Rua Larga de São Joaquim, por Noronha Santos
![GUIA e plano da cidade do Rio de Janeiro. [S.l.: s.n.], 1858. Acervo digital da Biblioteca Nacional. GUIA e plano da cidade do Rio de Janeiro. [S.l.: s.n.], 1858. Acervo digital da Biblioteca Nacional.](/img/bn/bn_Guia-e-Plano-da-cidade-do-Rio-de-Janeiro-1858-Mc-Kinney_cart174224-Rua-Larga-de-S%c3%a3o-Joaquim.jpg)
RUA LARGA DE SÃO JOAQUIM – Inocêncio da Rocha Maciel, operoso historiador do Tombamento Municipal, informa-nos em seus registos haver sido aberta essa rua em fins do século XVIII, sem precisar o ano em que foi arruada em terrenos da Chácara do Casado ou de São Domingos e de Dona Emerenciana Isabel Dantas. A Chácara do Casado pertencera anteriormente a Pedro Fernandes, filho de Antônio Vieira, que tivera um cognome pouco decente. Em 1789 iniciou-se o retalhamento dessa propriedade, por meio de vendas e arrendamentos de terrenos desmembrados em várias porções desde o Largo de São Joaquim, onde terminava a Rua Estreita, até o Campo de Sant’Ana. Na Notícia Histórica do Ginásio Nacional, de autoria do nosso prezado e saudoso amigo, Teodoro Magalhães, figuram os limites dessa chácara, da Rua São Pedro até o Morro do Livramento. Manuel de Campos Dias comprou parte dos terrenos, para edificar a Ermida de São Joaquim, mais tarde doada em 14 de janeiro de 1758 ao recolhimento dos órfãos, instalado em dezembro de 1766 em prédio contíguo.
Melo Morais, pai, insere em seus trabalhos informações que se ajustam às pesquisas de Inocêncio Maciel. Escragnolle Dória, descrevendo-nos os primórdios do Colégio Pedro II, traça-nos um painel mais desenvolvido, reconstituindo, em sua opulenta Memória Histórica (comemorativa do centenário desse estabelecimento do ensino secundário, em 1937), a topologia daquele trecho do Rio de Janeiro colonial.
A edificação na Rua São Joaquim, prolongamento da denominada do Curtume e Estreita de São Joaquim, remonta ao penúltimo decênio do século XVIII acentuando-se maior desenvolvimento nos primeiros anos da centúria seguinte. Logradouro arejado, com largura que destoava de tudo quanto havia na cidade antiga (a exceção de um trecho da Rua Direita), tornou-se preferido e disputado para edificações. Debret, em sua monumental obra, (traduzida e anotada recentemente por Sergio Milliet, sob os auspícios da biblioteca histórica brasileira da Livraria Martins, de São Paulo), enumerando os logradouros do Rio em 1830, não se esqueceu de acentuar que a Rua São Joaquim – depois da igreja era larga e reta – o que constituía, de certo, uma novidade para o insigne mestre da Missão Francesa de 1816 e digna de especial menção.
A ideia do prolongamento da Rua Larga de São Joaquim até o mar, alargando-se a Rua dos Pescadores, foi inicialmente sugerida em 1840 por Félix Émile Taunay (Barão de Taunay), em projeto que abrangia também o alargamento de outros logradouros públicos. Em 1880, sendo ministro do Império o conselheiro Francisco Inácio Marcondes Homem de Melo (Barão Homem de Melo), submeteu à deliberação do governo o parecer da Câmara temporária sobre a proposta de alargamento até à Rua Uruguaiana, tendo em vista o plano elaborado pelos engenheiros Pereira Passos, Morais Jardim e Marcelino Silva. Na Memória, do engenheiro Antônio de Paula Freitas, sugeria o douto profissional, em 1884, a abertura de duas ruas largas e retas – sendo uma no prolongamento da Rua Larga de São Joaquim e outra em direção das ruas da Assembleia e Carioca. Vários outros projetos cuidaram de melhoramentos da Rua Larga, inclusive os dos engenheiros Cândido Araújo Viana de Figueiredo e Olegário Gomes dos Reis (1891), sem nenhum resultado prático.
O primeiro ato oficial para o prolongamento é de 6 de maio de 1896, sendo prefeito o Dr. Francisco Furquim Werneck de Almeida, que, pelo decreto n. 258, teve autorização do Conselho Municipal para desapropriar prédios da Rua dos Ourives e do Largo de Santa Rita, sem disso provir ainda nenhum resultado eficiente.
O decreto n. 459, de 19 de dezembro de 1903, sancionado pelo Prefeito Pereira Passos, tratou definitivamente da retificação, alargamento e prolongamento dessa rua e da do Visconde de Inhaúma. Ultimaram-se em setembro de 1904 o prolongamento da Rua Marechal Floriano e o alargamento da Rua Visconde de Inhaúma.
Um dos opositores às obras do inolvidável administrador, o engenheiro e professor Tito Barreto Galvão, considerava num de seus artigos no Jornal do Comércio (29 de agosto de 1904), mal aplicada a despesa com o prolongamento dessa rua. “Se há caso em que a linha reta seja claramente indicada é o dessa avenida, desde a Praça da República até o mar…” dizia o ilustre articulista, referindo-se à pequena linha sinuosa que se observa no Largo de Santa Rita, junto à atual Rua Miguel Couto, antiga dos Ourives.
Pelo decreto n. 149, de 2 de agosto de 1895, foi sancionada a resolução do Conselho Municipal que mudava o nome de Rua Larga de São Joaquim para Marechal Floriano, em memória do Marechal Floriano Peixoto, vice-presidente da República, que exerceu a presidência de 23 de novembro de 1891 a 15 de novembro de 1894 (falecido a 29 de junho do mesmo ano). A 28 de junho de 1932, o decreto n. 3.929, denominou-a Avenida Marechal Floriano – evocando, mais uma vez, a figura histórica do consolidador da República.
Fonte
- Anotação de Noronha Santos na introdução do livro Memórias para Servir à História do Reino do Brasil
Imagem destacada
- GUIA e plano da cidade do Rio de Janeiro. [S.l.: s.n.], 1858. 1 planta ; 30,2 x 40,7 em f. 35,5 x 47cm. Acervo digital da Biblioteca Nacional.
Mapa - Rua Larga de São Joaquim, Avenida Marechal Floriano