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Rua da Ajuda, por Revista do Arquivo do Distrito Federal

Rua da Ajuda na planta da Cidade do Rio de Janeiro. Acervo digital da Biblioteca Nacional.
Rua da Ajuda na planta da Cidade do Rio de Janeiro. Acervo digital da Biblioteca Nacional.

Nomenclatura Histórica dos Logradouros Públicos do Rio de Janeiro

A comissão incumbida da elaboração deste valioso trabalho, organizou um fichário, que está sendo dia a dia acrescido com interessantes anotações, através de pacientes e demoradas pesquisas procedidas na documentação do Arquivo, obedecendo com referência a cada logradouro público ao seguinte critério:

I — Denominação atual
II — Localização (começo e término)
III — Distrito municipal atual
IV — Legislação (Decreto da última denominação)
V — História da abertura
VI — Calçamentos e outros melhoramentos
VII — Parcelamento predial (revisão de numeração) e últimos dados coligidos da Numeração de Prédios, de Curvelo Cavalcante e de outras fontes
VIII — Fatos históricos relacionados com o logradouro – Principais moradores.

Além destes elementos informativos, administrativos e históricos, do extenso repositório organizado pela comissão constam outros subsídios acerca das mais antigas vias públicas do velho Rio de Janeiro.

Nestas condições, extraímos do fichário a desenvolvida notícia concernente à Rua da Ajuda – uma das mais antigas e que foi quase totalmente absorvida com o cordeamento da Avenida Central, atualmente denominada Rio Branco. Trasladamos para esta publicação o seu interessantíssimo histórico, que alcança mais de três séculos da evolução da Cidade do Rio de Janeiro.

AJUDA (Rua da) – Centro comercial

Antiquíssimo logradouro, absorvido quase totalmente pelo traçado da Avenida Central, dele resta apenas pequeno trecho denominado – Rua Chile [1], entre a Rua São José e aquela Avenida.

Na história documentada do Rio de Janeiro, através de três séculos, revivem da Rua da Ajuda episódios, fatos, memórias e notícias de personagens ilustres, que demarcaram costumes e tradições da Colônia, do Império e dos primeiros anos da República.

Antes de 1600, no caminho que vai para a Lagoa Grande ou do Boqueirão, levantou-se a Ermida de Nossa Senhoa da Conceição da Ajuda – o que bem comprova a ancianidade da via pública aberta pelos primeiros povoadores da cidade.

Caminho de Nossa Senhora da Ajuda, foi a primeira nominação vulgarizada pela correição do Ouvidor Luiz Nogueira de Brito, de 20 de fevereiro de 1630 – provendo sobre consertos necessários na via pública «por ser serventia do asseio da cidade e achar-se muito danificada.»

Em sua História da Cidade do Rio de Janeiro, ao tratar Felisbelo Freire da urbs do século XVII, segundo documentos por ele consultados em cartórios dos primeiros tabeliães, reafirma, por vezes, a antiguidade do logradouro cordeado da Rua de São José em direção ao Campo da Ajuda.

«A Rua da Ajuda é quase tão antiga como as de São José e da Assembleia. Já encontramos escrituras de venda de terrenos e prédios desde 1612. Sua abertura explica-se pela comunicação, ao lado do Morro do Castelo e da Rua São José, com a Ermida da Ajuda – onde está o Convento da Ajuda, demolido há poucos meses para construção de um grande hotel» – escrevia Felisbelo Freire em 1912.

Palácio Monroe, via
Palácio Monroe, via The European Library

Daí a razão de desembocar na Rua de São José – cuja comunicação com aquele convento pela Rua Treze de Maio era então impossível, através da Lagoa de Santo Antônio, que se estendia pelo Largo da Carioca e parte daquela rua. As construções começaram no trecho junto a São José, em direção ao que então se chamava Campo da Ajuda, onde está hoje o Palácio Monroe [2].

Em grande extensão desse logradouro, no seu trecho final, existiram chácaras que vieram até o século XVIII. É assim, por exemplo, que em 3 de fevereiro de 1749, o padre João de Araújo Macedo, como procurador do bispo D. Antônio de Guadalupe, comprou a Manuel Pereira da Silva uma chácara em terras próprias, junto à igreja de Nossa Senhora da Ajuda – para a banda da Fortaleza de São Januário, que partem de um lado com terras do convento e de outro com a chácara que foi do capitão João de Caminha, fazendo testada com a rua que vai sair no campo de Nossa Senhora da Ajuda, correndo os fundos a entestar com a Fortaleza de São Januário (Obra cit. 1º voI. – págs. 321 e 322).

Acrescenta Felisbelo Freire, nos Anais do Brasil (N. 2 – 1902) que, do local onde se erguia a Capela da Ajuda, partia um trilho em direção ao Morro de Santa Tereza, abeirando a porção da Lagoa de Santo Antônio, em parte aterrada no ano de 1661.

«Seguindo as sinuosidades do Morro do Castelo, sentia-se o caminho do Boqueirão tranquilo pelo patrocínio que lhe davam, à antiga Fortaleza de São Sebastião e o Forte de São Januário, antes armazém de pólvora, edificado pelo capitão Francisco Dias da Cruz… » (Vieira Fazenda – Antiqualhas e Memórias do Rio de Janeiro: tomo 93 da Rev. Inst. Hist. – pág. 427).

