/ Rio Antigo / Bonde Elétrico, …

Bonde Elétrico, por Charles Julius Dunlop

Inauguração do Bonde Elétrico.  Acervo digital da Biblioteca Nacional.
Inauguração do Bonde Elétrico. Acervo digital da Biblioteca Nacional.

CONSTA que foram os ingleses, em 1848, os primeiros a substituir a tração animal dos bondes pela tração mecânica. Naquele ano, circulou em Bristol um desses veículos, puxado por máquina a vapor, transportando 60 passageiros.

Em 1877, foi introduzido em Nantes, na França, um bonde em que se empregava o ar comprimido como força motriz.

Os bondes a vapor foram também experimentados em Paris, em 1878, por Bollée e Dalifol, mas sem resultado. Nessa cidade, a tração animal só foi substituída pela mecânica, em 1889, pela adoção do bonde a vapor, movido pelo sistema “Rowan”. Daí por diante, essa substituição fez-se lentamente, adotando-se sistemas diferentes.

O maior aperfeiçoamento, porém, foi a aplicação da eletricidade, o que se verificou, pela primeira vez, em Paris, em 1881, onde o carro elétrico circulou nos Campos Elíseos, em volta da Exposição Internacional de Eletricidade. Esta experiência e a dos acumuladores elétricos ensaiados em 1882 não deram o resultado tão ardentemente desejado por todos, mas próximo estava o dia em que a energia elétrica viria substituir definitivamente a tração animal e a tração a vapor.

Sede do IAB-RJ, antiga “Sala das Machinas”
Sede do IAB-RJ, antiga “Sala das Machinas”

Finalmente, em 1884, apareceu em Cleveland, nos Estados Unidos, o primeiro bonde elétrico, propriamente dito.

Desses veículos, o que circulou, pela primeira vez, no Rio de Janeiro e em toda a América do Sul, foi o carro n.º 104, sistema “Robinson”, de 4 rodas, da Companhia Ferro-Carril do Jardim Botânico, na tarde de 8 de outubro de 1892, pela sinuosa linha da praia do Flamengo.

A sua inauguração foi um acontecimento sensacional: conduzindo o Vice-Presidente da República em exercício da Presidência, Marechal Floriano Peixoto, o seu Estado Maior, o Ministro da Marinha Almirante Custódio José de Mello, deputados, os intendentes municipais Silveira Lobo, Abdon Milanez, Siqueira de Menezes e França Leite, representantes de diversas classes sociais e da imprensa e muitos convidados, partiu este bonde, sob os aplausos do povo, pouco depois das 13 horas, da curva do antigo Teatro Lírico, subiu a rampa da Rua Senador Dantas, deslizou suavemente pela Rua do Passeio, Cais da Lapa, praias do Russell e do Flamengo e, 12 minutos depois, entrava na usina termoelétrica da Rua Dois de Dezembro.

Percorreram, então, os visitantes, todas as dependências da usina, rumando, em seguida, para o escritório da Companhia, na estação do Largo do Machado, onde lhes foi servido um copo d’água, ocasião em que foram trocados diversos brindes, sendo vivamente cumprimentado o gerente da empresa, engenheiro José de Cupertino Coelho Cintra, “o eletrificador da viação urbana carioca”.

A fotografia destacada, tirada nesse memorável dia, mostra, da esquerda para a direita, junto ao carro n.º 104, o engenheiro Antônio Leite Chermont, o mecânico-eletricista norte-americano James Mitchell, o Dr. Coelho Cintra, o Almirante Custódio José de Melo, o Marechal Floriano Peixoto, o Barão Ribeiro de Almeida, presidente da Companhia Jardim Botânico, e o capitão Eduardo Silva, ajudante de ordens do Presidente da República. A segunda fotografia mostra a Antiga Casa das Máquinas da Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico (CFCJB), atual sede do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-RJ), na Rua Dois de Dezembro, nº 41.

Houve quem temesse viajar nesse primeiro bonde elétrico, o que fez com que a Companhia pintasse nos espaldares dos assentos o seguinte aviso: “A corrente elétrica nenhum perigo oferece aos Srs. passageiros”.

Fonte

  • Dunlop, Charles Julius. Rio Antigo. 3ª Tiragem ed. Rio de Janeiro: Editora Rio Antigo, 1963. (Composto e impresso na Gráfica Laemmert, Ltda.).

Mapa - Limites do Trajeto Inaugural do Bonde Elétrico