Serviço Telefônico, por Charles Julius Dunlop

AINDA hoje a França e a Escócia disputam a glória de ter sido o berço do inventor do telefone. Aquele país diz que a descoberta é de um operário francês chamado Charles Bourseul; a Escócia afirma que o verdadeiro inventor foi o educador de surdos mudos Alexander Graham Bell, nascido em Edimburgo a 3 de março de 1847 e falecido no Canadá a 2 de agosto de 1922.
Como quer que seja, o telefone começou a ser conhecido, quando foi visto pela primeira vez em um dos recantos da Exposição do Centenário da Independência Norte Americana, realizada em Fairmount Park, na cidade de Filadélfia, de 10 de maio a 10 de novembro de 1876. O seu expositor foi Graham Bell, que havia tirado privilégio do aparelho a 7 de março daquele ano, duas horas antes do eletricista Elisha Gray dar entrada na respectiva repartição a um requerimento pedindo privilégio para outro aparelho com o mesmo fim, isto é, ouvir à distância.
D. Pedro II estava então em Filadélfia, aonde fora assistir à Exposição. Convidado para ver o telefone, Sua Majestade foi ao pavilhão, onde o aparelho se encontrava. Aí, Graham Bell pediu-lhe levasse o fone ao ouvido: o monarca ficou extasiado, ouvindo as respostas às perguntas que fazia.
No ano seguinte (1877), a cidade de Lowel, nos Estados Unidos, instalava a primeira estacão telefônica urbana, com 45 assinantes, e, nesse mesmo ano, a 29 de novembro, o Rio de Janeiro inaugurava também esse serviço, muito deficientemente.
Antes disso, porém, já a Western and Brazilian Telegraph Company tinha instalado esses aparelhos para seu uso particular e, pouco depois, a firma Rodde & Company também punha em comunicação seus armazéns e escritórios.
Pelo Decreto n.° 7.539, de 15 de novembro de 1879, 0 governo imperial dava a Charles Paul MacKie, de Boston, Estados Unidos, a primeira concessão para construir e explorar linhas telefônicas no Rio de Janeiro e seus subúrbios e na cidade de Niterói, ligando-as por cabo submarino. Não obstante, pouco se fez relativamente a este serviço. Ou porque a cidade fosse pequena e esse meio de comunicação pudesse perfeitamente ser dispensado, ou porque o concessionário não obtivesse os capitais necessários para iniciar o serviço, o fato é que o telefone não se vulgarizou e o Rio de Janeiro ficou sem este melhoramento.
Veio a República. O Decreto n.° 199, de 6 de fevereiro de 1890, assinado pelo Governo Provisório, cedeu à Municipalidade as poucas linhas existentes, e, a 26 de março do mesmo ano, esta contratou com a Empresa de Obras Públicas no Brasil a exploração do serviço. Decorridos seis anos e não tendo a empresa dado início aos trabalhos, foi o Prefeito autorizado, pelo Decreto n.º 276, de 22 de maio de 1896, a rescindir o contrato de 1890. A 8 de janeiro de 1897, pelo Decreto n.º 49, foi, afinal, considerada caduca a concessão. Nesse mesmo ano, a 13 de novembro, a Prefeitura contratou sua exploração conjuntamente com as firmas Siemens & Halske Aktien Gesellschaft e Alberto Frend & Cia., aquela de Berlim e esta então estabelecida na rua Gonçalves Dias n.° 38.
Por Termo de 18 de junho de 1898, Alberto Frend & Cia. transferiram a sua parte na concessão a Theodor Wille & Cia., e a 17 de janeiro do ano seguinte a nova firma — Siemens & Halske Aktien Gesellschaft e Theodor Wille & Cia. — celebrou com a Prefeitura contrato substitutivo ao de 1897.
A 6 de junho de 1899 essa firma transferiu a concessão para a Brasilianische Eleciricitats Gesellschaft, tendo esta assinado com a Prefeitura o célebre contrato de 11 de setembro de 1922, que motivou rumorosa questão judiciária.
A fotografia de Augusto Malta mostra um grupo de telefonistas da antiga companhia alemã, em 1915.
Fonte
- Dunlop, Charles Julius. Rio Antigo. 3ª Tiragem ed. Rio de Janeiro: Editora Rio Antigo, 1963. (Composto e impresso na Gráfica Laemmert, Ltda.).
Mapa — (rua Gonçalves Dias n.° 38, ao lado da Confeitaria Colombo)