Documentos seiscentistas esclarecem-nos que, da margem daquela lagoa, começada a aterrar em 1661, seguia um caminho a que denominavam – da Bica e mais tarde do Desterro – que contornava o pântano e ia terminar na Lagoa da Sentinela. Outra vereda, principiando na Rua da Ajuda, tomava rumo da Lagoa do Boqueirão. Bifurcava-se com estreita estrada que, dividindo terrenos das marinhas (inclusive os da Praia das Areias de Espanha ou da Lapa), finalizava na Praia de Botafogo, na qual existiam picadas, que se estenderam até São Clemente e, posteriormente, à Gávea.

Os estudos de Torquato Tapajós, Martins Costa, Azevedo Pimentel e Paula Freitas, atinentes à higiene pública e ao saneamento da cidade, evocam muitos desses traços de conquista dos pantanais e valados. Os valiosos trabalhos do professor Everardo Backheuser e do engenheiro Costa Ferreira – estes relativamente ao parcelamento territorial e às sesmarias primitivas, e aqueles acerca da geologia do terreno e do regime das águas, reconstituem o aspecto topográfico desse trecho da cidade.

Vivaldo Coaracy, em crônicas publicadas no «Diário de Notícias» de 15 e 26 de janeiro de 1939, tratando da antiga denominação de Rua de Nossa Senhora da Ajuda, acentua o valor das ermidas e dos santuários do Rio de Janeiro, na expansão urbana (Ruas antigas e ermidas primitivas).

Abrindo os devotos deste ou daquele santo caminhos para suas toscas e humildes capelinhas, aliavam ao culto religioso as primeiras necessidades do trato comercial.

Iniciou-se a edificação, tão somente do lado fronteiro ao desaparecido Morro do Castelo – porquanto junto à colina histórica existiam terrenos agricultados, cultivando-se neles a cana de açúcar, mandioca e árvores frutíferas.

Mesmo do lado oposto, a edificação era escassa, devido à lagoa que servira a um curtidor de couros, para lavagem de seu pelame e lhe fora aforada em 1585.

Inocêncio da Rocha Maciel, no «Tombamento das terras da cidade» – diz-nos que, do local onde se cordeou a Rua do Propósito até o Largo da Mãe do Bispo (trecho mais largo da antiga Rua da Ajuda), abrangendo a Rua da Guarda Velha (Treze de Maio), havia um pântano, ainda em princípios do século XVIII – remanescente da lagoa aforada em 1585.

No trecho final do Caminho de Nossa Senhora da Ajuda – o chamado Campo da Ajuda – não se permitira nenhuma construção, nem se concedera cartas de aforamento – como se verifica do auto de vereança de 6 de maio de 1600 e das correições dos Ouvidores Damião de Aguiar (17 de agosto de 1645) e André da Costa Moreira (3 de agosto de 1672). Determinara a vereança de 1600 que, no campo de Nossa Senhora da Ajuda, considerado rossio nem por uma parte, nem por outra, se façam casas nem valados, nem cercas, por que é rossio do concelho e os oficiais futuros não poderão dar licença ao contrário disso.

Já em 1671, se haviam localizado em trecho da rua da igreja de Nossa Senhora do Parto à de Nossa Senhora da Ajuda, muitas tavernas, que se constituíram em esconderijos de roubos e valhacoutos de escravos fugidos. Para reprimir a roubalheira, o auto de correição do Ouvidor João de Abreu e Silva, de 30 de abril daquele ano, determinara, a pedido do procurador do concelho, que não houvesse mais no Caminho de Nossa Senhora da Ajuda taverna e venda alguma – sob pena de pagar o infrator 50 cruzados, sendo metade para as rendas municipais e outra metade para o denunciante, além de degredo, dando-se culpa aos oficiais que consentissem ou protegessem tais infrações. No século XVIII, vendeiros e padeiros voltaram a estabelecer seus penates na rua, vivendo em constantes turras com os almotacés e rendeiros do ver.

Desde maio de 1750, com a inauguração do convento das freiras, o caminho passou a chamar-se Rua da Ajuda. Da Rua de São José até o trecho mais tarde denominado – Largo da Mãe do Bispo, era bem estreito o logradouro, dificultando o trânsito um pântano formado pela lagoa e donde se derivava a vala-mestra em direção à Prainha por cuja conservação muito se interessava a Municipalidade. O auto de correição do Ouvidor geral e corregedor da comarca Dr. Agostinho Pacheco Teles, de 30 de dezembro de 1735, num de seus parágrafos, determinara que, convindo muito a saúde desta cidade, que a vala que nela se fez da Lagoa da Ajuda para a Prainha, esteja sempre desimpedida, para correrem por ela livremente as águas, nenhuma pessoa de qualquer qualidade e condição, lançasse, nem mandasse lançar entulho, lixo, varreduras e imundícies e outras cousas que pudessem embaraçar o curso das águas. Os infratores seriam condenados: sendo escravos, com açoites e dois meses de galés e, sendo livre, pagaria a multa de 20$ para o concelho e para o denunciante.

Ainda com referência às águas que corriam para a vala, obstruída frequentemente, de forma a ocasionar inundações de terrenos marginais, como sucedeu em 1731 – escreveram os vereadores ao guardião do Convento de Santo Antônio, a 9 de maio daquele ano, acusando-o de transgredir as posturas municipais e impedir a correnteza das águas – devendo por esse motivo ser interceptado não só o caminho particular para a passagem de carros, como o portão que fora construído pelos frades. (Arquivo do Distrito Federal – vol. 39 – pág. 12).

Em 1817 alargou-se o trecho entre as ruas São José e Santo Antônio.

