Passos de Ouro Preto, por Eponina Ruas
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Foram os Frades Carmelitas Descalços que introduziram no Brasil a cerimônia da Procissão de Passos, precedida que é por duas outras, realizadas, à noite, e que tomam o nome de “Depósitos”.
Anterior a eles, celebram-se com toda a pompa, os soleníssimos Setenários de Nossa Senhora das Dores, cuja música sacra, quase toda ela, é nossa, de autores ouropretanos, e lindíssima.
Há, portanto, o Depósito das Dores e o dos Passos, em que a Imagem do Senhor dos Passos vai para a Matriz de Nossa Senhora da Conceição do Antônio Dias, e a Imagem da Virgem das Dores para a Igreja das Mercês e Misericórdia, realizando-se estes atos, respectivamente, na sexta-feira das Dores e no sábado que antecedem ao Domingo da Paixão.
Neste, então, tem lugar a Procissão do Encontro, na Praça da Independência, vindo depois as Imagens, em procissão, visitando os Passos da Cidade.
Antigamente, existia o Farricoco, por cuja corruptela de Furnicoco, era mais conhecido. Tratava-se de um personagem mascarado com vestes berrantes e que anunciava a aproximação da Imagem do Senhor dos Passos.
Conta a tradição que tanto esta Imagem como a da Virgem das Dores foram mandadas vir de Portugal pelo Coronel Antônio Agostinho Lobo Leite Pereira e sua Senhora, que eram abastados e residentes no arraial do Antônio Dias, para cuja Matriz de Nossa Senhora da Conceição destinavam-se as duas Imagens.
Acontece, porém, que ao chegar a viatura que as conduzia ao sítio da Matriz do Pilar do Ouro Preto, os animais estacaram e não houve possibilidade de fazê-los prosseguir para o Antônio Dias.
Ante este fato, ficou então, estatuído ir, anualmente, aquele arraial para a sua grandiosa Matriz, processionalmente, a Imagem do Senhor dos Passos. Mas, se por qualquer motivo Ela lá permanecer além de 8 dias, ficará pertencendo à Freguesia de Nossa Senhora da Conceição.
Afim de que isto não aconteça, esforça-se a Irmandade dos Passos da Freguesia do Pilar em que Ela somente ali permaneça, no máximo por 24 a 48 horas, retornando à sua primitiva morada no Pilar.
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Os Passos podem ser chamados pequenas Capelas, esparsas pela Cidade e onde são venerados os Passos da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Já no período de 1786, em plena decadência, os Passos achavam-se em estado de ruína, tendo sido reconstruídos uns, mudados outros para sítios mais acessíveis.
Contam-se:
- do Antônio Dias fronteiro à Rua do Ouvidor;
- da Praça na casa em esquina com a Rua Conde de Bobadela;
- da Rua Tiradentes, contíguo à Ponte dos Contos;
- da Rua São José esquina da Ladeira do Paracatu;
- da Ponte Seca – na rua de igual nome, que data de 1788 e cujo custo foi de 381 oitavas de ouro.
Inda existia o da Rua das Flores, antigamente, Capelinha do Espírito Santo, desfeito há muitos anos. No mesmo local, hoje, encontra-se a sede do Banco Comércio e Indústria de Minas Gerais.
Na Rua Alvarenga (Cabeças) existe o Passo do Senhor da Pedra Fria.
Essas Capelinhas vêm do século XVIII e XIX e perduram até hoje, conservadas mais pelo espírito religioso do povo de Ouro Preto e pelas Irmandades.
Fonte
- Ruas, Eponina. Ouro Preto: Sua História, Seus Templos e Monumentos. 3ª ed. Minas Gerais, 1964. 249 p.
Mapa - Passos de Ouro Preto