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Casamento de Dom Pedro I com Dona Amélia de Leuchtenberg, Segunda Imperatriz do Brasil

Casamento de Dom Pedro I com Dona Amélia de Leuchtenberg, Segunda Imperatriz do Brasil, por Jean Baptiste Debret,
Casamento de Dom Pedro I com Dona Amélia de Leuchtenberg, Segunda Imperatriz do Brasil, por Jean Baptiste Debret, via NYPL

As aspirações de todos no Brasil e o trono enlutado exigiam igualmente uma segunda Imperatriz. Ao mesmo tempo o sentimento paterno inspirava a Dom Pedro o desejo de dar solenemente mãe adotiva à sua jovem família imperial. Infelizmente, certa desordem na conduta do jovem príncipe, dotado de um gênio e de um temperamento fogoso, e viúvo na flor da idade, o haviam, é preciso dizê-lo, desacreditado a tal ponto aos olhos de seus súditos e da Europa inteira, que as primeiras sondagens diplomáticas feitas em vista de um segundo casamento produziram resultados pouco satisfatórios. Entretanto, a feliz estrela de Dom Pedro reservava-lhe num dos principados da Alemanha, uma princesa generosa, oriunda de uma aliança francesa. Foi a filha do príncipe Eugênio de Beauharnais quem se sacrificou para vir substituir no Rio de Janeiro, a 28 de outubro de 1829, a irmã de Maria Luísa, Imperatriz Leopoldina, falecida há vários anos. O entusiasmo geral dos brasileiros não podia deixar de ser compartilhado pelos estrangeiros nos festejos organizados para a chegada da nova Imperatriz Amélia, princesa a quem se ligavam recordações igualmente caras aos franceses e aos alemães. E viu-se então o comércio das diferentes nações europeias contribuir nominalmente para a suntuosidade da cerimônia. Escolheram os franceses a Praça de São Francisco de Paulo, para erguer uma coluna no gênero da de Trajano em Roma, oferecendo o contra-almirante Grivel e seus marinheiros para as circunstâncias; graças a esse ajutório dirigido por nosso arquiteto Pézérat, o monumento foi construído com rapidez e habilidade. Via-se perfeitamente da Rua Direita, na desembocadura da Rua do Ouvidor, o efeito majestoso da iluminação. Uma girândola lançada do alto da coluna assinalou a presença dos soberanos na praça, que foi por eles percorrida de bom grado, examinando SS. MM. os detalhes das quatro faces do envasamento, que se ornavam de enormes baixos-relevos pintados em transparente e cujos emblemas entrelaçavam às iniciais do Imperador nomes ilustres europeus. Uma banda de música da marinha francesa, instalada no pedestal, manteve durante parte da noite a alegria das quadrilhas que se formavam sucessivamente em torno da coluna. Os alemães contribuíram com um arco de triunfo erguido na Rua Direita, perto da entrada da Alfândega, e cujas pinturas eram da autoria do mais talentoso pintor brasileiro. Os ingleses ergueram também um arco de triunfo à entrada do Campo de Sant’Ana, na Rua dos Ciganos. O corpo de engenheiros distinguiu-se no arsenal da marinha. Os oficiais do exército organizaram uma belíssima iluminação na porta do seu arsenal, bem como nas fachadas dos quartéis que dão para o lado do mar. Por seu turno o Senado da câmara do comércio mandou erguer um arco de triunfo de estilo antigo na embocadura da Rua Direita, perto da Capela do Carmo, e cujas belas pinturas foram executadas por um jovem pintor italiano. No Largo do Palácio, do lado do mar, nosso arquiteto Grandjean construiu para os guardas de honra, dois templos, um dedicado ao Amor e outro ao Hímen, arranjados de maneira a se unirem um ao outro. O templo do Amor, colocado na frente, era de forma redonda e aberto; sua bela cúpula era suportada por colunas caneladas, ricamente douradas. Via-se no centro um grupo de duas figuras. O templo de Hímen, ao contrário, era de forma semicircular e colocado no centro de duas elegantes galerias praticáveis, que, pelo seu prolongamento, ocupavam toda a embocadura da praça. Largos degraus constituíam o seu envasamento e serviram à noite de tribuna para os curiosos que se dispuseram a apreciar o espetáculo das danças a caráter executadas pelas diversas corporações que percorreram alegremente as ruas ao som de suas bandas de música. Finalmente, a associação dos vendeiros, contando em seu seio inúmeros capitalistas, embora muitas vezes de tamancos, não fez menores despesas no Largo do Rocio, transformado, para a circunstância, em espaçoso jardim por um engenheiro francês por eles escolhido. Eis a disposição geral desse vasto quadrilátero: oito alamedas praticáveis às carruagens, cortando-o em todos os sentidos, conduziam a um rond-point central. Cada uma delas era ladeada por uma cerca de bambu, de quatro pés de altura, sustentada de quinze em quinze pés por jovens palmeiras. Em obediência a um antigo costume brasileiro, figuraram-se nos quatro ângulos desse jardim improvisado quatro pequenos bastiões armados cada qual de duas peças de artilharia e de um obuseiro, tudo de madeira. No centro do “rond-point” erguia– se um envasamento de nove pés de altura e de forma octogonal, sustentando um templo elegante, redondo e de estilo iônico, cuja linda cúpula era coroada por uma esfera celeste. O interior dessa rotunda aberta comportava uma pirâmide de degraus destinados à orquestra. Pintava-se o friso com emblemas das diferentes províncias do Brasil e a poesia se encarregara das inscrições colocadas com simetria no grande envasamento. A iluminação era de um efeito encantador e os fogos de artifício queimados amiúde aumentavam brilhantemente o efeito das lanternas de cores e lampiões que desenhavam as alamedas. Dando maior vida ao quadro, os intervalos reservados internamente serviram durante a noite, de salas de danças para as famílias dos vendeiros.

Já no correr da tarde, poetas haviam recitado versos dentro do envasamento do templo; ao cair do sol, uma excelente orquestra aí executou um hino nacional cuja letra e música haviam sido compostas para a circunstância.

Em resumo, nesse belo dia, viu-se de todos os lados a expressão variada das homenagens europeias confundir-se com os costumes primitivos dos colonos brasileiros do século XVII, restabelecidos com orgulho por dedicados descendentes.

Nas ruas e nas praças públicas espectadores de todas as nações ajuntavam-se à multidão que se atulhava em torno da elegante carruagem do Imperador, para admirar o nobre porte da nova Imperatriz. Diante dela sentava-se seu irmão, o jovem príncipe Leuchtenberg, ajudante de campo do Rei da Baviera; e diante do Imperador via-se a pequena Dona Maria, sua filha, rainha de Portugal, recém-chegada de Londres, mas ainda reduzida ao simples título de pretendente, em razão da usurpação de seu trono.

Quem haveria de pensar, nesse dia solene, que dezoito meses mais tarde esses grandes personagens, todos três fugitivos, se veriam reduzidos a se sustentar mutuamente na desgraça!

Com efeito, herdeiro de uma dupla coroa, repartida pela força do destino entre sua filha mais velha, que ele fez rainha de Portugal, e seu filho, que colocou no trono do Brasil, Dom Pedro, então simples Duque de Bragança, fugitivo, esposo da princesa de Leuchtenberg, mas ilustre em seus reveses, recolocou no trono em virtude de uma vitória militar Dona Maria II (297), rainha de Portugal, entre cujos braços faleceu pouco depois, ainda na flor da idade.

Nota

  1. Dona Maria I, mãe de Dom João VI, morreu no Rio de Janeiro. (N. do A.).

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