Prolongada a Rua da Ajuda até o mar, por deliberação da Câmara Municipal de 9 de maio de 1832, intensificou-se, desde logo, a edificação no novo trecho arruado, com a retificação do alinhamento primitivo do Campo da Ajuda, em frente ao mar.

Do chamado Largo da Mãe do Bispo em diante, avultaram prédios de sobrado e os terrenos baldios tiveram maior procura para as construções. Certo munícipe, descontente por esses melhoramentos, saiu-se de seus cuidados e protestou contra o ato da Câmara Municipal em prolongar a rua até o mar.

«O largo da Ajuda desapareceu – escrevia no Jornal do Comércio, em março de 1837, um de seus atentos leitores – e está hoje coberto de edifícios, quando convinha torná-lo numa praça, não só por ficar em frente da barra, como porque ali entrava a viração, que nos dias calmosos é um grande refrigério.»

Desde a queda de Napoleão, em 1814, vieram morar na Rua da Ajuda (a Rua d’Ajoude) emigrados franceses – comerciantes e profissionais de artes liberais, que tão sensível influência exerceram sobre a vida nacional, em todos os setores da inteligência e do trabalho.

Debret – o grande artista da Missão Francesa, em sua Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, referindo-se às construções do lado do mar e ao correr de casas encostadas ao Morro do Castelo – enaltece o trabalho de expansão que se estava a executar na bela Rua da Ajuda.

O historiador das terras aforadas à Municipalidade, Inocêncio da Rocha Maciel, menciona em seu trabalho os nomes dos antigos proprietários que obtiveram cartas de aforamento, desde a governança do Senado da Câmara. Restier Gonçalves, ampliando as anotações de Rocha Maciel, oferece-nos fartos subsídios em Índices e Extratos de Aforamentos do Arquivo Municipal. No número dos foreiros, estava em 1835, o administrador da casa imperial, Plácido Antônio Pereira de Abreu, que ocupava um terreno em litígio, próximo ao mar e cuja posse dependia de decisão do poder judiciário. Esse terreno fora concedido, ainda no governo de D. João VI, ao alemão Martinho Perestebille, para nele edificar um laboratório de pesquisas científicas. escola e hospital veterinários. PerestebilIe era devedor de 4 contos de réis a Plácido de Abreu, dinheiro emprestado por solicitação da imperatriz Dona Leopoldina, interessada na realização daquele empreendimento. Falecendo o devedor, obteve, em 1824, o administrador da casa imperial sentença favorável para efetivação do pagamento. No mesmo ano, recorreu ao imperador D. Pedro I para ser anulado o aforamento concedido àquele alemão.

Por decreto imperial de 13 de maio de 1824, foi concedido a Plácido de Abreu permissão para construir no aludido terreno.

Outro empregado da casa imperial, de nome José Fernandes Adrião, que trabalhava no Paço de São Cristóvão, obtivera em 1808 aforamento de um terreno, onde levantou um prédio, ao lado do matadouro de Santa Luzia.

Em 1818, Maria José de Mendonça Figueira de Azevedo, por sentença cível de libelo contra a abadessa do Convento da Ajuda, Madre Elisa Maria da Cruz, tomou posse tranquila de um terreno da Ajuda. Resolveu o acórdão do Tribunal da Relação, de 12 de dezembro daquele ano, ser legítima e provada a posse desse terreno, que fora comprado a Ana Joaquina de Jesus, junto ao convento da Ajuda.

De documentos do Arquivo Municipal, referentes a arruações, compra, venda e aluguéis de prédios, citemos os nomes de antigos proprietários da Rua da Ajuda:

1716 – Antônio Martins Meira comprou a João da Silva Guimarães parte da chácara da Ajuda, por 47$ e em março desse ano, requereu ao Senado da Câmara arruação, despachando o vereador capitão Manuel de Azedias.

1788 – Antônio da Silveira Lacerda – Construção de casas de sobrado.

1792 – Manuel Martins da Costa Passos – Arruação de 44 palmos de testada, em 6 de setembro, para construir casa ao lado da do capitão André Alves.

1799 – José Joaquim Pina, cirurgião-mor, e Dr. Silvestre de Carvalho – reedificação de casa.

1805 – José Vieira Leão – Casas compradas a Antônio Pereira de Lima Velasco; Alexandre José Gonçalves Chaves – Casas de sobrado com quatro janelas de frente, contígua às moradas do sargento-mor Gabriel Garcia e Agostinho Moreira. Alexandre Gonçalves intentou ação contra o Senado da Câmara e pediu indenização da quantia de 150$, de umas rótulas que colocara naquele prédio, embora estivesse devidamente licenciado.

1808 – Anacleto Elias da Fonseca, capitão-mor do corpo de ordenanças – Consertos de casas.

1809 – Paulo Pinto M. Brito – 18 de outubro – Arruação para edificar.

1814 – Luiz Joaquim Duque Estrada Furtado de Mendonça – Desembargador e Juiz de Fora – Morada de casas de sobrado, compradas por 8:000$, a 21 de março, ao capitão-mor João Francisco de Paula da Fonseca e sua mulher (Escritura do tabelião José Pires Garcia).

1816 – Manuel Bernardo Pereira da Veiga – Compra de casas às religiosas da Ajuda – 12 de fevereiro – pela quantia de 6:600$.

1821 – Padre Penteado – um sobrado, esquina do Beco Manuel de Carvalho.

1822 – Domingos de Sousa Coelho Caldas – Brigadeiro – Consertos de casas.

1823 – José Joaquim da Silva – Casas compradas aos herdeiros de Roberto Caetano.

