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Banco do Brasil, por Moreira de Azevedo

Casa França Brasil e o prédio do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-RJ)
Casa França Brasil e o prédio do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-RJ)

Em 12 de outubro, memorável pela descoberta da América, pelo nascimento de D. Pedro I, pela sua aclamação de imperador e defensor perpétuo do Brasil, criou-se no Rio de Janeiro, em 1808, o Banco do Brasil.

Determinou o alvará que estabeleceu o Banco do Brasil e deu-lhe estatutos, que seria seu capital de 3,000,000 de cruzados pelo menos, ou de 1,200 ações de um conto de réis cada uma; duraria vinte anos, e se faria aí todo e qualquer depósito judicial e extrajudicial de prata, ouro, joias e dinheiro; começou a funcionar em 1809 em uma casa da Rua Direita, esquina da Rua de São Pedro, ficando extinto o cofre de depósito, que havia a cargo do senado da câmara.

Abertos os portos do Brasil ao comércio das nações, tornou-se mais vasto o movimento comercial, afluíram os capitais, multiplicaram-se as transações, e era assim necessária a criação de um banco para dar mais circulação ao dinheiro, mais vida e desenvolvimento ao comércio; por isso foi essa instituição, que devia concorrer para o aumento da riqueza pública, elogiada pelos economistas, e para dar-lhe prosperidade concedeu o príncipe D. João a comenda de Cristo àqueles que assinaram vinte ações.

Conhecidos os resultados benéficos do estabelecimento pelo progresso do comércio e afluência de capitais, para aumentar-lhe o capital, publicou-se o alvará de 20 de outubro de 1812 ordenando que a fazenda real entrasse como acionista com 100:000$000 anuais do produto de novos impostos, por espaço de dez anos consecutivos, sem que das entradas, que se realizassem nos primeiros cinco anos recebesse lucro algum, ficando tudo em proveito dos acionistas particulares, e só depois de passados os primeiros cinco anos houvesse divisão dos lucros. Eis os impostos que criaram-se:

Sege de quatro rodas 12$800, dita de duas rodas 10$000, lojas de mercadorias, armazéns, lojas de ofícios e onde se vendam obras feitas 12$800, navios de três mastros 12$800, ditos de dois 9$600, embarcação de um mastro de barra a fora 6$400, outra qualquer embarcação de menor lote, exceto as de pescaria, 4$000.

Cinco por cento das compras de navios ou de qualquer outra embarcação.

Transferindo em 1815 o erário para o edifício da Rua do Sacramento, onde se acha o tesouro nacional, passou o banco para a antiga casa do erário na Rua Direita, ficando parte da mesma casa destinada para o expediente da alfândega.

A carta de lei de 16 de fevereiro de 1816 mandou estabelecer na cidade da Bahia, sucessivamente em outras cidades e vilas mais notáveis e comerciais do Brasil, caixas de desconto filiais da caixa central do Banco do Brasil, e deu-lhes estatutos para se regerem.

Marchara o banco regularmente, porém a má administração, e diversos abusos trouxeram-lhe embaraços nas transações; sem atenderem ao interesse do comércio, e considerando o estabelecimento propriedade sua, entorpeciam-lhe alguns a marcha, e realizavam somente as operações que podiam ser-lhes úteis; o governo olvidara a instituição; não pagava o dinheiro que pedira-lhe por empréstimo; e essa falta de capitais embaraçava o giro do banco, pelo que mostravam-se desgostosos e receosos os acionistas.

Tais instituições quando não caminham regularmente caem na desconfiança pública, e da desconfiança ao descrédito e do descredito à bancarrota só vai um passo.

Haviam desaparecido os capitais do banco divididos por alguns diretores e empregados, achando-se o Estado nisso cúmplice por ter retirado da sua caixa avultada soma sem poder proceder contra as malversações [1]. Em 23 de março de 1821 achava-se o estabelecimento em um estado precário; seu ativo era aproximadamente cinco mil contos, e devia mais de seis mil.

O negociante Francisco José dos Santos, conhecido pelo apelido de Sexta-Feira, por ser mulato, começou a propalar que o banco estava falido; o ministro Thomaz Antônio de Villanova Portugal ordenou a prisão desse negociante, a qual efetuou-se; porém alguns dias depois foi solto por intervenção de seu amigo o negociante Manoel Gonçalves de Carvalho apelidado o Cartuxo. Tratou o ministro de recolher à caixa a moeda metálica que aparecia na circulação, e agraciava com comendas e hábitos os negociantes que ajudavam-no nesse empenho.

