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Botafogo, por Charles Julius Dunlop

Bahia de Botafogo, Rio de Janeiro.  Acervo digital da Biblioteca Nacional.
Bahia de Botafogo, Rio de Janeiro. Acervo digital da Biblioteca Nacional.

A primeira denominação desta enseada foi “Le Lac” (o Lago), dada pelos franceses. Depois, os portugueses lhe puseram o nome de “Francisco Velho”, que foi mordomo de Estácio de Sá e fundador da confraria de São Sebastião. Somente a partir de 1641 foi que passou a se chamar “Botafogo”, por ter ali residido João Pereira de Souza Botafogo, antigo e opulento coproprietário da fazenda que se estendia do litoral até à quinta da Olaria de São Clemente.

Há quem afirme que, em tempos idos, a bela enseada se comunicava diretamente com o oceano, antes de existir a praia Vermelha, que se formou entre os morros da Urca e da Babilônia.

Até fins do século XVIII, o local era agreste, longínquo e pouco habitado. De 1808 em diante, com a permanência da Corte portuguesa no Rio de Janeiro, os engenhos e fazendas ali situados começaram a ser retalhados em chácaras, para residência dos fidalgos e diplomatas estrangeiros.

A própria Família Imperial emprestou seu concurso à expansão do novo bairro: Dona Carlota Joaquina procurava frequentemente a mansa praia de Botafogo para tomar banhos de mar (seu marido Dom João VI os tomava na ponta do Caju). Contam, também, que foi por iniciativa de Dom Pedro I que ali se construiu um pavilhão, onde os banhistas podiam trocar de roupa.

Enseada de Botafogo, vista do Morro da Urca
Enseada de Botafogo, vista do Morro da Urca

Em 1843, inaugurou-se uma “carreira” de barcos a vapor, comunicando o Saco do Alferes, nas proximidades da Gamboa, com Botafogo. A afluência de passageiros era grande, largando as barcas da cidade, todos os dias, às 7:30, 10:00, 14:30, 16:30 e 18:30 h; e de Botafogo para a cidade às 6:30, 8:30, 13:00, 15:30 e 17:30 h. As passagens custavam, por passageiro, 200 réis, sendo pessoa calçada; 120 réis, sendo soldado; 80 réis, sendo escravo ou pessoa descalça. Quanto à carga, o preço era de 30 réis por arroba.

Com a inauguração da linha de bondes da “Botanical Garden” até essa praia, no dia 18 de dezembro de 1868, começaram a escassear os passageiros que iam por via-marítima. Não obstante, em 1874, ainda trafegavam algumas barcas, aos domingos e feriados. Pouco depois, porém, cessava por completo o tráfego dos chamados “bondes-marítimos”.

A muita gente tem causado espécie a denominação de “Botafogo”, dada a esse importante bairro. Sobretudo a estrangeiros isto muito admira. Mestre Vieira Fazenda conta que um deles chegou a lhe perguntar se não seria tal nome devido à existência de um vulcão extinto no Pão de Açúcar! É verdade que um poeta – João Pereira da Silva, no seu, poema “A Estolaida” – figurou o penhasco, sempre de cume fumegante:

“E, ou por jazer algum gigante,
Qu’inda chamas vomita exasperado,
Ou dos relâmpagos pelo assíduo jogo
Chama-se a curva praia – Bota-fogo”.

No fim dessa praia, nas proximidades da Rua São Joaquim (atual Voluntários da Pátria), havia outrora um famoso restaurante, muito frequentado à noite, onde se comiam boas ostras e se tomava excelente vinho do Porto. Estiveram também nessa praia o Teatro Leopoldina e, no primeiro império, a Casa de Detenção, antes de ser construído o atual presídio da rua Frei Caneca.

A fotografia destacada mostra a Praia de Botafogo em 1907, com os seus palacetes e vivendas confortáveis. A segunda fotografia mostra a Enseada de Botafogo vista do Morro da Urca. Era o bairro mais procurado pelos aristocratas e – no dizer do historiador Noronha Santos – também pela “alta burocracia”.

Fonte

  • Dunlop, Charles Julius. Rio Antigo. 3ª Tiragem ed. Rio de Janeiro: Editora Rio Antigo, 1963. (Composto e impresso na Gráfica Laemmert, Ltda.).

Imagem destacada

  • BAHIA de Botafogo, Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ: Phototypia A. Ribeiro: Maison Chic, [1912?]. 1 cartão-postal, colotipia, monocromático, 9 x 14 cm. Acervo digital da Biblioteca Nacional.

Mapa

Fonte: Instituto Pereira Passos - DATA.RIO - Limites de Bairros