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Escola Militar, por Moreira de Azevedo

A Escola Militar do Brasil. Rio de Janeiro, RJ: Leon de Rennes, [1905?], [1905?], Acervo digital da Biblioteca Nacional.
A Escola Militar do Brasil. Rio de Janeiro, RJ: Leon de Rennes, [1905?], [1905?], Acervo digital da Biblioteca Nacional.

Separado o ensino das aplicações militares dos outros estudos que constituíam a Escola Militar criou o decreto de 20 de setembro de 1851, como vimos, a Escola de Aplicação, e um curso de infantaria e cavalaria na província do Rio Grande do Sul.

Estabelecida na corte a Escola de Aplicação teve regulamento em 23 de janeiro de 1855; e em 1 de maio foi instalada na presença do Imperador no local da Fortaleza de São João, compreendendo não só o recinto interior dessa fortaleza, como também os terrenos e prédios da chácara contígua comprada pelo governo para esse fim a Joaquim da Silva Nazareth, estendendo-se até as fraldas da montanha denominada Pão de Açúcar.

Destinada à educação exclusivamente militar dos oficiais do exército, e como complemento da Escola Militar da corte, abrangeu a Escola de Aplicação os estudos teóricos da arte da guerra, outrora professados naquela escola. Foi o ministro da guerra Pedro de Alcântara Bellegarde que deu-lhe regulamento, e nomeou para diretor do novo estabelecimento ao Brigadeiro Jerônimo Francisco Coelho.

Os avisos do ministério da guerra de 13 e 22 de fevereiro de 1856 mandaram anexar a esta escola a fortaleza da Praia Vermelha e o edifício do Salitre junto da Lagoa do Rodrigo de Freitas, onde outrora funcionou a fábrica de pólvora.

Antes do ano de 1701 se fundara no morro fronteiro ao Pão de Açúcar a fortaleza da Praia Vermelha, que não era mais do que um forte de pouca consideração, mas o vice-rei, Conde da Cunha, levantou no plano próximo ao mar, onde o desembarque podia ser fácil, uma nova fortaleza que foi concluída pelo Marquês de Lavradio, que também preparou aquartelamento para a guarnição; cedida essa fortaleza à escola, transferiu-se para aí em 1 de abril de 1856 o batalhão de engenheiros vindo ocupar o quartel, outrora habitado pelo batalhão de depósito de recrutas.

Em 1 de junho instalou-se a aula provisória de matemáticas, para a qual vieram transferidos da Escola Militar todos os alunos militares do respectivo primeiro ano de estudo, em número de noventa; em 1 de julho estabeleceu-se a aula preparatória destinada à instrução das praças de pret do batalhão de engenheiros, menores de 20 anos, e iniciaram-se os exercícios gerais de todo o corpo acadêmico, fora da escola, determinados pelo regulamento escolhendo-se para esses exercícios o campo do Leblon e os lugares próximos à Lagoa do Rodrigo de Freitas.

Designado para ministro da guerra o brigadeiro Jerônimo Francisco Coelho foi nomeado diretor interino, e depois efetivo da Escola de Aplicação, o brigadeiro Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão, hoje Visconde de Santa Thereza e atual diretor.

Feitas diversas obras no interior da fortaleza, já em 1858 funcionavam aí as aulas e outras repartições da escola; que reformada por decreto de 1 de março desse ano teve novo regulamento e recebeu a denominação de Escola Militar e de Aplicação.

Deu-se princípio a um novo edifício para alojamento, salas de estudos e outras dependências da Escola, conservando-se anexas a esse estabelecimento a fortaleza da Praia Vermelha e o edifício do Salitre, assim como também um picadeiro construído na Rua do Areal.

O decreto de 21 de abril de 1860 alterou o regulamento da escola que passou a denominar-se só Escola Militar, compreendendo os estudos propriamente militares distribuídos em dois anos, sendo o segundo ano somente destinado aos oficiais e praças dos corpos e armas científicas.

O regulamento decretado em 28 de abril de 1863 reformando as escolas do exército estabeleceu na Escola Militar para as três armas de linha um curso de três anos de estudo para a artilharia; dos quais os dois primeiros eram especiais à infantaria e cavalaria, e o decreto de 10 de junho do mesmo ano anexou ao estabelecimento um curso de todos os preparatórios necessários para a matrícula nos estudos superiores.

Desde dezembro de 1864 até princípios de 1870 esteve fechada a Escola Militar por que composta em sua totalidade de alunos militares correram estes em defesa da nação ultrajada; cheios do vigor da mocidade, briosos e dedicados à santa causa da pátria foram esses jovens engrossar as fileiras dos exércitos em operação; continuou, porém, a funcionar a escola preparatória por serem seus alunos mui jovens e sem a experiência necessária para suportarem as fadigas e as privações da campanha.

Em 1874 teve novo regulamento essa escola, consistindo o plano de estudo em um curso completo de engenharia militar dividido em preparatório e superior, formando ambos um internato.

No primeiro, ensinam-se, em três anos, as línguas vernácula, francesa, e inglesa, geografia, aritmética, álgebra, desenho-linear, história universal, geometria, e trigonometria-plana, geometria-prática, administração de companhias, e corpos, prática das diferentes armas do exército, ginástica, esgrima e natação.

No segundo, ou superior, as matérias do ensino teórico são distribuídas por cinco anos, constituindo quatro cursos diferentes; do 1.º, e 2.º anos para infantaria, e cavalaria, do 1.º, 2.º e 3.º, para artilharia; do 1.º, 2.º, 3.º, e 4.º para o estado-maior de 1.ª classe, e do 1.º, 2.º, 3.º, 4.º, e 5.º para engenharia.

