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Rua do Espírito Santo, por Noronha Santos

GUIA e plano da cidade do Rio de Janeiro. [S.l.: s.n.], 1858. Acervo digital da Biblioteca Nacional.
GUIA e plano da cidade do Rio de Janeiro. [S.l.: s.n.], 1858. Acervo digital da Biblioteca Nacional.

RUA DO ESPÍRITO SANTO – Depois de regularizado o alinhamento do rossio grande ou Largo do Rossio, abriu-se em 1801 essa rua, antigo caminho, em terreno da primitiva sesmaria concedida por D. Pedro Mascarenhas a José da Costa Barros, que em 1737 foi transmitida ao mestre de campo Matias Coelho de Souza e por último ao guarda-mor Dr. Pedro Dias Pais Leme, de quem foram herdeiros o cônego Roque Luiz de Macedo Pais Leme e o bacharel Pedro Nolasco Forjaz d’Horta Pais Leme.

Em autos de processo para pagamento de laudêmios à Câmara Municipal (1850-52), se lê uma escritura de venda de terreno na barreira de Santo Antônio, feita pelo cônego Roque, em 20 de setembro de 1814, a sua sobrinha D. Iria Graciana de Macedo, filha do sargento-mor Garcia Rodrigues de Macedo Leme e que vivia no estado de solteira. Por este documento se verifica que a Chácara da Barreira do Morro de Santo Antônio limitava naquele ano com as ruas do Lavradio e do Espírito Santo.

No fim desta rua, junto a uma das abas da barreira do Morro de Santo Antônio, abriu-se em 1789 a Rua do Senado, por exclusiva iniciativa do Senado da Câmara. Prolongaram-na depois de 1812, num pequeno trecho, aterrando valas e charcos. Em 30 de março de 1846 inaugurou-se outro trecho, através de terrenos cedidos por Francisco de Paula Matos, procedendo-se para isso o rebaixamento do nível da rua e a demolição de parte do Morro do Senado, então chamado de Pedro Dias, por se achar em terras que haviam pertencido a Pedro Dias Pais Leme. À Rua do Senado vinha ter um beco aberto depois de 1813, e ao qual deram o nome de Travessa da Luxúria ou da Pouca Vergonha, devido aos escândalos amorosos que habitualmente ali se davam. O Beco da Pouca Vergonha dos princípios do século XIX, é a atual Rua 20 de abril (antiga Travessa do Senado) em recordação da data natalícia do preclaro brasileiro Barão do Rio Branco, que ali nasceu numa casa de sobrado, a 20 de abril de 1845.

Depois de 1880, apesar de mal edificada, tornou-se a Rua do Espírito Santo, um dos pontos da cidade de maior movimento noturno, devido aos teatros que nela se instalaram, proporcionando a expansão comercial notadamente de cafés e restaurantes, que funcionavam até alta madrugada.

Por proposta do intendente Júlio do Carmo, em 22 de maio de 1896, foi mudada a denominação – Espírito Santo – para a de Luiz Gama, em memória de Luiz Getulino Pinto Gama, esforçado paladino contra a escravidão, nascido em 21 de junho de 1830 e falecido a 23 de agosto de 1882.

O decreto n. 309, de julho de 1896, promulgou a resolução do Conselho Municipal de junho do mesmo ano.

A 31 de outubro de 1917, a revisão da nomenclatura dos logradouros públicos (decreto n. 1.165), restabeleceu a antiga nominação Espírito Santo. A 6 de agosto de 1921 denominou-se pelo decreto n. 1.599 – Rua Pedro Primeiro, sendo relegado o nome Luiz Gama para uma pequena travessa entre a Rua General Canabarro e a Avenida Paula e Souza, no Engenho Velho [1].

Sobre as tradições da Rua do Espírito Santo escreveu Hermeto Lima curioso artigo no Jornal do Brasil, de 15 de agosto de 1937 [2].

Notas do editor

  • Pertenciam à chamada Freguesia de São Francisco Xavier do Engenho Velho, os bairros do Andaraí Pequeno, Andaraí Grande, Tijuca, Aldeia Campista, Fábrica das Chitas e Vila Isabel. Leia mais na Wikipédia
  • No artigo A Rua do Espírito, escrito no Jornal do Brasil de Domingo, 15 de agosto de 1937, Suplemento Dominical, pág. 3, Hermeto Lima nos conta que existiam nesta rua quatro teatros: O Teatro Variétés, que se tornou VariedadesBrazilian Garden e, por fim, Recreio Dramático, era o mais antigo, tendo sido inaugurado em 1877 por uma companhia francesa; O segundo era o Teatro Lucinda, fundado por Lucinda e Furtado Coelho; O terceiro era o Teatro Sant’Ana, que se tornou Carlos Gomes; O quarto e último era o Teatro Maison Moderne. Diz ainda o autor que nesse tempo havia na esquina da Praça Tiradentes um café-restaurante, considerado chic, que também se chamava Maison Moderne, e que passada essa temporada de grande movimento, quando os bondes já circulavam na rua, foram para lá morar mulheres de má vida. Fonte: Biblioteca Nacional – Jornal do Brasil – 1930 a 1939 – PRC_SPR_00009_030015
  • Fonte

    • Anotação de Noronha Santos na introdução do livro Memórias para Servir à História do Reino do Brasil

    Imagem destacada

    • GUIA e plano da cidade do Rio de Janeiro. [S.l.: s.n.], 1858. 1 planta ; 30,2 x 40,7 em f. 35,5 x 47cm. Acervo digital da Biblioteca Nacional.

    Mapa - Rua do Espírito Santo, Pedro I