Monumento ao Barão de Escragnolle, por Diário de Notícias
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O Marquês d’Escragnolle, por direito hereditário em França, e barão por título nosso, era natural desta capital (Rio de Janeiro), onde nasceu no dia 19 de julho de 1821. Revelando gosto decidido pela carreira das armas, entrou para o Exército no ano de 1837, alistando-se num Batalhão de Caçadores. Estudou na Academia Militar, onde fez um brilhante curso. Segundo tenente em 1839, foi promovido a primeiro tenente em 1842, a capitão em 1847 e a major em 1852. Fez uma carreira brilhante, razão pela qual, ainda bem jovem, obteve a honra de ser ajudante de ordens de Caxias, que tão escrupuloso se mostrava na escolha de seus auxiliares diretos, e com ele serviu nas campanhas pacificadoras do Maranhão, de São Paulo e de Minas. De tal modo se houve o oficial Gastão d’Escragnolle, ao serviço da Pátria, que mereceu ser elogiado por Caxias, pelas ações de valor que desenvolveu com êxito no combate de Santa Luzia. Quando Caxias foi chamado a terminar no Rio Grande do Sul a guerra dos Farrapos, foi ainda Gastão d’Escragnolle seu ajudante de ordens. Infelizmente, precoce surdez veio cortar-lhe tão promissora carreira, tendo que afastar-se do Exército no posto de tenente-coronel, justamente quando se iniciava a campanha do Paraguai, onde certamente brilhantes êxitos iria conquistar, participando das glórias de seu grande chefe. Seguiu ele para a cidade serrana de Teresópolis, onde adquiriu um sítio a que deu o nome de São Luis, e aí permaneceu até meados de 1874, entregando-se ao cultivo de flores e frutos. Tornou-se a excelência dos seus produtos tão apreciada, que a vivenda do coronel Gastão d’Escragnolle foi citada em obras de ilustres viajantes estrangeiros, como aconteceu em relação ao naturalista suíço Agassiz.

No ano de 1874, o então ministro da Agricultura, conselheiro Costa Pereira, nomeou-o Administrador da Floresta da Tijuca, cargo que passou a exercer com o maior gosto e interesse, sendo aquela mata a sua preocupação de todos os momentos. Não limitando a sua ação a conservá-la, queria dotá-la de encantos outros, ainda não existentes. Para isto, à frente de feitores e trabalhadores, durante dias e, às vezes, noites, percorria a mata, providenciando e abrindo novos caminhos. Desvendou o Excelsior, dispôs a gruta Paulo e Virgínia, batizou a Vista do Almirante. Por seus serviços foi agraciado com o título de barão, em 1880. Além da Floresta, sempre tomou conta, espontaneamente, com o mesmo carinho, da Estrada Nova da Tijuca.
Seu falecimento ocorreu nesta capital, no ano de 1888, tendo concorrido para apressá-lo o fato de haver tomado parte, juntamente com os bombeiros, auxiliando-os eficazmente, na extinção de um incêndio que se manifestara num trecho da Floresta. Sacrificou, desse modo, a saúde já abalada, demonstrando, com essa atitude, o seu profundo apego à Floresta e dedicação ao cargo que lhe fora confiado pelo Poder Público.
Em homenagem à memória do barão d’Escragnolle, o presidente Washington Luís mandou erigir o monumento que se ergue no caminho da Floresta, no lugar denominado Casa Nova[1], cerca de quatro quilômetros além da Cascatinha.
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Nenhum ato assinalou a inauguração desse monumento, cuja construção ficou concluída em 1928.
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O monumento é, no todo, semelhante ao do Visconde de Taunay, erigido na Cascatinha.
Sobre um pequeno pedestal de granito da Tijuca, ergue-se uma rotunda com as faces construídas de azulejo branco e cantos também de granito, sendo as gravuras e inscrições em cor azul. Mede 2 metros e 50 centímetros de altura. Na face que dá para a Estrada encontra-se o retrato em busto, gravado no azulejo, do barão d’Escragnolle, com a seguinte inscrição: “Barão d’Escragnolle – 1821-1888”. Noutra face da rotunda, em letras azuis, também sobre azulejo branco, está gravado o seguinte: “Oficial superior do Exército Nacional, soldado das campanhas pacificadoras do Maranhão (1840), de São Paulo e Minas Gerais (1842), do Rio Grande do Sul (1843), e do Uruguai (1851). Nascido no Rio de Janeiro a 16 de abril de 1821 e aí falecido a 20 de junho de 1888”. Há ainda outra inscrição danificada: o nome do presidente Washington Luiz, que mandara erigir o monumento, foi destruído por um grupo de revolucionários exaltados. Eis a inscrição: “Para que se rememorem tais serviços, determinou esta oblação de justiça e reconhecimento à memória de tão prestante brasileiro o exmo. sr…………. presidente da República dos Estados Unidos do Brasil – Agosto de 1928”.
Nota do Editor
- ↑ Atualmente restaurante Os Esquilos.
Fonte
- Publicado na edição de 25 de Junho de 1944 do jornal Diário de Notícias.
Mapa - Monumento ao Barão de Escragnolle