Apareceu nessa época contra as pessoas empregadas na casa bancária a seguinte sátira:

Lá vão no banco opinar
Piolho, Rato, Leões,
Hão de talentos mostrar,
E no fim das discussões
Morder, roer, devorar.
Não há destinos prefixos;
Foi o foco da riqueza,
Porém, sujeito a caprichos,
Depois de tanta grandeza,
Vem a ser pátio de bichos.

Os acontecimentos políticos ocorridos no Rio de Janeiro em fevereiro e março de 1821, o decreto de 7 de março pelo qual declarou o rei a resolução de retirar-se para a Europa, causaram inquietação e sobressalto no espírito público; as pessoas que tinham de acompanhar o rei, trataram de apurar os fundos que possuíam, e por isso houve no estabelecimento grande concorrência, chegando-se a trocar em um só dia mais de quarenta contos; e retirados repentinamente muitos capitais ficou o banco em apuros.

A carta régia de 23 de março garantiu a devida do Estado, prometendo El-Rei mandar depositar nos cofres da casa bancária as joias da coroa de menos uso; mas não melhorou essa medida o crédito do banco, e nomeando o governo em 4 de maio uma comissão de pessoas habilitadas para conhecer do estado da instituição, em nome dessa comissão, apresentou o presidente José Antônio Lisboa em 1822 um relatório, no qual mencionou as diversas quantias emprestadas ao Estado em diferentes épocas, achando-se este credor até 1822 de 6,805:588$170.

Descrevendo o estado ruinoso desse estabelecimento de crédito disse Pedro I na fala que dirigiu à assembleia constituinte em 3 de maio de 1823:

“ Consegui e com quanta glória o digo que o banco, que tinha chegado a ponto de ter quase perdido a fé pública, e estar por momentos a fazer bancarrota, tendo ficado no dia em que o Sr. D. João VI saiu à barra duzentos contos em moeda, única quantia para troco de suas notas, restabelecesse seu crédito de tal forma, que não passa pela imaginação a indivíduo algum, que ele um dia possa voltar ao antigo estado a que o haviam reduzido.”

Naquele ano era o fundo capital de dois mil contos, além de quinhentos contos do governo em auxílio, e aumentou-se esse fundo em mais mil e duzentos contos.

Emitira o banco bilhetes de 12$000, 8$000, 6$000 e 4$000, pelo que foi escasseando no mercado a moeda de prata; e entenderam os especuladores que deviam falsificar as notas, mas foram descobertos; deu a polícia busca em uma casa, prendeu a José de Moura e Silva, que foi processado e condenado à morte.

Foi esse infeliz enforcado no Largo da Prainha em 31 de maio de 1824; e remetido o cadáver à Santa Casa da Misericórdia, foi conduzido à igreja da Ordem Terceira do Carmo, onde, depois das orações do estilo pelo padre comissário e mais sacerdotes, foi sepultado na catacumba n. 21. Pedira o padecente que a Ordem do Carmo, da qual fora irmão, lhe fizesse a caridade de dar-lhe sepultura em seus jazigos. Os dois co-réus do crime foram condenados à mesma pena, que não cumpriu-se por não terem sido presos.

Enquanto teve a proteção do governo, prosperou o banco, e adquiriram suas notas de dia para dia maior crédito; os acontecimentos políticos, porém, as guerras do Sul, as urgências do Estado obrigaram o governo a recorrer à casa bancária para fazer-lhe suprimentos: e como fosse avultando a dívida do Estado, encontrou o banco embaraços em suas transações, e deixou de atender às necessidades públicas, e particulares dos cidadãos. Convocou-se uma assembleia geral de acionistas que propôs suplicar ao imperador uma consignação mensal para a lenta e progressiva amortização da dívida, manifestando-lhe a impossibilidade em que se via o estabelecimento para continuar, sem iminente risco de sua existência, com os suprimentos que se via forçado a fazer ao exército de Montevidéu e às tesourarias de tropa e marinha, sem que se lhe determinasse, ou fixasse certa quantia para seu progressivo pagamento. Mas não realizou-se essa útil medida; no entanto continuaram as provisões do governo em uma progressão crescente, e a ponto tal que o banco já não podia remediar com o seu fundo real; por isso contratou o governo com o estabelecimento emitir para a circulação uma quantidade de notas correspondente à dívida que contraíra, além da emissão natural; de feito efetuou-se essa transação, que prejudicou o crédito do banco e depreciou suas notas.

A carta da lei de 23 de setembro de 1829 ordenou continuasse o banco até 11 de dezembro do mesmo ano, época em que findava o prazo marcado por lei para as suas operações, porém, entrasse desde logo em liquidação.

