Copacabana no Começo do Século (XX), por Charles Julius Dunlop

NO COMEÇO deste século (XX), a Companhia Ferro-Carril do Jardim Botânico, com o fim de atrair passageiros para o novo “arrabalde” de Copacabana, afixava à porta de suas estações grandes tabuletas, em que se liam anúncios como este:

“Quereis gozar de boa saúde? Ide a Copacabana. Bondes em quantidade”.
Ou então:
“Passeio agradável e refrigerante: Copacabana. Bondes até às 2 horas da manhã”.
Chovesse ou não chovesse, fizesse calor ou não, o cartaz assegurava:
“O luar é encantador, sendo as noites muito frescas, graças aos ares do alto mar”.
Havia, também, a propaganda impressa no verso dos cupons das passagens, que o carioca folgazão apelidara de “Conselhos de Higiene Poética”. Eis alguns desses versos pitorescos:
“Graciosas senhoritas, moços chiques: Fugi das ruas, da poeira insana. Não há lugares para piqueniques, Como em Copa-ca-ba-na”. “Noivos que o céu gozais em pleno juízo, Almas que a mágoa nem de leve empana, Quereis de vossas noivas no sorriso Ler a maior felicidade humana? Prometei-lhes morar num paraíso Róseo – em Copacabana”. “Viveis do sonho? Ide enlevar em cismas A alma que em vossos corações se aninha; Vereis a vida por estranhos prismas Sobre os rochedos pardos da Igrejinha”. “Ide a Copacabana Espairecer sobre as areias lisas. Ali, esquecereis da vida humana O fel travoso, que rebaixa e dana, Ao perpassar das salitradas brisas”. “Ó pais que tendes filhos enfezados, Frágeis, macilentos e nervosos, Afastai-os da manga e da banana. À beira-mar; Aos ares salitrados! E eis de vê-los rosados e viçosos. Para Copacabana!”.
Aquela “banana” como rima de “Copacabana” era de primeiríssima ordem. E todos indagavam quem era o “Poeta Desconhecido” que escrevia os versos dos cupons…
A fotografia destacada mostra Copacabana daqueles bons tempos, vendo-se, à direita, na esquina da Rua da Igrejinha (atual Francisco Otaviano) o restaurante-bar Mère Louise, de má reputação, que lembrava, exteriormente, um cabaré de filme do “far-west”. No local, ergue-se hoje o estúdio da TV-Rio Hotel Sofitel Rio de Janeiro Copacabana. A segunda fotografia, da coleção de fotografias da Cruz Vermelha Nacional Americana (Biblioteca do Congresso), mostra Copacabana em 1921.
Fonte
- Dunlop, Charles Julius. Rio Antigo. 3ª Tiragem ed. Rio de Janeiro: Editora Rio Antigo, 1963. (Composto e impresso na Gráfica Laemmert, Ltda.).
Mapa - Bairro de Copacabana
Fonte: Instituto Pereira Passos - DATA.RIO - Limites de Bairros