/ Rio de Janeiro / Logradouros / Rua Direita, …

Rua Direita, por Noronha Santos

Rugendas, Johann Moritz (1802-1858), Rua Direita no Rio de Janeiro
Rugendas, Johann Moritz (1802-1858), Rua Direita no Rio de Janeiro via NYPL

RUA DIREITA – Ao longo da restinga situada entre os morros do Castelo e de São Bento cordeou-se em princípios do século seiscentista o caminho ou praia de Manuel de Brito, que em pouco tempo se chamou Rua Direita do Carmo para São BentoRua Direita para a Misericórdia ou de Nossa Senhora do Bom Sucesso e rua que vai para São José. A penúltima nominação compreendia toda a Rua da Misericórdia.

Em 1620 o trecho entre as atuais ruas General Câmara e Teófilo Otoni, já estava quase todo edificado.

Desde o local em que se instalou posteriormente a Casa dos Contos, até a ladeira do morro dos frades beneditinos, fixaram moradia principais homens de negócio. Preferiam esse logradouro os mercadores de escravos, pela comodidade no recebimento das cargas negreiras que, saídas da Alfândega, ali aguardavam destino para os engenhos ou fazendas.

Seus antigos moradores e proprietários, Gonçalo Gonçalves – o moço – e sua mulher, D. Maria Gonçalves, possuíam em 1620 uma casa, que fazia canto com a Rua Diogo de Brito ou Diogo de Brito de Lacerda (filho de Manuel de Brito) e outra, contígua, que, em 9 de novembro desse ano, eles doaram à Santa Casa da Misericórdia. A pia instituição comprou dois anos depois, em 15 de março de 1622, a Mateus de Leão e sua mulher, D. Jerônima Vareira, moradas de casas na Rua Direita – partindo de uma banda com as casas do capitão comandante do forte de São Januário, Francisco Dias da Cruz e de outra banda com as do fundador da capela da Candelária, Antônio Martins de Palma (Vieira FazendaRuas Antigas – tomo 95 da Revista do Instituto Histórico).

Na correição procedida pelo ouvidor Manuel Amaro Pena de Mesquita Pinto, em setembro de 1746, proveu esse magistrado sobre a reparação das calçadas da cidade, compelindo os moradores a fazerem semelhante obra na distância de sete palmos, que, muitas vezes, não chegavam ao meio da rua – excetuando, porém, da obrigação os proprietários da Rua Direita – por ser esta demasiadamente larga.

Foi sempre esse logradouro um dos mais animados da cidade e frequentado no período colonial até 1860, mais ou menos, do alvorecer às últimas horas da tarde, por mercadores e magotes de negros escravizados, que andavam a carregar pesados fardos, retirados da Alfândega, ou puxando veículos de carga, como se fossem animais de tração. Nas estampas de DebretRugendas tem-se a impressão da vida trepidante da Rua Direita em dias do governo de D. João VI e nos do primeiro reinado.

Ruidoso bazar de todas as mercadorias – no conceito de Dumont d’Urville, capitão de fragata da marinha francesa e passageiro da galeota holandesa Cornelia, quando aqui passou em novembro de 1829, – a grande rua da cidade era então habitada do lado do mar por armazenistas de secos e molhados e, na parte mais larga, por negociantes opulentos.

“Verdadeira Rua Saint Honoré, de Paris”, – na frase de Debret, – o admirável artista da missão francesa de 1816, a tortuosa Rua Direita recebeu a 14 de março de 1870 a denominação – Primeiro de Março, por proposta do vereador Dr. Joaquim Antônio de Araújo e Silva (posteriormente Barão do Catete e Visconde de Silva), em memória da data da terminação da guerra do Paraguai, com a vitória de Aquidaban e morte do ditador Francisco Solano Lopez.

Fonte

  • Anotação de Noronha Santos na introdução do livro Memórias para Servir à História do Reino do Brasil

Imagem destacada

Veja também

Mapa – Rua Primeiro de Março – Antiga Rua Direita (começa na Praça XV de Novembro e termina na Ladeira São Bento)