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Chafariz de Santa Rita, por Magalhães Corrêa

O chafariz do Largo de Santa Rita, por Magalhães Corrêa
O chafariz do Largo de Santa Rita, por Magalhães Corrêa

Com a canalização dos rios Comprido e Maracanã, foi mais fácil a colocação dos chafarizes nos lugares mais afastados da Carioca.

No Largo de Santa Rita, no fim da Rua dos Ourives, elevou-se a igreja paroquial de Santa Rita, e, no centro do largo do mesmo nome, foi construído um chafariz, no lugar em que existia um cruzeiro de mármore, visto ter sido aí o cemitério dos escravos.

Chafariz e Igreja de Santa Rita,
Chafariz e Igreja de Santa Rita, via SMB

Contam os historiadores que uma noite fazendo sentinela um soldado, para evitar que fossem aí depositar cadáveres, o que era proibido, apareceram três vultos embuçados, de braço dado, que se aproximaram da porta da igreja e se ajoelharam. Decorrido algum tempo, dois retiraram-se, ficando o último de joelhos. O soldado, percebendo a demora do mesmo em se erguer, aproximou-se dele e ordenou que se levantasse; não teve, porém, resposta; fez-lhe nova observação, batendo-lhe no ombro; com esse movimento, o devoto caiu ao chão. E qual não foi a sua surpresa quando, examinando-o, viu que era um cadáver, que os dois embuçados tinham deixado encostado no cunhal da igreja!

Mas nesse tempo era comum esse proceder e até em 1877, ainda mais horrível, pois deixavam, à voracidade dos cães das ruas, cadáveres de recém-nascidos!

Em 1839, levantou-se o Chafariz de Santa Rita e, para isso, assentaram quatro lajes brutas, 16 peças de bordadura e 48 das diferentes fiadas, cortando-se de novo todas as juntas para se adaptarem as pedras umas às outras e pela parte interna, em forma circular, para a formação do zabumba, e a passagem do tubo de espera; fizeram-se de novo o tampo do registro, a caixa do tubo de espera, o cano do sumidouro, e 572 pés cúbicos de massame de pedra e cal; fabricou-se e assentou-se o tubo de espera de chumbo, e o grande registro de bronze, além de outros objetos de menor importância.

Para trazer as águas do aqueduto da Carioca ao Chafariz de Santa Rita, encomendou o governo para a Inglaterra um encanamento de chumbo da extensão de 3.290 pés ingleses, pondo à disposição do nosso Encarregado de Negócios, em Londres, a quantia de 8:000$, para aquela despesa. Logo que chegaram os tubos encomendados e assentes, ficou a obra pronta. (Relat. Assis Coelho – 1840.)

Era esse chafariz com a forma de um polígono octogonal regular, composto de quatro corpos sobrepostos. A base octogonal era composta de quatro degraus que tinham nos ângulos externos frades de pedra. Sobre o patamar, levantava-se o tanque octogonal, saindo do seu interior outro corpo octogonal, com oito bicas nas respectivas faces, tendo duas vezes e meia a altura do tanque e terminando por uma cornija sobre esse corpo, o último, menor em altura e largura, coberto por uma cúpula esférica. Nos ângulos, erguiam– se oito frades de pedra dos quais quatro suportavam um mastro de ferro, à guisa de forca, de que pendiam lampiões de azeite; estes apareceram nos chafarizes na administração de Paulo Fernandes Vianna.

Os frades de pedra ou postes de pedra são assim denominados pelo povo, por lembrar a sua parte superior a cabeça raspada de um monge. Eram colocados nas entradas das chácaras dos grandes solares que começaram a aparecer com a minoridade de D. Pedro.

Os frades de pedra ainda indicam proibição de rodagem.

Na antiguidade, o frade de pedra era venerado como representante do Deus Phallus e empregado como protetor dos monumentos e edifícios, substituindo as calçadas, entre os gregos e romanos.

Em Portugal e no Brasil, empregaram-se nos cantos das ruas, em ornamentos, junto aos monumentos e fechavam, decorativamente, logradouros públicos.

Existiram no Largo do Rocio sem correntes, no Pelourinho, com correntes, como cercando a praça, e desse mesmo modo, no Rocio Pequeno (Praça 11 de Junho), Largo de São Domingos, e, atualmente, existem na Praça do Arsenal, em Realengo.

Fonte

  • Corrêa, Armando Magalhães. Terra Carioca - Fontes e Chafarizes. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1939. 214 p. Ed. do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. (Reimpressão feita pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Coleção Memória do Rio, vol. 4).

Mapa - Largo de Santa Rita