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Rua da Alfândega, por Noronha Santos

GUIA e plano da cidade do Rio de Janeiro. [S.l.: s.n.], 1858. 1 planta ; 30,2 x 40,7 em f. 35,5 x 47cm. Acervo digital da Biblioteca Nacional.
GUIA e plano da cidade do Rio de Janeiro. [S.l.: s.n.], 1858. 1 planta ; 30,2 x 40,7 em f. 35,5 x 47cm. Acervo digital da Biblioteca Nacional.

RUA DA ALFÂNDEGA – Primitivo Caminho de Capuerussú, que tinha começo na Rua Direita, junto ao mar, é um dos mais antigos logradouros da cidade, “sinão em toda sua extensão – informa Inocêncio da Rocha Maciel – no Tombamento Municipal, ao menos numa boa parte”. Entre a Rua Direita e a vala, foi designada pelo nome Quitanda do Marisco. Da vala para cima, chamava-se – campo da cidade[1], entre o “fosso”, onde hoje se vê a Rua Uruguaiana. Foi nesse campo que, a 22 de dezembro de 1705, se demarcou a área destinada ao rossio da cidade, com 103 braças de comprimento por 50 de largura, desde a Rua do Ouvidor à da Alfândega, estendendo-se até à atual Rua dos Andradas. (Índices e Extratos do Arquivo Municipal – fasc. I – pág. 66). Extra muros do campo, que se chamou mais tarde de São Domingos, havia desde o começou do século XVII uma espécie de estrada ou caminho que, por uma picada, atravessava vasto areal, em direção à Lagoa da Sentinela e, daí, ao engenho dos jesuítas, ou engenho pequeno, também conhecido por Engenho Velho. Com os sucessivos aforamentos, concedidos pela Câmara, o antigo caminho de Capuerussú ficou reduzido a um trecho de terreno limitado por testadas de chácaras, entre outras as de José Vargas Pizarro, Paulo de Carvalho da Silva, Antônio Coelho, Manuel Casado Viana e Belchior de Aguiar. Várias denominações teve essa rua: Diogo de Brito ou Diogo de Brito Lacerda, dos Governadorestravessa da Alfândega ou rua da travessa da AlfândegaMãe dos HomensFerradoresSanta EfigêniaOratório de Pedra e São Gonçalo Garcia.

Progredindo as construções e levantando-se alguns templos, deram-lhe os moradores nominações diversas, segundo os diferentes caracteres de seus quarteirões. Diogo de Brito Lacerda era filho de Manuel de Brito, senhor de uma dada de terras; ambos amigos dos frades beneditinos e benfeitores da Ordem de São Bento. O primeiro possuiu prédios no logradouro e talvez nele houvesse residido. Chamou-se Rua dos Governadores (1662), por haverem alguns dos chefes do governo da Capitania ocupado casas situadas nessa via pública, inclusive Salvador Corrêa de Sá e Benevides, que morou em frente à antiga porta da Alfândega, chamada porta da estiva. A denominação rua da travessa da Alfândega encontramo-la em documentos de 1761, 1790, 1794 e 1801. Os de 1761 dizem respeito aos entalhadores Antônio Gomes de Freitas e Antônio José da Rosa, que se encarregavam das obras nas igrejas, e ao marceneiro Lourenço Antônio Jaques (Autos – Arquivo Municipal). Os documentos de 1801 são concernentes à venda de uma morada de casas de sobrado a José Rodrigues Picanço, por 1:355$ , a 10 de dezembro. (Apud Bens dos jesuítas – cópias autênticas – Arquivo Municipal). – Chamou-se Mãe dos Homens o trecho da Rua da Quitanda até a Vala, por causa da Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens.

Rua da Alfândega com Rua da Conceição
Rua da Alfândega com Rua da Conceição

Da Rua da Vala à da Conceição – Ferradores; até à travessa São Domingos – Santa Efigênia, por motivo da construção da Igreja de Santa Efigênia. Rua do Oratório de Pedra, o trecho entre a travessa São Domingos e a atual Rua Regente Feijó. Do oratório de pedra, canto desta última rua ao campo de Sant’Ana, hoje Praça da República – foi conhecida por São Gonçalo Garcia, em homenagem à irmandade dessa invocação, que em 1761 inaugurara o seu templo. Além desses nomes, aparecem em escrituras antigas, as denominações de canto de Inácio Rodrigues (esquina da Rua da Candelária) canto de Pedro Domingues (esquina da Rua da Quitanda) e cantos de Antônio Duarte ou Antônio Duarte Velho e Alexandre da Costa, que foram proprietários e moradores abastados.

“Tantas e tão diversas denominações, escreve o historiador das terras da cidade, Inocêncio Maciel, deveriam trazer inconvenientes à população e ao fisco.” Quando a Câmara Municipal de 1837 a 1841, presidida por João Martins Lourenço Viana, procedeu à revisão de parte da nomenclatura dos logradouros públicos, fez designar toda a rua com um só nome – Rua da Alfândega, pelo qual, depois de 1822, era vulgarmente conhecida, por ser um dos acessos à repartição aduaneira.

Com as grandes obras da remodelação da cidade, a Rua da Alfândega não foi incluída em nenhum projeto de melhoramentos. Continuou estreita, apesar de possuir em seu trecho principal vistosas edificações. E permanecerá estreita, quando seria de grande vantagem o seu alargamento.

Fonte

  • Anotação de Noronha Santos na introdução do livro Memórias para Servir à História do Reino do Brasil

Nota do editor

  1. Chamava-se Campo da Cidade toda a vasta superfície compreendida entre o antigo fosso (Rua da Vala) e os mangues de São Diogo (hoje Cidade Nova). Ainda em 1711 toda esta imensa área era assim designada nas memórias que relatam a tomada da Cidade pelos franceses, apesar de se achar já por esse tempo retalhada e edificada em muitos lugares por diferentes chácaras. (Haddock Lobo, Tombo das Terras Municipais, pág. 10, 1863)

Imagem destacada

  • GUIA e plano da cidade do Rio de Janeiro. [S.l.: s.n.], 1858. 1 planta ; 30,2 x 40,7 em f. 35,5 x 47cm. Acervo digital da Biblioteca Nacional.

Mapa - Rua da Alfândega