Prainha, por Noronha Santos
![PIANTA della cittá di S. Sebastiano di Rio de Janeiro. Nápoles [Itália]: Real Litografia Militare, 1844. Acervo digital da Biblioteca Nacional. PIANTA della cittá di S. Sebastiano di Rio de Janeiro. Nápoles [Itália]: Real Litografia Militare, 1844. Acervo digital da Biblioteca Nacional.](/img/bn/bn-Pianta-della-citt%c3%a1-di-S.-Sebastiano-di-Rio-de-Janeiro-cart326111-praias.jpg)
PRAINHA – Já em 1647, a requerimento do governador da Capitania do Rio de Janeiro, Duarte Correa Vasqueanes, lavrara-se a 26 de novembro, nos paços do conselho dos vereadores, um auto sobre a defesa da cidade, na qual se aludira aos trincheirões existentes na Prainha (Acórdãos de Vereanças – 1635-1650). Em documentos setecentistas encontram-se referências a um caminho que, através de terrenos alagadiços, iam ter às terras dos frades de São Bento. O governador Luís Vahia Monteiro concedeu em 1731 a Domingos Martins de Brito uma área de terrenos, com a obrigação de se abrir um caminho público e construir um cais e trincheiras, que se limitariam com cinquenta braças de testada junto ao mar.
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Na Praia de São Bento, local mais tarde cordeado para a abertura do Largo da Prainha [1], mandou o chanceler do Tribunal da Relação, João Pereira Pacheco, levantar o patíbulo. Em virtude de representação dos frades beneditinos, horrorizados com o espetáculo das execuções dos condenados, resolveu o último governador do Rio de Janeiro, Gomes Freire de Andrade, (Conde de Bobadela), remover daquele lugar a forca, mau grado a tenaz oposição do desembargador Pacheco. Não obstante a benéfica interferência de Gomes Freire, voltou o patíbulo a ser armado no mesmo lugar, para ser, afinal, demolido por decreto de 17 de junho de 1834. Daí em diante, uma e outra vês, armou-se a forca e, assim mesmo, tão somente na véspera da execução do condenado, para ser desarmada invariavelmente no dia seguinte ao da lúgubre cerimônia da justiça pública.
Baltasar Lisboa, em seus Anais do Rio de Janeiro (6.º vol. – pág. 342), Vieira Fazenda (Antiqualhas e Memórias) e Escragnolle Dória (Revista da Semana – 28 de abril de 1928), oferecem proveitosos subsídios em relação à forca que ali existiu e ao antigo Bairro da Prainha [2].
Muito antes de 1808 começara a Prainha a ter notável desenvolvimento. Com o aumento da edificação, instalaram-se na faixa das marinhas, barracas, depósitos e armazéns de produtos agrícolas. Ocuparam-na pescadores e embarcadiços, traficantes de escravos, madeireiros e tanoeiros. A carta régia de 31 de outubro daquele ano procurou regularizar a forma pela qual poderiam ser ocupadas essa e outras praias, reprimindo abusos e frequentes explorações de intrusos ali instalados. Mas, só em 1827, foram despejados da Prainha traficantes e atravessadores e pôde, então, o comércio honesto estabelecer-se no bairro, surgindo os grandes trapiches, armazéns e depósitos de café, que se expandiram para a Rua Nova de São Francisco da Prainha, aberta em 1819 (denominada Rua da Saúde em 1855 [3].) e para outros logradouros circunvizinhos.
Notas do editor
- ↑ Atual Praça Mauá. Fonte: Restier Gonçalves – Extratos Sobre Aforamentos – Índice Atualizado dos Logradouros (1929).
- ↑ Atual Bairro da Saúde. Fonte: Restier Gonçalves – Extratos Sobre Aforamentos – Índice Atualizado dos Logradouros (1929).
- ↑ Atual Rua Sacadura Cabral. Fonte: Restier Gonçalves – Extratos Sobre Aforamentos – Índice Atualizado dos Logradouros (1929).
Fonte
- Anotação de Noronha Santos na introdução do livro Memórias para Servir à História do Reino do Brasil
Imagem destacada
- PIANTA della cittá di S. Sebastiano di Rio de Janeiro. Nápoles [Itália]: Real Litografia Militare, 1844. 1 planta, col., 42,1 x 64,5. Acervo digital da Biblioteca Nacional.
Mapa - Largo de São Francisco da Prainha