Jardim Botânico, por Ferreira da Rosa

Chega-se ao Jardim Botânico logo depois de ter deixado à esquerda a Lagoa Rodrigo de Freitas. A viagem até lá, de bonde, pode consumir 50 minutos; de automóvel uns 20 a 25.
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É o mais conhecido estabelecimento público brasileiro. Ninguém visita esta Capital que não queira ver o Jardim Botânico. A luxuriante beleza dos vegetais nele cultivados é realçada pela formosa aleia de palmeiras, oferecendo desde o portão uma perspectiva admirável, e universalmente conhecida pela sua reprodução gráfica. São 134 palmeiras (Areca, de Linneu; Oreodoxa oleracea, de Martius), enfileiradas, duas a duas ao longo de uma avenida de 740 metros. E de nobre linhagem: São todas filhas da veneranda Palma Mater[1] que lá está, ainda, no mesmo lugar em que a plantou D. João VI, em 1809, quando lh’a trouxeram – exemplar único – do Jardim Gabrielle, Ilha de França.
A Palma Mater tem mais de 36 metros de altura. Celebrou-lhe condignamente o Centenário, em 1909, o então diretor, hoje falecido, Dr. Barbosa Rodrigues, inaugurando defronte dela o busto do seu real plantador.
O Jardim Botânico pode-se dizer fundado em 13 de Junho de 1808, com o nome de Real Horto, anexo à Fabrica de Pólvora, instalada, então, onde fora o “Engenho da Lagoa”; somente em 11 de Maio de 1819 se tornou público sob a designação de Real Jardim Botânico e, então, anexado ao Museu Nacional. Em 1822 constitui-se Repartição independente ; hoje é subordinado ao Ministério da Agricultura e Comércio.
Teve como seu primeiro Diretor, no Império, o Carmelita Fr. Leandro do Sacramento, já Professor de Botânica na Escola Anatômica Cirúrgica e Médica, depois membro das Academias de Ciências de Munique e de Londres, e da Real Sociedade de Agricultura de Gand. Pela sua aptidão e pela sua capacidade de trabalho, este monge ilustre dotou o Jardim de melhoramentos ainda apreciáveis, organizou o catálogo das plantas então cultivadas, escreveu uma monografia das Euforbiáceas, e outras que foram publicadas em revistas alemãs.
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A ele se devem as aleias majestosas de mangueiras, nogueiras, jaqueiras, longanas, cravos da Índia; e as cercas de murta, de cróton, de hibisco que ainda hoje fazem o encanto dos visitantes do Jardim; são obra sua a Cascata, o Lago onde floresce a Vitória Régia; e, onde ele fez a original “Casa dos Cedros”, ergueu-lhe, em 1893, o Dr. Barbosa Rodrigues, o monumento comemorativo da sua existência útil.
São, realmente, muito agradáveis as horas empregadas em percorrer este grande horto cruzado por cinco ruas, treze aleias, sete vielas, quatro passagens e uma azinhaga, com a extensão total de 6.500 metros lineares. A Ciência neste jardim entrelaça-se com o pitoresco. A flora de quase todos os países nele está representada por belos exemplares atentamente cultivados e classificados. Tem Biblioteca, Herbário e Museu.
Centenário sem decrepitude, velho de uma mocidade constante, seminário opulento, em correspondência com quase todos os jardins do mundo, e um vasto cenário de amor, casando-se a beleza das perspectivas com a beleza dos produtos gerados ao cicio da brisa por entre a folhagem, e no seio balsâmico de aromas sutis.
É seu diretor atual o ilustre Professor Dr. Pacheco Leão.
Nota do editor
- ↑ Palma Filia: Palmeira Imperial Roystonea oleracea (Jacq.) O. F. Cook (Palmae) Originária da região do Caribe. Plantada em substituição a Palma Mater, fulminada por um raio em 1972, a Palma Filia é oriunda de uma semente da palmeira original.
Fonte
- Rosa, Francisco Ferreira da. Rio de Janeiro em 1922-1924. Rio de Janeiro: Typographia do Annuario do Brasil (Almanak Laemmert), 1924. 222 p. (Coleção Memória do Rio 3 - Reprodução).
Veja também
Mapa - Jardim Botânico do Rio de Janeiro