Quinta da Boa Vista, por John Luccock


Além, fica o “Quintal” da Boa Vista, residência do soberano brasileiro. O edifício fica um pouco para fora da estrada, sobre graciosa elevação; é acanhado e pretensioso, mal construído e pessimamente mobiliado. Dispõe, todavia, de um grande conforto, pois que de três lados possui “varandas” ou colunatas, com janelas envidraçadas, que tanto podem ser fechadas, como manter-se abertas; e assim, consegue-se calor, luz e arejamento. Um particular negociante estava a construí-lo quando chegou o soberano; achando-se este quase sem teto, ofertou-lhe aquele galantemente o seu. À frente dele, acha-se um portão que a Sua Alteza Real enviou o Duque de Northumberland, cópia exata do que dá acesso à “Syon House”, mas que aqui constitui um singular espécime de incongruência.[1] Tem-se, dessa real residência, uma vista bela, embora remota, da baía, da cidade, das montanhas que lhe ficam ao norte e da Gamboa; bem defronte, fica a planície encantadora de Mata-Porcos, com cerca de sete milhas quadradas de extensão. Os jardins ocupam quase um terço da planície, ali florescendo, com beleza e abundância, a laranja, o café, a banana, a mimosa e grande variedade de flores. Preferível que nada se diga do bom gosto desses jardins; devemos, contudo, lembrar-nos de que há poucos anos atrás, tudo ali eram pântanos e matas. Embora grandiosa a vista que se desfruta do palácio, sobrepuja-a aquela que se descortina de um outeiro a cerca de meia milha dali, donde se avista talvez algumas das cenas mais belas e variegadas que jamais se antepuseram aos olhos do homem.
Nota do editor
- A Família Real Portuguesa vivia no Paço Imperial desde a sua chegada ao Rio de Janeiro em 1808. Para melhor acomodar a família real, em 1819 D. João VI mandou reformar a casa senhorial da Quinta da Boa Vista, transformando-a num palácio real . A reforma foi dirigida pelo arquiteto inglês John Johnston e foi concluída em 1821. Na frente do palácio, Johnston instalou um pórtico decorativo, um presente enviado da Inglaterra para o Brasil por Hugh Percy, 2º Duque de Northumberland. (Wikipédia)
Fonte
- Luccock, John. Notas sobre o Rio de Janeiro e partes meridionais do Brasil: Tomadas durante uma estada de dez anos neste país, de 1808 a 1818. Tradução de Milton da Silva Rodrigues. São Paulo: Livraria Martins, 1942. 435 p. (Biblioteca Histórica Brasileira, direção de Rubens Borba de Morais, 10).
Mapa - Quinta da Boa Vista