1828 – João da Costa Passos – Moradas de casas avaliadas por 1:600$000 e 2:400$000, que lhe couberam em inventário dos bens de Antônio da Costa Passos.

1860 – A requerimento de Teodoro Taunay, cônsul da França, foi vendido nesse ano, por 5:000$, o prédio térreo pertencente aos herdeiros de Antônio Collin.

Calçamentos

A vereança de 21 de julho de 1824 mandou reparar o calçamento, que se limitava a pequeno trecho, tendo a portaria do ministro do Império, conselheiro Clemente Ferreira França, de 4 de junho, aceito o orçamento para as obras. Em 1834, novos consertos foram feitos, pagando-se a diária de 640 réis a um mestre, 480 a um feitor e 320 réis aos serventes calceteiros.

A 8 de fevereiro de 1841 lavrou-se termo de contrato para o novo calçamento a alvenaria. De 1846 a 1849 prosseguiram as obras de pavimentação a cargo de José da Costa Lima e Manuel Paim Pamplona.

Iniciou-se o calçamento a paralelepípedos em 1860, aceitando-se a proposta do empreiteiro Tomaz Xavier Ferreira de Meneses, que executou a obra num pequeno trecho. Em 1862 suscitou-se uma questão administrativa em torno de consertos e da conservação do calçamento a cargo de Rivière e Bonini, que haviam contratado tais serviços com o Ministério do Império a 7 de março de 1857. Em 1864, apresentadas em concorrência pública várias propostas, aceitou a Câmara Municipal a de Paula Matos & Cia., com o compromisso de fazer o calçamento com trinta por cento menos, em cotejo com os preços de outros proponentes.

Principais Moradores

A Rua da Ajuda foi outrora uma das mais preferidas para residência de altos dignitários e funcionários – não só pelo número de bons prédios, como por estar próxima ao grande centro comercial.

Além disso, os aluguéis eram relativamente baixos, em relação aos de outros logradouros. Em 1832, anunciava o Diário do Rio de Janeiro achar-se para alugar a casa n. 47, ao preço de 14$ mensais, com acomodações para «família de condições modestas». Em 1833, um sobrado de propriedade do Seminário de São Joaquim, alugava-se por 40$.

No prédio n. 179 morava em 1839, em casa própria, Manuel Lopes Pereira Bahia, futuro Visconde de Miriti; no de n. 68, residiu o Visconde de Goiânia (Bernardo José da Gama).

Em casa própria ou de aluguel, residiram na Rua da Ajuda, entre outros, o escultor Anthon (prédio n. 64), Antônio Martins Pinheiro, médico (n. 31), Felix José Barbosa, cirurgião-mor da armada (n. 87), Francisco Alberto Teixeira de Aragão, desembargador, falecido a 15 de junho de 1847, Francisco de Paula Castro, boticário, (n. 108), Francisco Luiz Pinto, professor de música do Colégio Pedro II (n. 173), Higino Furey, professor de desenho (n. 63), João Damasceno Ferreira, farmacêutico (n. 15), José Joaquim da Rocha, falecido a 17 de janeiro na casa n. 186, José Pedro Carlos da Fonseca, advogado e consultor do Conselho de Estado (n. 85), Joseph Dubourdieu, escultor (n. 107), Luiz Joaquim de Gouveia, secretário da Ilustríssima Câmara Municipal (n. 28), Madames Gualtee Pascal, parteiras francesas – a primeira no prédio n. 64 e a segunda no de n. 55; Manuel Fabregas, dourador (n. 45), Manuel Joaquim de Meneses, médico (n. 29), Paulo Maia, entalhador (n. 46), Serafim da Cesta Santos, boticário (n. 95) e Véry, escultor, no prédio n. 5-b. Morou nesta rua o notável pintor João Baptista Debret, que depois mudou-se para Catumbi, conforme Morales de Los Rios Filho. (O Rio de Janeiro Imperial).

Da metade do século XIX em diante tiveram também residência nessa rua, os médicos João Vicente Torres Homem, Tomaz Cochrane e Henrique Dias Duque Estrada (Henrique Duque); Nicolau Lobo Viana, José Marques de Gouveia e a progenitora de Deodoro, viúva D. Rosa Paulina da Fonseca, falecida a 11 de junho de 1873, na casa n. 189. Nasceu numa casa dessa rua em 1868 o escultor Benevenuto Francisco Berna, falecido a 4-6-940 na Praça André Rebouças n. 9.

Sob a invocação de Nossa Senhora da Ajuda, instalaram-se em 1862, nos prédios ns. 66 e 68, a Casa de Saúde e a Maternidade, dirigidas pelo médico Manuel Joaquim Fernandes Eiras.

A Casa de Saúde Dr. Eiras ocupou um dos maiores prédios da rua, tendo de frente seis janelas e nas faces laterais, vinte. Possuía vastas enfermarias inclusive a destinada a escravos. O serviço médico estava a cargo dos Drs. Torres Homem, Carlos Antônio de Paula Costa, José Lourenço, Pereira Guimarães e Luiz da Cunha Feijó Filho. Em 1879 tornaram-se diretores da casa de saúde da Rua da Ajuda os Drs. José Lourenço e Martins Costa.

