Campo de Santana, por Noronha Santos

CAMPO DE SANT’ANA – A história desse logradouro é tão interessante e está repleta de tantas reminiscências do velho Rio de Janeiro, que seria impossível sintetizá-las nestas anotações. Extraídas do nosso fichário toponímico e analítico acerca de coisas da cidade, damos, contudo, ligeiras informações de seu passado. Os belos edifícios que se ostentam nas quatro faces, o da Municipalidade (inaugurado a 2 de dezembro de 1882 e ampliado em diferentes anos), o do Ministério da Guerra (inaugurado em setembro de 1941), o da Casa da Moeda, a estação central da Estrada de Ferro-Central do Brasil, a Assistência Pública, o antigo Senado Federal, o Corpo de Bombeiros e o Arquivo Nacional (antigo Museu Nacional), mereceriam, sem dúvida, desenvolvido histórico, que a natureza destas anotações não permitem.
O jardim da atual Praça da República, o mais amplo da América do Sul, evoca uma série de fatos ligados indissoluvelmente à história pormenorizada da cidade.
Quase todos os cronistas do Rio de Janeiro tratam desse campo e do formoso parque e o descrevem com minucias. Moreira de Azevedo, Felix Ferreira, Moreira Pinto, Vieira Fazenda, Max Fleiuss, Ferreira da Rosa, Ernesto Sena, Escragnole Dória, Luiz Edmundo, Magalhães Corrêa, Restier Gonçalves, Roberto Macedo, Garcia Junior, Mario Freire e muitos outros historiadores e cronistas inserem em seus trabalhos excelentes notas que reconstituem o passado esplendoroso do vasto logradouro, sobrelevando as preciosas informações de Moreira de Azevedo (no O Rio de Janeiro), Ferreira da Rosa (Rio de Janeiro em 1922) e Garcia Junior (revista Sul América – n. 74 – pág. 17).
Com a inauguração da Capela de Sant’Ana no campo da cidade(1), continuação do de São Domingos, passou a ser conhecido por Sant’Ana em 1735. Na governança do Conde de Resende (1790-1801) começou a ser feito o aterro do campo, no fim do século XVIII, à custa do povo e do trabalho do escravo.
Nas faces do campo, levantaram-se casas separadas por cercas e muros de jardins e quintais. (Pequeno Panorama – Moreira de Azevedo).
Um dos opulentos proprietários que ali se estabeleceram, o sargento-mor Anacleto Elias da Fonseca, vendeu em 1818 a amigos do último vice-rei, Conde dos Arcos, a casa que construíra no campo, esquina do Caminho das Boas Pernas. Ladeava o imóvel uma grande chácara que se limitava até o lugar onde se abriu a Rua das Flores (General Caldwell).
No local da casa de Anacleto, levantou-se em 1819 um palacete, onde residiu D. Marcos de Noronha e Brito (Conde dos Arcos). A 25 de outubro de 1824 adquiriu o governo do Império o palacete, adaptando-o à sede do Senado.
Por aviso do Ministério do Império, de 12 de dezembro de 1822, denominou-se – Praça da Aclamação. Em 1831, após o sete de abril, chamaram-no Campo da Honra. Alguns patriotas não aceitaram a denominação como precisa para recordar o cenário principal da revolução. Serenados os ânimos, poucos meses depois voltou a chamar-se Aclamação.
A canção da rua não perdeu o ensejo para glosar o incidente. Por uma das manhãs de agosto do ano da Abrilada, apareceu no palacete uma quadra satírica que muito dizia da impertinência dos crismadores de ruas e praças.
Por determinação do Governo Provisório, de 1889, teve a antiga Praça da Aclamação, em janeiro de 1890, o nome de Praça da República, confirmado por ato da Intendência Municipal, de 28 de janeiro de 1892 e edital de 30 de abril do mesmo ano.
A face dessa praça que deita para os edifícios do Ministério da Guerra e da Estrada de Ferro Central do Brasil, foi aformoseada na administração do prefeito Antônio Prado Junior, em 1928.
Nota do editor
- ↑ Chamava-se Campo da Cidade toda a vasta superfície compreendida entre o antigo fosso (Rua da Vala) e os mangues de São Diogo (hoje Cidade Nova). Ainda em 1711 toda esta imensa área era assim designada nas memórias que relatam a tomada da Cidade pelos franceses, apesar de se achar já por esse tempo retalhada e edificada em muitos lugares por diferentes chácaras. (Haddock Lobo, Tombo das Terras Municipais, pág. 10, 1863)
Fonte
- Anotação de Noronha Santos na introdução do livro Memórias para Servir à História do Reino do Brasil
Mapa - Praça da República/Campo de Santana