Arraial de Mataporcos, por Noronha Santos
![PIANTA della cittá di S. Sebastiano di Rio de Janeiro. Nápoles [Itália]: Real Litografia Militare, 1844. Acervo digital da Biblioteca Nacional. PIANTA della cittá di S. Sebastiano di Rio de Janeiro. Nápoles [Itália]: Real Litografia Militare, 1844. Acervo digital da Biblioteca Nacional.](/img/bn/bn-Pianta-della-citt%c3%a1-di-S.-Sebastiano-di-Rio-de-Janeiro-cart326111-Mata-Porco.jpg)
ARRAIAL DE MATAPORCOS – “Neste sítio – escreve monsenhor José de Souza Azevedo Pizarro e Araújo (Memórias Históricas do Rio de Janeiro), coberto de arvoredos silvestres, se criavam, além de caças grossas, abundantes varas de porcos, que, depois de mortos, eram conduzidos à cidade. Por isso ficou conhecido com o nome expressivo de Mata-porcos, devendo dizer-se mata dos porcos. O lugar é dos mais aprazíveis dos subúrbios da cidade, não só por conter o seu distrito propriedades nobres e ser habitado por suficiente povo, mas em razão da estrada geral que o atravessa em direitura ao Campo de São Cristóvão.”
O acesso a esse lugar só foi franqueado, com regularidade, em 1791, como se vê do auto de vistoria procedido em 29 de janeiro desse ano, que determinou o arruamento da estrada da Cruz das Almas até o Barro Vermelho.
Em terras da antiga Fazenda de Mataporcos, de Rocha Machado, existiam três pontes, que se tornaram célebres no cadastro do crime. Na revista Arquivo do Distrito Federal – vol. 1.º – pág. 96), Melo Morais Filho, reproduz a esse respeito o que se lê em Quadros e Crônicas, de sua autoria, sob o título – A lenda das três pontes: “Indo-se de Mataporcos (hoje Estácio de Sá) para São Cristóvão, via-se um pequeno arco, que dava passagem às águas de córrego das imediações. Nesse lugar havia três pontes: A primeira era conhecida com a denominação de aperta a goela, e recebeu do povo esse nome, por que os malfeitores que assaltavam as lavadeiras e os escravos que por ali transitavam com cargas, apertavam-lhes a garganta. A segunda se chamava cala a boca – porque quando os salteadores atacavam os viandantes, faziam-lhes sinal de calar a boca, de não gritar. A esta ponte sucedia a não te importes, originando-se lhe a denominação do fato de quando seguiam os ladrões com os objetos roubados, diziam para quem os olhava: – não te importes. As três pontes de alvenaria e lajedo, foram mandadas construir pelo rico senhor de engenho Manuel Caetano Pinto.”
Em 1806 a estrada de Mataporcos recebeu melhoramentos, inclusive aterramento de pântanos executados pelos moradores, que para isso foram compelidos pelo Senado da Câmara. A 18 de janeiro, notificou o alcaide aos proprietários e moradores que, no termo de oito dias, consertassem as testadas de suas casas. Os que não cumprissem essa notificação seriam condenados à multa de 6$ e 30 dias de cadeia.
Outro documento que diz respeito à conservação do arraial de Mataporcos, se lê em papeis sobre logradouros públicos. Pelas diligências a que procedera, intimação aos moradores vizinhos da Igreja do Espírito Santo e pagamento dos quadrilheiros, requereu em 1808 o alcaide Francisco Antônio de Almeida, arrematante da renda da Alcaidaria-mor, pertencente ao Visconde de Asseca, a indenização da quantia de 44$440.
A Estrada de Mataporcos, que atravessava o arraial e se bifurcava com as de São Cristóvão e Engenho Velho, constituía vasto pantanal, que, por ocasião das chuvas de verão não permitia a passagem de pedestres e cavaleiros. Luccock, em suas Notas sobre o Rio de Janeiro e partes meridionais do Brasil (1808-1818), regista, com a veracidade que os documentos confirmam, a péssima conservação do caminho.
Não obstante as condições do terreno pantanoso, encontravam-se nesse lugar muitas chácaras, com casas de campo, à feição de propriedades de recreio, onde se cultivam frutas, legumes e flores, e às quais se refere Debret, na Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Estavam aquelas chácaras com suas vivendas, incluídas no rol de lançamento da décima urbana em 1808, com a coleta de 49 prédios na Estrada de Mataporcos, 37 do lado direito e 12 do esquerdo.
Por proposta do vereador Dr. João Batista dos Santos, em sessão da Câmara Municipal, de 14 de novembro de 1865, denominou-se a velha estrada – Rua Estácio de Sá, em memória do primeiro capitão-mor e governador do Rio de Janeiro.
Na administração municipal do Dr. Cândido Barata Ribeiro, desapropriaram-se pelo decreto n. 6, de 15 de fevereiro de 1893, os terrenos onde existiram os prédios ns. 80 a 86, junto ao Largo Estácio de Sá, e imprescindíveis para o alargamento do logradouro.
Fonte
- Anotação de Noronha Santos na introdução do livro Memórias para Servir à História do Reino do Brasil
Imagem destacada
Acervo digital da Biblioteca Nacional.* PIANTA della cittá di S. Sebastiano di Rio de Janeiro. Nápoles [Itália]: Real Litografia Militare, 1844. 1 planta, col., 42,1 x 64,5. Acervo digital da Biblioteca Nacional.
Mapa - Largo do Estácio