Antigo Convento da Ajuda na Cinelândia
Antigo Convento da Ajuda na Cinelândia

Convento da Ajuda

A exemplo dos moradores da cidade do Salvador, pleitearam os do Rio de Janeiro a fundação de um recolhimento destinado a mulheres. Para esse fim começaram os devotos a receber donativos durante a prelazia de Manuel de Sousa e Almada. Em 1678, Francisco da Silveira Dias, sucessor de Almada, e frei Custódio da Madre de Deus, guardião do Convento de Santo Antônio, construíram pequena casa, na qual recolheram as primeiras conversas, a viúva Cecília Barbalho, filha do mestre de campo e ex-governador Luiz Barbalho Bezerra (1643-44), suas três filhas solteiras e mais duas donzelas pertencentes a famílias distintas da Capitania.

Para o fanatismo religioso do tempo não bastara o asilo que se levantara junto à ermida de Nossa Senhora da Ajuda, erigida como protetora dos homens do mar. Tornara-se mister um convento, amplo, com acomodações para agasalhar debaixo de seus tetos grande número de mulheres, dispostas a viver encerradas em claustros. A Câmara da cidade, procurando satisfazer esses desejos, impetrou sem demora, junto à metrópole, a fundação de tão ambicionado convento, reiterando os vereadores os votos do povo em carta de 22 de junho de 1679, com a alegação de que D. Cecilia Barbalho resolvera oferecer toda a fortuna que possuía e empregá-la em favor da projetada casa conventual. O Conselho Ultramarino opinou no sentido de se negar consentimento para semelhante edificação, por julgar necessário o aumento da população na colônia e por ser mais conveniente o estado conjugal, no qual as mulheres poderiam fazer a Deus muitos serviços.

Em julho de 1694 voltou a Câmara a suplicar à metrópole a criação do convento – tendo a protegê-la o reitor dos jesuítas. Mas, ainda dessa vez, o Conselho Ultramarino mostrou-se inflexível, consentindo apenas que continuassem as mulheres no recolhimento junto à ermida.

A 11 de fevereiro de 1705 concedeu-se, afinal, permissão para a fundação do convento e ingresso de cinquenta freiras, entrando nesse número – escreve Melo Morais, pai, na Crônica Geral e Minuciosa do Império (pág. 128) – algumas conversas. Lançou-se a pedra fundamental da edificação, paralisando-se em pouco tempo as obras – como se verifica da correição do Ouvidor Manuel da Costa Mimoso, de 15 de novembro de 1728, para que o procurador da Câmara pusesse todo o cuidado em evitar usurpações no sítio da Ajuda – no qual segundo informações do concelho, havia um campo destinado à cerca do convento das freiras, obra que não tinha tido efeito.

Obtida a 20 de novembro de 1749 outra carta régia, o bispo D. Frei Antônio do Desterro lançou a pedra fundamental do Convento da Ajuda noutro ponto, próximo ao mar. Expedido o breve pontifício que autorizava a receber novas religiosas da regra de Santa Clara, inaugurou-se o edifício sob o risco do brigadeiro José Fernandes Pinto Alpoim, a 30 de maio de 1750, com grandes festejos populares que duraram três dias e noites, iluminando-se a cidade. Às expensas do governador Gomes Freire de Andrade, futuro Conde de Bobadela, representou-se uma peça cômica de Metastásio. Esse acontecimento teve repercussão na capital do Reino, chegando a publicar a Gazeta de Lisboa notícia dos festejos que se fizeram.

Os autos de correições dos Ouvidores, de 18 de setembro de 1754, 23 de outubro de 1756, 31 de outubro de 1757, 15 de dezembro de 1759, e 24 de dezembro de 1760, tratam da prolongada demanda que manteve o Senado da Câmara com as freiras da Ajuda, por motivo de terras nesse bairro, e os Extratos de Aforamentos, comentados pelo esforçado esmerilhador de velharias, Aureliano Restier Gonçalves, registram as questões suscitadas em consequência de demarcações e compra de terrenos.

Segundo Vieira Fazenda (Os fundadores da Glória: Rev. Inst. Hist. – tomo 88), essas terras haviam pertencido às sesmarias concedidas em 1573 aos mercadores Nuno Tavares e Francisco Raposo e, mais tarde, a Lopo Fernandes Carneiro e Antônio Caminha, tendo os descendentes deste sesmeiro intentado uma demanda contra as freiras da Ajuda – e que se prolongou por 60 anos (de 1751 a 1811), ocupando a atenção dos magistrados da comarca do Rio de Janeiro e dos advogados das partes interessadas no pleito.

Em 1771, outra questão judiciária foi intentada, dessa vez, pelas freiras, contra o Senado da Câmara.

Num dos pátios do convento, inaugurou-se em 1795, sob o Vice-Reinado do Conde de Resende e sendo abadessa soror Ana Querubina de Jesus, o Chafariz das Saracuras, no qual figurava o seguinte escudo comemorativo:

Chafariz das Saracuras na Praça General Osório.
Chafariz das Saracuras na Praça General Osório.
Feito com a protec
ção do Illmo e Exmo Sr.
Conde de Rezende
Vice Rey do Estado
do Brasil sendo ac
tual abadeça a Soror
Anna Querubina de Jesus Sª
ANNO DE 1795.

Com a demolição do edifício conventual foi esse chafariz doado pelo arcebispo à Prefeitura, que o fez assentar numa das praças do bairro de Ipanema [3]. Em Antiqualhas e Memórias do Rio de Janeiro, de Vieira Fazenda (Rev. Inst. Hist. – tomo 86 – pág. 49), em crônica de Escragnolle Doria, publicada na «Revista da Semana», de 1 de setembro de 1923 e em fotogravuras de Augusto Malta e B. Sanmartin – encontram-se estudos e flagrantes do velho chafariz.