Conforme a arma, ou o corpo a que pertence ou se destina o aluno, tem para o ensino teórico e prático programas especiais.

Dirigem o estabelecimento um comandante, oficial-general que haja pertencido a corpos científicos, uma vez que não faça parte do corpo docente, e um segundo comandante oficial superior também de arma científica; há um ajudante, um oficial de ordens, um secretário, nove lentes catedráticos, seis repetidores, dois professores e dois ou três ajudantes dos professores de desenho, conforme o número de alunos; e para o ensino prático dois instrutores de primeira classe, dois de segunda, dois mestres de esgrima, um de equitação e um de ginástica e natação. O número dos alunos eleva-se ordinariamente a trezentos.

Ergue-se o edifício da Escola Militar em uma grande praça no fim da Praia da Saudade, entre os morros denominados Urca e Babilônia; consta de dois pavimentos; no primeiro há no centro as muralhas de um reduto que tem acomodações para cinco peças, e de cada lado um portão e vinte oito mezaninos; no segundo há na parte central, no fundo do plano do reduto, três janelas e nos corpos laterais vinte e oito janelas em cada um; nos extremo do edifício levanta-se um baluarte de duas peças, e um ático estendido em toda frontaria oculta o telhado.

É um edifício vasto, dos maiores que possui a capital do Império, e se não tem boa arquitetura, nem majestade em sua fachada, manifesta a simplicidade, o aspecto grave e severo de uma praça de guerra.

A parte anterior e a lateral direita desse monumento são as mais elegantes, de mais recente e melhor construção; deitam janelas para um pátio central cercado do lado esquerdo por outro edifício pertencente à escola, e no fundo pelo antigo quartel de depósito; no pátio estão os aparelhos de ginástica, e fazem exercícios os alunos; cerca-o na frente e do lado direito um longo corredor que abre comunicação, no primeiro pavimento, para um grande salão de estudo, uma sala de aula e gabinete, sala d’armas, de arrecadação, do quartel mestrado o refeitório com o pavimento de mosaico de mármore e mesas da mesma pedra; a despensa diária, a cozinha, dois lavatórios com pias de mármore, dois salões ocupados pelo batalhão de engenheiros, dois quartos de arrecadação e dois de inferiores do mesmo batalhão, duas latrinas de alunos e duas prisões das praças do batalhão.

Na sala d’armas guardam-se a barraca de madeira que pertenceu ao general Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão na campanha do Paraguai, e um belo quadro da batalha do Campo Grande ferida em 16 de agosto de 1869, devido ao pincel do talentoso artista nacional Pedro Américo.

Há no segundo pavimento quatro salões para dormitórios de alunos, duas salas de arrecadação e três de aula.

No corpo fronteiro do edifício vê-se do lado do pátio, uma lápide de mármore com a seguinte inscrição.

PETRO SECUNDO
D. G. CONSTITUCIONALI IMPERATORE
ET PERT. BRASILAE DEF.
FELICITER REGNANTE
AEDIFICII DESCRIPTIONEM EJUSQUE EXSTRUCTIONEM
POLIDORUS A’ FONSECA QUINTANILHA JORDANUS
CURAVIT
A. D. MDCCCLXIV
IMPERII AUTEM XLIII

No edifício do lado esquerdo do pátio há no primeiro pavimento a enfermaria dos alunos, a das praças do batalhão, botica, cozinha dos doentes, a sala da aula de física, a sala de ordens da Escola e a de ordens do batalhão; e no segundo o gabinete de física, a secretaria, a biblioteca, a secretaria do batalhão, três salas de aulas e o gabinete de hipiátrica.

Une-se este edifício a um corpo mais antigo, onde vê-se um salão avarandado em frente da Capela da Conceição, que tem um só altar com o painel da Virgem, e é de antiga e péssima construção. Junto da capela há uma oficina de carpinteiro do batalhão de engenheiros.

Ainda do lado esquerdo, porém, em edifícios separados, estão a casa de banhos com seis banheiras, havendo duas grandes caixas d’água junto de um dos baluartes da frente, a cozinha do batalhão, e a casa de natação com um aparelho especial para adestrar em seco os alunos nos movimentos de natação que é exercida na enseada em frente do estabelecimento.

Na ala do edifício que se estende no fundo do pátio há a sala da aula do batalhão, a de arrecadação de cavalaria e artilharia, a do estado-maior, o refeitório do batalhão, e na parte posterior, a estribaria.

No terreno ao lado direito da escola estão em casas separadas, a despensa geral, a ferraria do batalhão, as latrinas das praças, a penitenciária com seis cubículos, onde são recolhidos os soldados que cometem faltas graves, e uma ermidazinha construída pelos soldados de engenheiros.

Fecha o recinto da escola do lado da Praia Vermelha, assim denominada pela cor avermelhada da areia, um extenso baluarte com vinte oito peças; antiga fortaleza fundada nos tempos coloniais, serve ainda hoje de defesa ao porto da capital, e de praça de instrução à mocidade que se dedica à carreira das armas.

Fonte

  • Azevedo, Manuel Duarte Moreira de. O Rio de Janeiro: Sua História, Monumentos, Homens Notáveis, Usos e Curiosidades. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1877. 2 v. (É a segunda edição do “Pequeno Panorama” 1861-67, 5 v.).

Livro digitalizado

Imagem destacada

  • A Escola Militar do Brasil. Rio de Janeiro, RJ: Leon de Rennes, [1905?], [1905?]. 1 cartão postal, colotipia : monocromático, 9 x 14 cm. Acervo digital da Biblioteca Nacional.

Mapa - Praia Vermelha