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Palácio Episcopal, por Moreira de Azevedo

Antigo Palácio Episcopal no Morro da Conceição
Antigo Palácio Episcopal no Morro da Conceição

Existia em um dos montes desta cidade uma ermida da Conceição, fundada em 1634 por Miguel Carvalho Cardoso ou de Souza, como quer Pizarro, e por sua mulher Maria Dantas[1] que doou-a, por escritura de 6 de junho de 1655, aos frades do Carmo para estabelecerem ali um convento de religiosos recoletos da mesma ordem, com a condição de darem sepultura na capela-mor aos filhos, herdeiros e sucessores dela doadora, e rezarem anualmente cincoenta missas por sua alma e de seu marido.

Em 1637 a câmara suplicara a el-rei que concedesse essa capela e casa anexa para hospital de morféticos, que viviam em comunicação com o povo; não atendeu, porém, o rei a esta requisição; e desprezada pelos frades alguns anos permaneceu a ermida esquecida e isolada.

Palácio do Bispo (Episcopal), por P.G.Bertichem
Palácio do Bispo (Episcopal), por P.G.Bertichem

Não julgando suficientes os frades existentes na cidade, pediu a câmara ao rei a remessa de capuchos franceses, que de feito chegaram ao Rio de Janeiro em 1659, e foram residir na casa contígua á ermida de Maria Dantas. Eram dois os religiosos, mas vieram mais três, e transformaram-se em missionários de índios. A câmara agradeceu a vinda desses padres, que não fixaram-se nesta cidade, porque veio de Portugal uma ordem de Dom Pedro II para retirarem-se do Rio de Janeiro os religiosos estrangeiros; de sorte que entregaram os frades franceses ao cabido em1701 a casa e a ermida do morro da Conceição.

Julgou o Bispo Francisco de São Jerônimo ser o lugar da ermida apropriado para residência episcopal; de feito, aproveitou o que existia, construiu novos aposentos, e, recebendo da fazenda real 8,000 cruzados, edificou o palácio de sua residência.

Já vimos que em 1721, por falecimento do bispo, habitaram aí dois religiosos italianos.

O Bispo Dom José Joaquim Justiniano reformou o palácio episcopal, reconstruiu parte da frente, e parte que olha para a praça da Aclamação e fez acomodações na face posterior.

Seu sucessor substituiu as paredes laterais, que eram de adobe com pilares, por paredes de pedra e cal, e na parte posterior edificou a cozinha separada do palácio.

Subindo-se por uma rua íngreme e mal calçada chega-se ao palácio episcopal, situado no morro da Conceição, tendo a face principal voltada para o mar. É agradável a perspectiva que se descortina deste edifício; avista-se parte da baía, e quase toda a cidade, onde erguem-se os templos, que parecem permanecer submissos aos pés do palácio do bispo.

Sete degraus de pedra dão subida para o átrio, que o Bispo Conde de Irajá, mandou ladrilhar de mármore e cercar com gradil de ferro. Divide-se a frontaria em três corpos; o central com uma porta e duas janelas de peitoril no primeiro pavimento, e três janelas com sacada no segundo; há um frontão reto e no tímpano as insígnias do bispado. Os corpos laterais têm uma porta e três janelas de peitoril no primeiro pavimento, e quatro janelas de sacada no segundo. O bispo, Conde de Irajá, substituiu por grades de ferro as rótulas de madeira das janelas do andar superior.

É um edifício acaçapado, sem arquitetura, nem beleza, e parece mais uma casa particular do que o palácio de um príncipe da igreja.

No primeiro pavimento há uma sala ocupada pela câmara eclesiástica, e outra que dá entrada para a capela. Era outrora a entrada da capela por um arco, que havia na frente do edifício, mas o bispo, Conde de Irajá, mandou demoli-lo, não só por ser de mau aspecto, mas também por que servia de refúgio aos vagabundos. Tem a capela três altares, os laterais com painéis, e o principal com a imagem da Conceição trabalhada em madeira; o Bispo Dom José Caetano deu-lhe maior altura e mandou abrir os óculos das paredes laterais. Dormem aí o sono da eternidade quatro bispos[2].

Há na sacristia um altar com o Senhor dos Passos.

No segundo pavimento do palácio estão do lado esquerdo a sala de espera com os retratos de frei Bartolomeu dos Mártires, dos papas Clemente XIV e Xisto V, e os bustos do Conde de Irajá feito pelo artista brasileiro Quaresma, e dos papas Pio VII e Pio IX; a sala dos retratos com os retratos de todos os bispos da diocese fluminense; a sala do dossel com os retratos de Dom Pedro II e do Conde de Irajá, e um painel de Santa Catharina; os aposentos do bispo, havendo em uma saleta um altar com a imagem da Conceição, onde o diocesano celebra a missa quotidiana. Do lado direito veem-se a sala dos exames com os retratos do pai, mãe e irmão do Conde de Irajá, e a sala da livraria.

No centro do edifício abre-se um pátio quadrangular com uma grande cisterna.

Outrora estendia-se o palácio para o lado esquerdo até a cocheira, havendo inferiormente dois arcos com portas, que interceptavam a passagem para a casa das armas, que há no alto do morro, mas Dom José Caetano mandou demolir essa parte do edifício, e abrir a rua que corre desse lado.

Notas

  1. Veja Santuário Marianno pág. 32, vol. 10.
  2. Em outro capítulo encontrará o leitor a notícia histórica dos prelados administradores e bispos do Rio de Janeiro.

Fonte

  • Azevedo, Manuel Duarte Moreira de. O Rio de Janeiro: Sua História, Monumentos, Homens Notáveis, Usos e Curiosidades. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1877. 2 v. (É a segunda edição do “Pequeno Panorama” 1861-67, 5 v.).

Livro digitalizado

Mapa - Palácio Episcopal no Morro da Conceição