Sentiram o comércio e o povo a extinção desse estabelecimento de crédito, desejando antes que se tivesse procedido a uma reforma, cortando abusos, e tornando a instituição mais útil e vantajosa; em verdade prestara ela bons serviços ao comércio, à agricultura e à indústria, auxiliara o governo em todas as circunstâncias críticas, contribuíra para a independência e integridade do Império, favorecera-o nas guerras do Sul, auxiliara diversas obras públicas, e dera aos acionistas bastante lucro; se não fora mais útil, se faltas e tropeços tivera em sua marcha, nasceram estes da má administração, de abusos, prevaricações e erros, da emissão de notas superior ao fundo capital, do imenso cabedal acumulado nas mãos do governo sem poder entrar em giro, e de não se atender à sua reforma, como era de justiça e razão.

Em 7 de junho de 1830 propôs o deputado Martim Francisco Ribeiro de Andrade que o banco fosse restabelecido sob a denominação de Banco Nacional do Império do Brasil, tendo a duração de vinte anos contados do começo de suas transações. Expondo seu projeto disse o orador:

“Senhores, a lei de 23 de setembro de 1829 dissolveu o Banco do Brasil criado pela lei de 12 de outubro de 1808, podia a legislatura dissolvê-lo? respondo que sim. O legislador lhe havia assignado um tempo certo de duração, este tempo havia expirado, e expirado com ele também a sua existência, devia a legislatura extingui-lo? respondo que não.”

O projeto de Martins Francisco não passou [2].

Nomeada em 18 de novembro uma comissão de nove membros para liquidar o banco, apresentou em 25 de junho de 1830 seu relatório, declarando haver encontrado em cofre a quantia de 1,057:103$225. Além dessa comissão nomeada pelos acionistas, elegera o governo outra que exibiu seu relatório em 14 de junho de 1834; suscitando-se, porém, entre essas comissões dúvidas relativas à dívida do governo, escolheu-se uma comissão arbitral composta dos Drs. Diogo Soares da Silva de Bivar, Francisco Gomes de Campos, depois Barão de Campo Grande, conselheiro José Antônio Lisboa, e Frutuoso Luiz da Motta, a qual instalou-se em 21 de junho de 1833.

Durou até 3 de julho de 1846 a comissão dos acionistas, sendo então dissolvida, remetidos os livros do estabelecimento ao tesouro e ficando encarregado de sua final liquidação o banco comercial, que tendo sido instalado, em 10 de dezembro de 1838, por alguns capitalistas e negociantes nacionais e estrangeiros, com um capital de cinco mil contos, divididos em dez mil ações de 500$000 tivera estatutos aprovados pelo governo em 23 de junho de 1842, e começara a funcionar no prédio n. 32 da Rua da Alfândega.

Criado por decreto de 2 de julho de 1851 um Banco do Brasil com o capital de dez mil contos divididos em vinte mil ações de 500$000, entrou em operações em 21 de agosto na casa n. 143 da Rua da Quitanda.

A lei n. 683 de 5 de julho de 1853 autorizara o governo para conceder a incorporação, e aprovar os estatutos de um banco de depósitos, descontos e emissão, e em sessão de assembleia geral de acionistas de 12 de julho, aceito o convite do governo para a fusão dos dois bancos do Brasil e Comercial, no novo Banco do Brasil, sancionou o acordo o decreto de 31 de agosto, que também deu organização ao novo estabelecimento mercantil, instalado em 5 de dezembro, e que começou a funcionar em 10 de abril de 1854. Desejando construir um edifício próprio para as operações bancárias, haviam comprado os acionistas do Banco Comercial, em setembro de 1850, por noventa apólices, as casas da Rua da Alfândega, esquina da Rua da Candelária, pertencentes à irmandade do Sacramento dessa freguesia. Em 21 de setembro obtiveram licença do governo para a edificação do prédio, de cujo desenho foi encarregado o artista Manuel de Araújo Porto-Alegre, e da direção da obra o diretor do estabelecimento José Justino de Faria. Em 10 de abril de 1854 começou o Banco do Brasil a funcionar no novo palacete.

