Pão de Açúcar, por Ferreira da Rosa

Pão de Açúcar é um penhasco de granito brunido pelas tempestades, surgindo do mar, colado à península que separa a barra da Enseada de Botafogo. Tem de altura 395 metros. Serve-lhe de contra forte, ao Sul, a Urca, 224 metros acima do nível do mar, e coberta de vegetação.
Até 1817 não ha memória de que alguém houvesse galgado o Pão de Açúcar. Consta que nesse ano foi lá uma corajosa inglesa. Depois, de longe em longe, alguns rapazes afoitos repetiram a temeridade. A rocha é talhada quase a pique. Em 1912 organizou-se uma empresa que estabeleceu o caminho aéreo para o alto, franqueando-o ao público desde Janeiro de 1913.
O carro parte da base da Babilônia, montanha que limita ao Sul o campo onde nos achamos. Prende-se o carro a dois cabos de tração acionados por um motor elétrico e um sistema de polias. Faz o trajeto em duas seções: A primeira de 600 metros termina no dorso da Urca; a segunda, de 800 metros vai da Urca ao cimo do famoso penhasco. O percurso da primeira seção realiza-se em 4 minutos; o da segunda em 6 minutos. É de 14 passageiros a lotação do carro aéreo.
O que se observa do alto do Pão de Açúcar é espetáculo para que não há comparação. O primeiro momento é de êxtase. Ao Norte a vasta baía ladeada pelas cidades de Rio de Janeiro e Niterói; a leste, em frente e em baixo as fortalezas de Santa Cruz e Pico; para Sueste a Praia de Fora, a Bateria Floriano Peixoto, o Forte de Imbuí; e, lá, em baixo, distante, as lagoas Piratininga e Itaipu. O vasto Oceano. As ilhas Pai, Mãe, Cotunduba, Alagadas, Cagarras, Redonda e Rasa com seu farol(162); e, como recortes fundos no litoral que se prolonga do Pão de Açúcar para o Sul, as praias Vermelha, Leme, Copacabana, Ipanema e Leblon. Um panorama extensíssimo, dominado de um só golpe de vista: De dia tudo banhado de Sol, á noite tudo pontilhado de luz.
E só no século XX a população do Rio de Janeiro anexou ao seu patrimônio de delícias este observatório surpreendente! Quantas gerações passaram sem pensar, sequer, neste soberbo mirante, hoje tão acessível que se tornou passeio favorito, quotidiano!
Entre a Avenida Rio Branco e a Praia Vermelha há bondes que fazem o trajeto, normalmente, em 35 minutos.
Nota
- ↑ O Farol da Rasa foi inaugurado em 31 de julho de 1829; dá dois lampejos brancos e um vermelho, de 15 em 15 segundos; o foco luminoso está 96 metros acima da preamar, sobre uma torre quadrangular de alvenaria pintada de branco; alcança 25 milhas em tempo claro. Há na ilha telégrafo sem fio, em correspondência com a Ilha das Cobras.
Fonte
- Rosa, Francisco Ferreira da. Rio de Janeiro em 1922-1924. Rio de Janeiro: Typographia do Annuario do Brasil (Almanak Laemmert), 1924. 222 p. (Coleção Memória do Rio 3 - Reprodução).
Mapa - Bondinho do Pão de Açúcar