O edifício do convento foi vendido por 1.050: 000$, em julho de 1911, à empresa estrangeira, que pretendia levantar no local um grande hotel – obra que não conseguiram realizar os capitalistas interessados nesse projeto.

Foi, afinal, demolida a casa conventual, erguendo-se nesse trecho da cidade, chamado de Cinelândia ou bairro Serrador (em homenagem ao industrial Francisco Serrador), soberbas e alterosas construções.

Mudaram-se as religiosas da Ajuda, temporariamente, para a Rua Conde de Bonfim, até que se inaugurou o novo convento em Vila Isabel, à Praça Sete de Março Praça Barão de Drumond.

Moreira de Azevedo, no O Rio de Janeiro, Moreira Pinto, no Dicionário Geográfico do Brasil (1º vol. – págs. 31 e 32), Araújo Viana, Vieira Fazenda (Rev. Inst. Hist. – tomo 95 – págs. 329 e 333), Hermeto Lima, Luiz Edmundo, Morales de los Rios Filho e outros escritores, inserem em seus livros minudentes informes sobre a história da velha casa conventual da Rua da Ajuda.

Chácara da Floresta

A chácara desse nome começava no trecho onde hoje está a Rua México, canto da de Almirante Barroso, indo até os muros do convento dos barbadinhos, no Morro do Castelo.

A casa residencial, sob n. 61, da Rua da Ajuda, espaçosa e confortável, estava situada à esquerda do artístico portão da chácara. Esta era sulcada por um caminho de dez metros de largura até o alto do morro, entre frondosas jabuticabeiras. À esquerda da principal casa de morada, com frente para a Rua da Ajuda, ficava o antigo e lendário Teatro Phoenix Dramático, no ponto em que hoje se encontra o anexo do Palace Hotel. Na Chácara da Floresta reuniram-se, durante o governo regencial, os políticos liberais, presididos pelo advogado Dr. Nicolau Rodrigues dos Santos de França e Leite, deputado pela Província da Paraíba (falecido em 1867). Ali se preparou o plano do Golpe de Estado de 30 de julho de 1832, que fracassou.

Dissolvida a Câmara dos Deputados, conflagradas em 1842 as províncias de Minas Gerais e São Paulo, suspensas as garantias constitucionais, França e Leite foi deportado, regressando à pátria pouco depois, para ser de novo eleito deputado por sua província.

Recordando o passado da Chácara da Floresta, de que foi proprietário o Dr. Nicolau Rodrigues dos Santos França e Leite, evocou Raul Pederneiras, brilhante jornalista, professor e caricaturista, neto daquele advogado e político, vários fatos ali ocorridos, aproveitados numa das crônicas de Júlio de Azurem Furtado no «Jornal do Brasil», de 31 de maio de 1931, com o título – «O Rio Antigo», ilustrando essa crônica uma vista panorâmica da chácara e de parte do Morro do Castelo, no trecho desaparecido em 1921.

Compreendendo toda sua enorme área e as benfeitorias nela existentes três casas de sobrado e quatro térreas – a Chácara da Floresta foi avaliada em 1902 em dois mil contos. A administração do Prefeito Carlos Sampaio desapropriou-a, porém, por 1.400:000, em 1922.

Edifício do Conselho Municipal
Edifício do Conselho Municipal

Estabelecimentos de Ensino

Funcionaram no grande sobrado do prédio n. 50, os colégios para meninas, dirigidos pelas professoras francesas D. Poncel e D. Mounier, de 1840 a 1866. Neste último ano instalou-se no princípio da rua o externato de Mle. Perret, que teve grande frequência.

No prédio de numeração antiga 68, fundou-se, antes de 1844, o colégio francês do Huet, para meninos, e no interior da Chácara da Floresta, a partir do oitavo decênio do século passado, esteve o afamado externato Aquino, dirigido pelo professor João Pedro de Aquino, no prédio n. 59~A, contíguo ao de n. 59, onde foi criado em dezembro de 1891 o batalhão Tiradentes, sob o comando do Dr. João Baptista de Sampaio Ferraz, para a defesa da República.

Escola Municipal de São José – No local da Rua da Ajuda, conhecido por Largo da Mãe do Bispo, em terreno contíguo ao Convento da Ajuda, construiu-se o edifício destinado à escola pública da freguesia de São José, por conta dos donativos promovidos pelo presidente da Câmara Municipal, Dr. Antônio Ferreira Viana, de conformidade com a proposta do vereador Dr. André Cordeiro de Araújo Lima, aprovada em sessão de 22 de abril de 1871. Em 7 de setembro de 1874, realizou-se a inauguração do edifício, sendo suprimido o jardim levantado em 1873. Retificou-se em 1859 o alinhamento do logradouro e modificou-se a fachada do prédio, sob o plano do engenheiro arquiteto Henrique Bahiana.

Pelo decreto n. 374, de 28 de janeiro de 1897, foi autorizado o Prefeito a entrar em acordo com as religiosas da Ajuda, para a definitiva instalação do Conselho Municipal no antigo prédio da Escola de São José, desapropriando-se o imóvel por 70: 000$, ficando isento de todos os impostos ad perpetuam o convento, com suas dependências e terrenos contíguos. Nesse mesmo local levantou-se o edifício do Conselho Municipal, atual sede da Câmara Municipal, prédio de artística construção, de forma a ser denominado pelo povo de gaiola de ouro [4].

O esforçado provecto e saudoso funcionário Raul Lopes Cardoso, que foi diretor do Patrimônio Municipal, descreve minuciosamente o antigo prédio da Escola de São José, em seu precioso Histórico dos Próprios Municipais (1900).

