Novo Quartel do Corpo de Bombeiros, por Charles Julius Dunlop

RENOVADO, melhorado e ampliado, inaugurou-se no dia 23 de maio de 1908, o quartel central do Corpo de Bombeiros(1), na Praça da República. O vistoso edifício, que custara 1.302 contos, amanheceu todo ornamentado de bandeiras e folhagens.
À 1 hora da tarde teve lugar a cerimônia da inauguração, com a presença do Presidente da República, Dr. Afonso Augusto Moreira Pena, Ministros de Estado e altas autoridades civis e militares, além de muitos convidados, entre os quais algumas representantes do belo sexo que deram à festa uma nota encantadora.
O Dr. Afonso Pena chegou em companhia de sua esposa e da senhorinha Regina Pena, dos membros de suas Casas Civil e Militar e do Ministro do Interior, Dr. Augusto Tavares de Lyra, sendo recebido pelo coronel-comandante Feliciano Benjamin de Souza Aguiar e toda a oficialidade do Corpo de Bombeiros, que formou alas para dar passagem ao Chefe da Nação.
Nessa ocasião, as bandas de música tocaram o Hino Nacional. Em seguida, acompanhado das autoridades e convidados, o Dr. Afonso Pena visitou todas as dependências do novo edifício, detendo-se a observá-las com atenção, e recebendo explicações do comandante Souza Aguiar.
Depois dessa minuciosa visita, dirigiu-se para uma das varandas internas (vide fotografia) a fim de apreciar um exercício de simulacro de incêndio. Ao sinal de alarme, os bombeiros puseram-se imediatamente em movimento, simulando a torre das mangueiras o prédio incendiado. Funcionou uma bomba com cinco linhas, várias escadas, sacos de salvamento e salva-vidas, com praças do Corpo fingindo de moradores da casa sinistrada.
Terminado o exercício com grande perícia e agilidade, os bombeiros receberam muitas palmas e elogios.
A seguir, o Presidente da República subiu os 268 degraus da torre central, de onde apreciou o imponente panorama da cidade que dali se descortina.
Após a descida da torre central, o tenente-coronel Cunha Pires procedeu à leitura da “Ordem do Dia”, perante as autoridades e a oficialidade do Corpo. Assim que terminou a leitura, houve outro alarme de incêndio, desta vez, porém, verdadeiro, saindo rapidamente alguns carros para extinguir o fogo que irrompera numa casa em São Cristóvão.
Seguiu-se um “lunch”, no qual tomaram parte os ilustres convidados, notando-se entre os presentes, além das figuras já mencionadas, o Dr. Miguel Calmon du Pin e Almeida, Ministro da Viação; Almirante Alexandrino Faria de Alencar, Ministro da Marinha; Dr. Alfredo Pinto, Chefe de Polícia; Dr. Oto de Alencar, Inspetor Geral de Iluminação; senadores Pinheiro Machado e Antônio Azeredo; deputados Pandiá Calógeras, Venceslau Braz e Froes da Cruz; Dr. Edmundo Veiga; comandante Veloso Rabelo, Dr. Temístocles de Freitas; Baronesa de Wilson; Dr. Sampaio Corrêa; Dr. Graça Couto e senhora; senhorinha Hortência Rio Branco; família Osório Mascarenhas, e muitas outras pessoas gradas.
Às 3 ½ retirou-se o Presidente da República, manifestando antes ao coronel Souza Aguiar a agradável impressão que lhe havia deixado a briosa corporação.
Mas a festa prosseguiu e, à noite, com todas as gambiarras acesas, o edifício apresentava aspecto deslumbrante.
Os Ministros do Interior e da Viação e a família do Presidente da República foram ter lá novamente, a fim de apreciar o efeito da iluminação. Como também comparecessem muitas outras famílias, a festa acabou num animado baile, que se prolongou até alta madrugada.
Nota
Fonte
- Dunlop, Charles Julius. Rio Antigo. 3ª Tiragem ed. Rio de Janeiro: Editora Rio Antigo, 1963. (Composto e impresso na Gráfica Laemmert, Ltda.).
Mapa - Quartel do Corpo de Bombeiros na Praça da República