Chafariz das Lavadeiras, por Magalhães Corrêa
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Como aconteceu com os mananciais do Carioca, também foram atingidos um ano depois os dos Rios Comprido e Maracanã.
O decreto de 17 de Agosto de 1818 mandava proteger o terreno das nascentes do Rio Comprido, Trapicheiro, Meirelles, do São João e Maracanã.
Sendo escassas as águas devido às secas e quando havia enxurradas vinham com impurezas trazendo prejuízo à saúde do povo, resolveu S. majestade que se efetuasse a condução das águas do Rio Andaraí ou Maracanã para o Campo de Santana, como já havia pensado o Conde de Rezende, em benefício da Cidade Nova e sua redondeza, Gamboa, Valongo, lugares longe do chafariz da Carioca, segundo Pizarro.
Mas a ideia pertence a Tiradentes, que passou por maluco, por esse fato…
Os habitantes destas paragens se proviam com grande custo das águas conduzidas por canoas do sítio de São Cristóvão.
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Criada a Intendência Geral da Polícia em 5 de Abril de 1808, foi nomeado o desembargador P. Fernandes Vianna, que deixou o cargo em 1821. Diz ele em seu relatório: “Dispus uma bica d’água no portão da Chácara, em que esteve a fábrica das Chitas donde o povo se provia, fui procurar trazer desde a serra água em obra durável e de muito boa qualidade, para pôr um chafariz no largo das Lavadeiras, tendo chegado o encanamento já perto do local, onde se há de erguer o chafariz, tudo bem feito e com desvios e escoamentos das enchentes e nesta parte estava quando larguei o emprego e a obra deve continuar para se não perder o que está feito e com tanto custo conseguir-se perfeitamente o benefício público, que se procurava fazer.”
Tendo o conselheiro Paulo Fernandes Vianna encaminhado aquelas águas pelas costas dos morros desde sua origem, por canos de madeira, até ao Campo da Honra, depois Campo de Santana, aí principiaram a jorrar em 24 de junho de 1818 por vinte e duas bicas. (“Gazeta do Rio” n. 51 de Junho de 1818).
Assim, concluídas as obras do encanamento provisório, depois de longos trabalhos, foi entregue ao povo o chafariz, que, em 1836, fornecia água a duas mil lavadeiras, mas as obras definitivas foram além, pois, em 1837, não estavam ainda concluídas, faltavam 3.078 braças de aqueduto de alvenaria e telhões de barro, e só 200 braças estavam prontas.
A inauguração foi feita pelo rei e toda a corte, e com toda pompa.
“O Chafariz das Lavadeiras ou do Campo da Honra foi totalmente consertado, limpo e pintado, em 1839; a vala que dava esgoto as suas águas foi desobstruída, levantando-se para isso grandes lajes que se colocaram outra vez em seus lugares.” (Rel. de 1840).
Arruinado em 1873, depois de 55 anos de bons serviços, foi demolido por estar inutilizado e ser horrenda a sua fisionômica arquitetônica.
Algumas pedras foram aproveitadas para a base dos gradis de E. Rivadávia Corrêa, segundo o professor Adalberto Mattos, mas retiradas na administração do Prefeito Pedro Ernesto.
O Chafariz das Lavadeiras tinha o aspecto de um gasômetro, formando o seu todo quatro corpos:
O primeiro, formado de uma escadaria de cinco degraus, em forma de círculos concêntricos dando acesso ao tanque; o segundo de forma cilíndrica de um metro e vinte de alto e, sobre esse segundo corpo, um cilindro, tendo a metade do diâmetro do tanque de altura, e a largura menor um pouco que a altura, com vinte e duas bicas na sua periferia, que projetavam o líquido sobre o tanque, e arrematava na parte superior por uma cornija: sobre este terceiro corpo, surgia outro, cilíndrico, menor, cuja parte superior tinha uma saliência de pouco balanço, servindo de cobertura e sob ela jorrava água como chuveiro sobre o outro inferior.
Na praça, erguiam-se oito colunas rodeando o chafariz, colocadas duas a duas, nos quatro ângulos; cada uma, com o seu lampião, duas grandes pias sempre cheias de lavadeiras e soldados; fora das colunas, havia ainda outras duas pias menores, para os animais.
Nas noites de calor, os estudantes transformavam o tanque do chafariz em piscina. Frequentemente, nas noites de luar iam eles cobertos de lençóis, para o apetitoso banho; mas o povo apavorou-se com os tais fantasmas, o que obrigou os urbanos a lhes darem caça. Daí acabaram-se os fantasmas e os banhos…
Fonte
- Corrêa, Armando Magalhães. Terra Carioca - Fontes e Chafarizes. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1939. 214 p. Ed. do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. (Reimpressão feita pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Coleção Memória do Rio, vol. 4).
Imagem destacada
- PLANTA da Cidade do Rio de Janeiro. [S.l.: s.n.], [18–?]. 1 planta, 23 x 32 cm. Acervo digital da Biblioteca Nacional.
Veja também
- LOEILLOT, W. O chafariz do Campo (1835) : tomado da Igreja de Sª Anna = Fontaine du Campo : depuis l’eglise de Ste. Anne. [S.l.: s.n.], [1835]. 1 grav, aquarela, pb, 48 x 30,5. Disponível em: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/icon393016/icon393016_06.jpg. Acesso em: 13 set. 2020. Disponível em: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/icon393016/icon393016_06.htm. Acesso em: 13 set. 2020.
Mapa - Chafariz das Lavadeiras no Campo da Aclamação