Rua do Lavradio, por Noronha Santos

RUA DO LAVRADIO – Para dar melhor trânsito aos moradores da cidade, diz-nos Monsenhor Pizarro em suas Memórias Históricas, o vice-rei Marquês de Lavradio mandou cordear, em 1777, o caminho que fora aberto, dando acesso à Estrada de Matacavalos[1] e à Rua do Conde da Cunha[2], na área dos terrenos do senhorio do brigadeiro Matias Coelho de Souza, do mestre de campo e guarda-mor Pedro Dias Pais Leme e posteriormente de seu filho Roque Luiz de Macedo Pais Leme. Esta referência do historiador carioca é confirmada por vários documentos do Arquivo Municipal, inclusive autos de arruações e vistorias. Iniciou-se em 1778 o aterro dos terrenos pantanosos que se estendiam dos Arcos da Carioca ao Morro de Pedro Dias[3]. Abriram-se valados e concederam-se por doação, vários terrenos que foram aterrados para edificação, do lado direito, sendo impraticável o aterro pelo lado esquerdo, por causa da chácara daquele guarda-mor cujos fundos vinham ter justamente ao local onde se abriu a atual Rua da Relação. Melo Morais, pai, em seus trabalhos de investigação, inclusive na Coreografia Histórica – tomo I – parte II – com o título História das ruas da cidade do Rio de Janeiro, o ilustrado professor Everardo Bakheuser (Geologia do Distrito Federal: Anuário de Estatística Municipal. vol. V – 1923-24) e Restier Gonçalves (Extratos e Índices de Aforamentos) mostram-nos o aspecto topográfico dessas terras paludosas, nas quais avultavam charcos permanentes e valas abertas para o escoamento das enxurradas. De 1790 a 1801, o Conde de Resende continuou os aterros nos pantanais de Pedro Dias, ordenando que José Correa de Rangel Bulhões levantasse a planta dos terrenos alagadiços. Notas a respeito correm impressas em pareceres do Dr. José Pereira Rego (Barão de Lavradio) e na valiosíssima contribuição histórica de Vieira Fazenda, ao tratar da Avenida Mem de Sá.
No auto de correição do ouvidor e corregedor da comarca Dr. José Antônio Valente, de 5 de janeiro de 1793, recomendava esse magistrado que o Senado fizesse cobrar os foros em débito das terras do falecido Pedro Dias Pais Leme, na Rua do Lavradio e, no mesmo ano, documento de caráter forense acentuava a procura de terrenos no logradouro para edificação, não obstante as dificuldades oriundas da negligência dos herdeiros daquele guarda-mor, ou devido às demandas que mantinham com o Senado da Câmara e particulares.
Em 1808 foram inscritos para o lançamento da décima urbana 92 casas – 67 do lado direito e 25 do esquerdo. A fim de tornar livre e seguro o trânsito indispensável para o exercício e frequência dos tribunais, numa rua tão edificada, a provisão régia de 4 de novembro de 1816 advertiu ao Senado da Câmara fosse mais exato no cumprimento de seus deveres e na consideração para com os tribunais. Aludia certamente a provisão, à sede do Tribunal da Relação, que desde 1808 fora transferido para casa de João Marcos Vieira da Silva Pereira, adquirida por compra, a 28 de agosto de 1825, pela quantia de 27:000$.
Em 1883, o engenheiro Antônio de Paula Freitas sugeria ao governo o prolongamento dessa rua até o bairro da Saúde (Saneamento da cidade do Rio de Janeiro). Dos projetos apresentados à Municipalidade na época do Encilhamento [4] (1890-91), destacaremos os do engenheiro José Maria da Conceição Junior (prolongamento desde a Rua Visconde do Rio Branco à da Imperatriz) e do coronel A. Rodrigues de Vasconcelos (prolongamento até o bairro da Saúde).
Para a abertura da Avenida Mem de Sá, demoliram-se, de agosto a dezembro de 1906, vários prédios próximos à Rua Riachuelo, cujas fachadas fo ram fotografadas pelo dedicado reliquiarista Augusto Cesar de Malta Campos. Num de seus apreciáveis folhetins da A Notícia, em maio de 1906, o erudito Araújo Viana, sob a epígrafe Cave canem, recorda-nos a casa afidalgada que tinha então o número 69 e onde se observava lindo painel de azulejo, enegrecido pela incúria do então proprietário de uma casa de cômodos.
Notas do editor
- ↑ Rua Riachuelo.
- ↑ Rua Visconde do Rio Branco.
- ↑ Morro do Senado.
- ↑ “Encilhamento” foi a forma como ficou conhecida a crise financeira ocorrida no Brasil a partir de 1890. Fonte: Guia do Estudante
Fonte
- Anotação de Noronha Santos na introdução do livro Memórias para Servir à História do Reino do Brasil
Mapa - Rua do Lavradio (Começa na Rua Visconde do Rio Branco e termina na Rua Riachuelo - Guia Rex 1969)