Passeio Público, por Noronha Santos
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PASSEIO PÚBLICO – Com a inauguração do jardim em 1783 – primeiro lugar de recreio para o povo, que se instalou na cidade, tornaram-se frequentes as serenatas e convescotes assaz relembrados nas crônicas dos tempos coloniais e com especial relevo em Gabriela, de Velho da Silva.
Em 1860-61 passou o Passeio por melhoramentos radicais, sob o plano do grande arquiteto paisagista Augusto Francisco Maria Glaziou, modificando- se o aspecto do terraço que fora acrescido em 1817. Fechado na frente e nas faces laterais por um muro, tinha, de espaço a espaço, janelinhas encimadas por vasos de alvenaria, e em baixo, na parte interna, assentos para os visitantes. O muro da frente desapareceu em 1895 e foi substituído por alteroso gradil, recuado da rua para facilitar o alargamento da Rua do Passeio. Os emblemas do portão, suprimidos após a proclamação da República, foram restaurados. Ao fundo deste cenário ficava o terraço – amplo e elegante, com dois torreões quadrangulares e com as estátuas de Apolo e Mercúrio, devidas a Mestre Valentim e os delicados trabalhos de conchas, penas e escamas de Xavier das Conchas (Francisco dos Santos Xavier), descritos por Joaquim Manuel de Macedo – (Um Passeio pela Cidade do Rio de Janeiro).
O viajante inglês Barrow, que visitou o Rio de Janeiro em 1792, fez entusiástica referência ao novo parque sul-americano – extasiando-se ante a beleza das alamedas e canteiros e, sobretudo, pelo encanto romanesco do terraço à beira-mar. Em 1844, a portaria do ministro do Império, conselheiro José Carlos Pereira de Almeida Torres, de 3 de outubro, permitiu que o confeiteiro Antônio Francioni vendesse sorvetes e refrescos no interior do Passeio Público e, depois de 1870, na administração de Francisco Pedro Fialho, que muito auxiliou o arquiteto Glaziou, instalou-se no terraço um bar volante, consentindo-se que nesse lugar tocasse todas as noites a célebre banda de alemães e se vendesse a cerveja da fábrica da Guarda Velha, que não excedia do preço de 400 réis a garrafa.
Escragnolle Dória – sempre tão minucioso e erudito em suas informações históricas, descreve-nos o Passeio Público antigo e o seu terraço (Jornal do Comércio – 15 de janeiro de 1915 e Revista da Semana – 29 de julho de 1922).
Em 1896 construiu-se no centro do jardim uma fonte com lâmpadas elétricas – a primeira dessa espécie que se levantou no Rio de Janeiro. Na administração municipal de Pereira Passos inaugurou-se o aquário de água salgada – o primeiro instalado na América do Sul.
Em junho de 1906 iniciou-se a demolição da balaustrada do antigo terraço, confrontante à Avenida Beira-Mar, aberta pouco antes. Na administração Carlos Sampaio, em 1922, retiraram os gradis que cercavam a frente e as faces laterais do Passeio Público – transformando-o em jardim aberto.
Fonte
- Anotação de Noronha Santos na introdução do livro Memórias para Servir à História do Reino do Brasil
Veja também
- Passeio Público, por Ferreira da Rosa
- Passeio Público, por John Luccock
- Passeio Público, por Magalhães Corrêa
Mapa - Passeio Público