/ Rio Antigo / Copacabana no …

Copacabana no Século Passado (Século XIX), por Charles Julius Dunlop

Copacabana no Século Passado (Século XIX). Acervo digital da Biblioteca Nacional.
Copacabana no Século Passado (Século XIX). Acervo digital da Biblioteca Nacional.

NÃO FAZ muito tempo, perdia-se de vista a “praia de límpidas areias” de Copacabana. Situada entre o morro do Leme e a ponta da Igrejinha, a vasta área compreendida entre as dunas e a encosta das montanhas nada mais era que um grande campo arenoso semeado de alagadiços e brejos e coberto de cajueiros e pitangueiras. As pedras do Inhangá como que dividiam a grande praia em duas: o Leme e Copacabana propriamente dita.

Habitada por um ou outro humilde pescador, fazia-se com muita dificuldade a comunicação da cidade com esse longínquo arrabalde: pela trilha do forte do Leme (atual ladeira do Leme), passando sob os arcos da fortificação mandada levantar pelo Marquês do Lavradio; pela estrada de meia rodagem de Vila Rica, descendo a atual ladeira dos Tabajaras; ou pelo caminho da lagoa Rodrigo de Freitas, passando pela Fonte da Saudade, pela praia Funda (hoje Praça Corumbá Senador Filinto Müller, entre a Lagoa Rodrigo de Freitas e o Corte do Cantagalo) e galgando a garganta entre os morros dos Cabritos e do Cantagalo.

Em 1890, sendo concedida permissão à Companhia Ferro-Carril do Jardim Botânico para estender as suas linhas de bondes até Copacabana, procedeu-se ao estudo de onde se deveria construir a ligação principal com o centro e, desse estudo, chegou-se à conclusão de que seria necessário realizar a abertura de um túnel, comunicando a Rua da Real Grandeza com a que hoje se denomina Siqueira Campos, varando a grota de junção dos morros do Papagaio e da Saudade.

“Passei, então, a experimentar as mais veementes críticas – contava o saudoso engenheiro José de Cupertino Coelho Cintra, gerente daquela empresa. Que aquilo era uma loucura! Bondes para apanhar caju e areia em Copacabana!”

Mas as obras se ultimaram, sendo o tráfego de bondinhos de burros inaugurado solenemente no dia 6 de julho de 1892.

Nesse dia, pouco depois de 1 hora da tarde, partiram da Rua Gonçalves Dias dez bondes especiais, indo, no primeiro, a banda de música dos marinheiros nacionais; no imediato, o Vice-Presidente da República em exercício da Presidência, Marechal Floriano Peixoto, acompanhado do seu Estado Maior, do presidente do Senado, presidente da Intendência Municipal, Ministros da Marinha, da Guerra e do Interior e a diretoria da Companhia, e nos demais carros, os convidados.

Atravessaram o túnel de 180 metros de extensão, iluminado a luz elétrica e enfeitado com arbustos.

Pelas 2 ½ chegou a comitiva à estação edificada no centro da planície e também festivamente ornamentada. Esta elegante estação, toda de madeira, situada na esquina da Rua Siqueira Campos com a Avenida Nossa Senhora de Copacabana, que, nesse tempo, eram simples caminhos arenosos, por onde circulavam carroças empregadas no pequeno comércio de areia fina, marcava o ponto inicial de onde teriam de partir os ramais para o Leme e Igrejinha, posteriormente estabelecidos.

Lavrada e assinada a “Ata de Inauguração do Tráfego Ferro-Carril”, foi oferecido um lauto “lunch” aos convidados.

Em diversos pontos da linha foram soltados foguetes e dadas salvas, por ocasião da passagem da comitiva, que retornou à Rua Gonçalves Dias às 6 horas da tarde.

No ano seguinte (1893), a Companhia promoveu em Copacabana, durante trinta dias, a partir de 24 de março, grandes festejos, constantes de música, embandeiramento e feira franca, em benefício de uma escola no novo bairro. A feira franca se compunha de barraquinhas, leilão de prendas, cosmoramas, cavalinhos de pau e outros divertimentos da época.

Principiou daí o desenvolvimento daquele “deserto”.

Fonte

  • Dunlop, Charles Julius. Rio Antigo. 3ª Tiragem ed. Rio de Janeiro: Editora Rio Antigo, 1963. (Composto e impresso na Gráfica Laemmert, Ltda.).

Mapa - Bairro de Copacabana

Fonte: Instituto Pereira Passos - DATA.RIO - Limites de Bairros