Batalha de Flores, por Charles Julius Dunlop

FRANCISCO Pereira Passos, Prefeito do Distrito Federal no quatriênio do Presidente Francisco de Paula Rodrigues Alves (1902-1906), não se limitou à reforma material da cidade: procurou dar-lhe outros atrativos. Assim é que instituiu, com supremo esplendor, a “Batalha de Flores” no jardim do Campo de Santana.
Contam que, um dia, observaram ao grande Prefeito que o povo do Rio de Janeiro não se importava com a Natureza, nem dava apreço à Arte. Os recantos pitorescos da cidade viviam abandonados e os parques e jardins que a aformoseavam não tinham quem os frequentasse. E era verdade; o carioca não ligava a mínima importância a esses logradouros públicos.
— “Pois eu mostrarei como essa gente, não só irá, como até pagará para ir a esses lugares, respondeu S. Exa. Está deserto o lindo parque da Praça da República? Pois eu vou cobrar uma taxa de entrada e verão como ele se enche”.
E assim foi. Nos primeiros dias de julho de 1903, o Prefeito enviou o seguinte convite aos Srs. Conselheiros Camelo Lampreia, Capitão-tenente Santos Porto, Coronel Souza Aguiar, Dr. Alberto de Faria, Barão de Ibirocaí, Dr. Ataulpho de Paiva, Dr. Fernando Mendes de Almeida, J. Vasco Ramalho Ortigão, Dr. Paulo de Frontin, Dr. Eugênio Gudin (pai), Dr. Hélio Bastos Cordeiro, Comendador Adolpho Hasselman, Dr. Júlio Benedito Otoni, General Hermes da Fonseca, Senador Antônio Azeredo e Deputado Melo Matos:
“Tendo deliberado esta Prefeitura realizar uma Batalha de Flores no parque da Praça da República, que para essa diversão se presta admiravelmente, e não podendo levá-la a efeito sem o concurso valioso e eficaz de uma comissão que, composta de cavalheiros notáveis por sua dedicação à causa pública e pelas relações de que dispõem, se incumba do programa dessa festa e do julgamento para concessão dos respectivos prêmios, tenho a honra de convidar V. Exa. para fazer parte dessa comissão, que se reunirá pela primeira vez no dia 15 do corrente, às 4 horas da tarde, no meu gabinete".
Houve a reunião, fez-se o programa e a primeira dessas festas, tão animada, elegante e alegre quanto as famosas batalhas de flores de Nice, Viena e Paris, teve lugar no dia 15 de agosto.
Engalanou-se o “abandonado” jardim da Praça da República e o entusiasmo com que o povo acolheu a iniciativa do Prefeito ultrapassou a expectativa, atingindo a concorrência de espectadores a proporções inesperadas.
Em pavilhões elegantes, em caramanchões festivos, apinhavam-se os que tinham pago, além dos 2$000 de entrada, mais 5$000 para poderem sentar-se.
As alamedas, os gramados, as pontes, a gruta, as ilhas, tudo estava repleto, e os carros e as carruagens vistosamente enfeitados de flores.
As senhoritas começaram a “batalha’’, atirando flores de um carro contra outro e contra os espectadores também, que respondiam.
Seguiram-se outras “Batalhas de Flores”, que passaram a ter lugar no dia 25 de setembro de cada ano.
Embora o povo não houvesse diferençado bem os jogos florais dos rudes folguedos de arraial, as “Batalhas de Flores” constituíram, durante alguns anos, uma festa que se recorda com saudade.
A fotografia mostra um automóvel que tomou parte na “Batalha” de 1907, apresentando-se, como se vê, duplamente enfeitado: de damas e de flores.
Fonte
- Dunlop, Charles Julius. Rio Antigo. 3ª Tiragem ed. Rio de Janeiro: Editora Rio Antigo, 1963. (Composto e impresso na Gráfica Laemmert, Ltda.).
Mapa - Praça da República/Campo de Santana