Palácio Pedro Ernesto
Palácio Pedro Ernesto

Imprensa e Artes Gráficas

Jornais e revistas – Estabeleceram-se nessa rua o «Diário do Rio de Janeiro», a «Gazeta Nacional», de Almeida Pernambuco, Ubaldino do Amaral, Matias de Carvalho; as revistas: «Distinção» – semanário satírico, editor proprietário João Paulo Hildebrandt; a «Bomba» (1894) – jornal político, direção de Rafael de Freiras; «O Nacional» – direção de Aníbal Mascarenhas, Lindolfo Azevedo e Henrique Cancio (1895~97).

Tipografias e Litografias – Competindo com Luiz Alexis Boulanger – um dos mais notáveis litógrafos desenhistas do velho Rio de Janeiro, João Steinmann instalou-se na esquina do Beco Manuel de Carvalho com oficina, transferindo-se, mais tarde, para a casa n. 27 da mesma Rua da Ajuda, antiga residência do general Norberto Xavier de Brito.

Steinmann contou com a valiosa colaboração dos desenhistas Carlos Abelée e Pedro Vítor Larée. Luiz Boulanger fixou residência no Rio de Janeiro em 1829. Modelos de apólices e condecorações, retratos, mapas e diagramas, foram por ele desenhados, com admirável proficiência.

Nos prédios abaixo discriminados tiveram oficinas tipográficas e litográficas: João José do Rêgo – 1841 (n. 21); Francisco Joaquim dos Santos tipografia teatral e comercial (n. 29); João Paulo Hildebrandt (n. 31); Dr. Teófilo das Neves Leão (n. 35); F. Borguonovo (n. 37), Augusto Cesar Ramos (n. 47), João Batista Antônio Bento (n. 55), João Inácio da Silva (n. 57), sendo transferido em 1852 o negócio para Nicolau Lobo Viana Júnior; tipografia e litografia do Imperial Instituto Artístico (n. 61, na Chácara da Floresta), Henri Jules Gueffier (n. 37), João Paulo Ferreira Dias (n. 75), Diogo Tanner (n. 77), Viúva Viana Júnior (n . 79), Alfredo Martinet (n. 113) que antes de 1851 se estabelecera na Rua do Lavradio; Heaton & Rensburg, sucessores de João Steinmann, tendo trabalhado nas oficinas os desenhistas Paulo Robin, G. Kraner e Sisson, este autor do grande álbum de celebridades brasileiras e da carta geográfica do Império do Brasil, do coronel Conrado Jacob de Niemeyer (n . 68); Carlos Higino Furey, estamparia (n. 74), antes estabelecido na Rua da Quitanda e João Miguel Alves Afonso de Aguiar – tipografia «Estrela Fluminense» (n. 106).

Teatro e Diversões

No prédio n. 57, antigo, funcionou o teatro Phoenix ou Phoenix Dramático, sendo o imóvel de propriedade de Rita E. Duque Estrada Godfroi, em 1877. No jardim do Hotel Bristol – diz-nos Lafaiete Silva (História do Teatro Brasileiro) – começou a funcionar a 14 de outubro de 1863 aquela casa de espetáculos. Em 1890 passou por grandes obras, reabrindo sua plateia ao público, sob o nome de – Teatro João Caetano, a 7 de agosto daquele ano, em substituição ao Variedades Dramáticas. Com as obras da Avenida Central, o teatro da Rua da Ajuda desapareceu, mas «de há muito – acrescentava Lafaiete Silva – se desvirtuara dos fins para que fora construído, servindo de escritório da extração de bilhetes da «Companhia de Loterias Nacionais» – Antes do ano da fundação do teatro PHOENIX DRAMÁTICO, em 1863, em terrenos ao lado da Chácara da Floresta realizavam-se licenciosas «soirées» do Clube Eldorado, que nenhuma ligação teve, com a casa de espetáculos existente, posteriormente no Beco do Império. No mesmo local esteve o «Circo Equestre Americano» e, anteriormente (1837), o «Circo Olímpio», que passou à direção de E. G. Meade.

A Rua da Ajuda e a Independência Nacional

Hermeto Lima, no «Correio da Manhã», de 29 de junho de 1823, em crônica a respeito da Rua da Ajuda, registra as primeiras reuniões realizadas a 29 de dezembro de 1821, nesse logradouro, em favor do movimento separatista, na casa do capitão-mor José Joaquim da Rocha, às quais compareceram o general Gordilho de Barbuda, Luiz Pereira da Nóbrega, Antônio de Meneses Vasconcelos de Drumond, o Dr. José Mariano de Azeredo Coutinho e o desembargador Francisco da França Miranda. Este magistrado redigiu um boletim que foi afixado em vários pontos da cidade, convidando o povo a lutar pela causa da Independência. O general português Avilez, comandante da tropa da divisão auxiliadora, mandou inutilizar os boletins e, pela manhã de 22 de dezembro, os soldados lusos cercaram a residência do patriota José Joaquim da Rocha, que ficava no prédio n. 64. Isto não impediu que os brasileiros assinassem o redigido por frei Francisco de Santa Teresa de Jesus Sampaio e que deu lugar a reação do príncipe regente em prol da causa nacional, em 9 de janeiro de 1822 – o dia do Fico.

Outros fatos históricos ocorridos na Rua da Ajuda, foram as reuniões dos liberais em casa do deputado padre José Custódio Dias de 15 a 17 de março de 1831, representarem contra os desmandos do primeiro imperador, em vésperas da revolução de 7 de abril.

