Rua da Misericórdia, por Noronha Santos
![GUIA e plano da cidade do Rio de Janeiro. [S.l.: s.n.], 1858. 1 planta ; 30,2 x 40,7 em f. 35,5 x 47cm. Acervo digital da Biblioteca Nacional. GUIA e plano da cidade do Rio de Janeiro. [S.l.: s.n.], 1858. 1 planta ; 30,2 x 40,7 em f. 35,5 x 47cm. Acervo digital da Biblioteca Nacional.](/img/bn/bn_Guia-e-Plano-da-cidade-do-Rio-de-Janeiro-1858-Mc-Kinney_cart174224-Rua-da-Miseric%c3%b3rdia.jpg)
RUA DA MISERICÓRDIA – À pequena distância da sede do governo da Capitania e da casa da Câmara, que ficavam no Alto da Sé, abriu-se depois de 1569 essa rua, que teve várias denominações: Rua Direita para a Misericórdia, Rua para a Igreja do Bom Sucesso, conforme o autor do Santuário Mariano; Rua que vai de São José para a Misericórdia, em 1640 e, finalmente, Rua da Misericórdia.
“Foi a primeira rua do Rio – escreve Paulo Barreto. Dela partimos todos nós; nela passaram os vice-reis, os malandros, os gananciosos, os escravos nus, os senhores em redes; nela vicejou a imundície, nela desabotoou a flor da influência jesuítica… Dela brotou a cidade no antigo esplendor do Largo do Paço, dela decorreram, como de um corpo que sangra, os becos humildes e os coalhos de sangue, que são as praças ribeirinhas do mar. Mas soluço de espancado, primeiro esforço de uma porção de infelizes, ela continuou pelos séculos afora, sempre lamentável e tão angustiosa, franca e verdadeira na sua dor, que os patriotas lisonjeiros e os governos, ninguém, ninguém, se lembrou nunca de lhe tirar das esquinas aquela muda prece, – aquele grito de mendiga velha – Misericórdia!”
No Bairro da Misericórdia moravam nos tempos coloniais os mais importantes contratadores de produtos agrícolas e industriais; funcionavam os trapiches e conselho da Câmara, onde se reuniam os “homens bons”, e, aqui e ali, os armazéns e depósitos, com o cais do porto dos padres da Companhia, no qual carregavam e descarregavam mercadorias, com licença especial dos jesuítas.
Em 1806, determinou a vereança de 11 de junho prontas providências para o aterro dos charcos que “não davam passagem aos transeuntes que iam em caminho da Casa da Misericórdia”, achando os vereadores bem razoável a solicitação dos moradores da Rua Direita do Paço até à Misericórdia. Esta denominação, excepcionalmente citada em documento oficial, não a encontramos em papéis de outra natureza que temos consultado.
Dos becos coloniais que se comunicavam com a Rua da Misericórdia, cinco desapareceram com as obras da remodelação da cidade, restando em nossos dias os denominados do Cotovelo (hoje Vieira Fazenda), da Natividade, antigo da Torre; Dom Manuel, antigo Boa Morte até 29 de maio de 1871; Costa Velho – chamado do Guindaste até 1873, por haverem os jesuítas construído no local um aparelho para ascensão de materiais até o Morro do Castelo; da Fidalga – no qual se erguiam os prédios da nobre senhora D. Maria Antônia de Alencastro, que desabaram em abril de 1807 e o da Música, antiga travessa do Administrador.
Agripino Grieco, evocando numa de suas crônicas literárias os bequinhos do velho Rio de Janeiro, traça-nos colorida página, com o sabor de sua frase e através da qual ressurgem variados aspectos da cidade que guardamos ainda bem vivos na memória.
Fonte
- Anotação de Noronha Santos na introdução do livro Memórias para Servir à História do Reino do Brasil
Imagem destacada
- GUIA e plano da cidade do Rio de Janeiro. [S.l.: s.n.], 1858. 1 planta ; 30,2 x 40,7 em f. 35,5 x 47cm. Acervo digital da Biblioteca Nacional.
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