

Imagina-se facilmente o desespero dos colonos ao regressarem. Informada do desastre da colônia alemã, toda a população da comarca tomou armas e exterminou as tribos selvagens mais próximas. Depois dessa sangrenta expedição encontrou-se na floresta a maior parte dos objetos roubados.

Esse desastre irreparável, verificado na província de Rio Grande do Sul, deu origem a medidas preventivas do governo, infelizmente tardias, como sempre. Assim protegida por um cordão militar organizado a certa distância das propriedades, a colônia alemã não foi mais perturbada pelas excursões dos índios.

Entre os felizes resultados do progresso da cultura da colônia alemã de S. Leopoldo, historiador e escritor de renome e ex-ministro do interior a importação do lúpulo que já servia para manter uma fábrica de cerveja, bebida até então importada da Inglaterra. E como produto das artes mecânicas, citava-se a execução admirável de todas as obras de madeira de uma capela recém-construída em Porto Alegre pelo visconde de S. Leopoldo, historiador e escritor de renome e ex-ministro do interior na Corte do Brasil.

(92) As terras cedidas a esta colônia alemã eram a de uma antiga fazenda real, cujo material foi transportado para a fazenda de Santa Cruz, outra propriedade real, também imensa, e que pertenceu outrora aos jesuítas. (N. do A.).

Fonte

Imagem destacada

Mapa – O Colégio Anchieta foi fundado por padres e irmãos jesuítas vindos da Itália, no dia 12 de abril de 1886, ele começou a funcionar na casa-grande de uma antiga fazenda do Morro Queimado, chamado de “Château” (castelo, em francês) pelos colonos suíços. (Wikipédia)