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Ladeira do Seminário, por Noronha Santos

PLANTA da cidade do Rio de Janeiro. Paris [França]: Imp. Lenecier, [ca.1853]. Acervo digital da Biblioteca Nacional.
PLANTA da cidade do Rio de Janeiro. Paris [França]: Imp. Lenecier, [ca.1853]. Acervo digital da Biblioteca Nacional.

LADEIRA DO SEMINÁRIO – Pouco depois de instalado, em 1567 o governo colonial no morro ou penedia do Descanso, foram abertos caminhos regulares para a planície. Começaram os moradores e serventuários da governança a edificar, aqui e ali, intensificando-se as construções no governo de Salvador Correa de Sá.

Entre os funcionários providos por Mem de Sá, contava-se Mestre Vasco, porteiro da Câmara e pregoeiro da cidade, nomeado a 5 de abril de 1568 e empossado a 17 desse mês e ano, sem embargo de ver degredado. Ativo e generoso, procurava libertar-se do labéu de degredado, agravado de algum modo pelo processo criminal que sofrera na vila velha, à sombra do Cara de Cão e do qual se livrara em seis meses, prestando fiança de trinta cruzados em favor da confraria do mártir São Sebastião. Para se recomendar aos governantes, abrira uma cisterna, franqueando-a aos moradores do morro e consertara um dos caminhos abruptos recentemente traçados, precisamente aquele, no qual estava sua casa. Em recompensa por tais benefícios, a provisão de 6 de outubro de 1569, fê-lo cumulativamente serventuário do juízo de órfãos e da Provedoria, na qualidade de porteiro e pregoeiro – cujas funções ele as renunciou a 21 de janeiro de 1576 por estar muito velho e doente – assim o diz o primeiro livro de provisões e registos da Municipalidade.

Morro do Castelo,
Morro do Castelo, via Library of Congress

Caminho do Poço do Porteiro ou, simplesmente do Porteiro, ficou conhecida a vereda que do morro ia ter aos lodaçais da planície. Na correição do ouvidor Luiz Nogueira de Brito, de 24 de outubro de 1624, proveu esse magistrado sobre as terras do conselho, navios cargueiros e logradouros e, dentre os que deveriam ser conservados, incluiu o Caminho do Porteiro. Apesar de figurar por vezes essa nominação em documentos oficiais até a fundação do Seminário Episcopal de São José, na linguagem do povo chamou-se também Ladeira da Ajuda. Em 1739 passou a ter o nome de Ladeira do Seminário. O aviso régio de 14 de dezembro de 1820 proibiu edificações nos terrenos que, da Rua da Ajuda se estendiam até o Morro do Castelo. Não obstante essa proibição construíram-se posteriormente pequenas casas num caminho de servidão pública aberto em 1871 na chácara de Manuel Marinho Lopes, número 41 da ladeira, como se verifica de documentos que tratam de logradouros públicos. Entre a ladeira e os fundos da Igreja de São Sebastião, existiu o Forte de São Januário – ou Baluarte da Sé, artilhado com onze peças e princípios do século XVIII e reconstruído ao tempo do vice-reinado do Marquês de Lavradio.

Para a abertura da Avenida Central demoliram-se em 1904 o casarão do Seminário de São José e os prédios ns. 12 a 26 e 1 a 15, tendo sido excluídos 19 imóveis erguidos no lance superior da ladeira e 6 no alto do morro. Posteriormente, sendo pequeno o espaço para a construção do edifício da Biblioteca Nacional, foram desapropriados aqueles 19 prédios.

Decretada na administração do prefeito Carlos Sampaio a demolição total do morro, desapareceram em 1921 e 1922 os seis únicos imóveis que restavam na ladeira.

Do Caminho do Poço do Porteiro, e da Ladeira da Ajuda ou do Seminário, que atravessaram os séculos de existência da cidade, tudo despareceu com a derrubada da colina histórica, que foi o primeiro assento do Rio de Janeiro.

Fonte

  • Anotação de Noronha Santos na introdução do livro Memórias para Servir à História do Reino do Brasil

Imagem destacada

  • PLANTA da cidade do Rio de Janeiro. Paris [França]: Imp. Lenecier, [ca.1853]. 1 planta, 69,6 x 58. Acervo digital da Biblioteca Nacional.

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