Comércio

Tiveram casas de negócio nessa tradicional rua, entre outros, o alfaiate francês Sarty (no prédio n. 3, antigo), o chapeleiro Rosali Sochon, licenciado em 1825 (no prédio sem número, próximo à Rua São José); o confeiteiro Dupuch, licenciado em 1839 (no prédio n. 22); o dourador Manoel Fabregas, francês, com loja de quadros (no prédio n. 45); lojas de modas, confecções, fazendas e atelier de costuras, as francesas: Madames – Moresl (no prédio n. 10); Niobey – com grande armazém, ocupando-se do vestuário de atrizes; João Vitor Chambry, licenciado, por alvará de 10 de janeiro de 1821; o horticultor – Ramy, que mantinha um jardim com entrada franca, das 7 horas da manhã às 5 da tarde (no prédio n. 71); a hoteleira – Dona Maria, com casa de pensão fundada em 1876, frequentadíssima por deputados e suas famílias, como se lê no Guia do Viajante, de Vale Cabral: o laboratório homeopata do Dr. Cochrane e Pinho (no prédio n. 61); o ourives – L. Fontaine, licenciado em 1829; os padeiros – José Gonçalves Moela, licenciado em 1815 e José Ferreira dos Santos, licenciado em 1817; os vendeiros de secos e molhados: Francisco Joaquim Ferreira, José Ribeiro de Campos Pessoa, estabelecido no canto da Mãe do Bispo, Joaquim José Duarte e José de Sampaio, processados por infração de posturas em 1814, 1816, 1817.

Numa casa de saúde desta rua – uma das primeiras que existiram no Rio de Janeiro, faleceu a 20 de agosto de 1835 o grande brasileiro Visconde de Cairu – José da Silva Lisboa, nascido na Bahia em 1756.

No prédio n. 45, funcionava em 1830, a loja de segeiro Blandim que se mudou em 1840, para a Rua do Ouvidor, 68 ali estabelecendo uma fábrica de selins e fundas. Neste ano anunciava Blandin a venda de um tilburi, que constituía uma novidade entre as viaturas do belo Rio de Janeiro.

No prédio n. 61 em 1860 tinham consultório os médicos homeopatas Drs. Maximiniano Antônio de Lemos, Oliveira de Seilbita e Ewerton de Almeida, este operador e especialista em moléstias venéreas.

No prédio n. 75, funcionava em 1860, uma casa de maquinismos hidráulicos e sanitários de propriedade de R. G. Ramsay.

No prédio n. 76, estava instalada a fundação de tipos de Eugenio Bouchaud.

A casa industrial mais importante estabelecida nessa rua foi a do joalheiro Frederico Richaud – que teve por sucessor o português Vitor Guilherme Rese, esmaltador da casa imperial, agraciado pelo governo de sua pátria com o título de Barão de São Borges.

As duas fábricas de velas que se estabeleceram na rua, a de José dos Reis, licenciado em 1822, e a de Manuel Joaquim Ferrão, que iniciou o negócio em 22 de abril de 1815, tiveram relativa importância nesse ramo industrial.

Segundo Walsh (Notices of Brazil in 1828 and 1829), na extensão de 330 braças, existiam em 1828, 267 prédios, mais 30 em confronto com o lançamento da décima urbana de 1808, que coletou 237 imóveis. Curvelo Cavalcanti, na Nova Numeração da Cidade, registrou em 1877, o número total de 176 imóveis: 74, térreos, 90 de dois pavimentos e 12, de três pavimentos – menos 91 imóveis, em confronto com o que foi apurado em 1828.

As reconstruções efetuadas no transcurso de 49 anos, com o desaparecimento de casas térreas, de reduzidas fachadas, e maior ocupação da área construída, explicam aquela diferença.

(Os elementos coligidos quanto aos anos de 1906, 1920 e 1933, figuram no histórico da Rua Chile).

Para a locação da linha circular da Companhia Ferro-Carril do Jardim Botânico, o decreto n. 576, de 26 de setembro de 1891 desapropriou os prédios n. 2, da Rua da Ajuda, e ns. 89 e 91 da Rua de São José – de acordo com a cláusula 2ª do contrato daquela Companhia, aprovado por portaria do Ministério do Interior, de 28 de agosto de 1890.

Foi este o primeiro grande melhoramento que teve o logradouro, denominado – Rua Chile – pelo decreto legislativo municipal, de 15 de maio de 1897.

Notas do Editor

  1. Com o desmonte do Morro de Santo Antônio foi aberta a Avenida República do Chile, entre a Rua do Lavradio e Avenida Almirante Barroso, e a Rua Chile voltou a se chamar Rua da Ajuda.
  2. Com a demolição do Palácio Monroe, autorizada em 11 de outubro de 1975, foi colocado em seu lugar o Chafariz Monumental da Praça XV de Novembro, que devido às obras da Av. Perimetral tinha sido removido para a Praça da Bandeira onde permaneceu até 1978, quando se processou sua instalação no novo Jardim do Monroe que foi inaugurado em 1979.
  3. O Chafariz das Saracuras encontra-se na Praça General Osório em Ipanema.
  4. Palácio Pedro Ernesto, atual sede da Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

Fonte

  • Revista do Arquivo do Distrito Federal, Volume I, pág. 356, 1950.

Imagem destacada

  • PLANTA da cidade do Rio de Janeiro. Paris [França]: Imp. Lenecier, [ca.1853]. 1 planta, 69,6 x 58. Acervo digital da Biblioteca Nacional.

Mapa – Rua da Ajuda