Tendo sido criado com um capital de trinta mil contos, divididos em cento e cincoenta mil ações, era o Banco do Brasil um estabelecimento de descontos, depósitos e emissão, mas fundados os bancos Rural Hipotecário e Comercial e Agrícola gozando do mesmo direito de emissão, tratou o Banco do Brasil de celebrar com essas casas mercantis um acordo para desistirem daquele direito, e tendo-o conseguido, foi a concordata aprovada por decreto de 9 de setembro de 1862. Pela desistência do privilégio da emissão pagou o Banco do Brasil ao Rural e Hipotecário a quantia de 400:000$000 não podendo jamais este usar de semelhante direito, enquanto durar o prazo que lhe foi concedido para fazer operações; e ao Comercial e Agrícola cedeu pela desistência de igual direito, vinte e quatro mil ações ao par, entrando este banco em liquidação, tendo começado a funcionar em 15 de março de 1858. Começaram a retirar-se da circulação as notas emitidas por aqueles bancos.

Celebrado esse acordo elevou o Banco do Brasil seu capital a trinta e três mil contos, divididos em cento e sessenta e cinco mil ações de 200$000 cada uma.

Tem o Banco do Brasil emitido notas de 500$000, 200$000, 100$000, 50$000, 30$000, 25$000 e 20$000, não lhe sendo permitido emiti-las de valor menor, e gozam essas notas do privilégio exclusivo de serem recebidas em pagamento nas repartições públicas.

Pelos seus estatutos devia o banco retirar anualmente da circulação a soma de dois mil contos em notas do tesouro, as quais, depois de inutilizadas, seriam entregues à caixa de amortização recebendo o banco em pagamento o equivalente em moeda corrente. Mas pela lei de 12 de setembro de 1866 cessou o direito de emissão, ficando esta fixada em 45,600:000$000 por decreto de 16 de março de 1869 para ser resgatada na proporção de 5 a 8 %; proporção que foi reduzida a 2 ½ % pela lei de 17 de setembro de 1873, achando-se atualmente a emissão dessa casa bancária reduzida a 28,500:000$000 tendo-se amortizado dentro de um ano 1,140:000$000.

Tendo o banco elevado seu capital, como vimos, e tendo por isso de distribuir, além de cento e cincoenta mil ações já distribuídas, mais trinta mil, e ponderando o ministro da fazenda, Visconde de Paraná, que as ações haviam alcançado na estimativa comum um valor superior ao nominal, valor que assegurava lucro certo àqueles que as obtivessem, e motivava a sua excessiva demanda, julgou que o beneficio resultante da distribuição daquelas ações, devia reverter em proveito do público, e não de alguns particulares, que as alcançassem; e, portanto, expediu um aviso, em 10 de outubro de 1853, determinando que se cobrasse 10 % de prêmio do valor nominal de cada ação, e que esse prêmio dado voluntariamente por aqueles subscritores, que quisessem obter preferência na distribuição, fosse destinado ao melhoramento das calçadas do Rio de Janeiro.

Em 18 de outubro começou a distribuição na caixa da Amortização.

A comissão encarregada dessa tarefa, compunha-se de Francisco José da Rocha, de João Pedro da Veiga e de Antônio José de Bem.

A afluência dos pretendentes foi extraordinária. Às nove horas da manhã estavam tomadas todas as avenidas da caixa da Amortização, e à própria comissão se tornou difícil o ingresso.

Pouco antes das dez horas começou o trabalho da assinatura e do recebimento das cartas, e logo depois das onze e meia verificou-se, que excedia já a trinta mil o número das ações pedidas, e deu-se por terminada a inscrição.

Os mais felizes, ou menos tímidos, romperam por entre a coluna, que apinhava a escada e antessala da caixa e conseguiram escrever seus nomes na lista da comissão; aqueles, porém, e eram muitos, que receavam a asfixia, os empurrões, os murros e as coronhadas, estavam ainda muito longe do lugar, onde eram recebidas as assinaturas, quando ouviram bradar: – Está encerrada a inscrição!

Somando-se os pedidos viu-se que subiam a cincoenta e sete mil, e que eram setecentos os pretendentes. A assinatura não esteve aberta senão duas horas. Se tivesse continuado por três dias, como aconteceu na primeira inscrição, é provável que, apesar dos 10 % de prêmio, houvesse pedidos para mais de duzentas mil ações. Se o ministro da fazenda tivesse podido dispor desse número teria donativos para calçar com paralelepípedos toda a cidade.

As 30,000 ações foram distribuídas a 719 pessoas do seguinte modo:

2 de 100 ações 200
100 80 8000
100 60 6000
100 50 5000
120 40 4800
5 35 175
1 34 34
80 30 2400
12 25 300
120 20 2400
1 16 16
4 15 60
2 12 24
50 10 500
1 8 8
12 5 60
2 4 8
1 3 3
6 2 12

O prêmio de 10 % da distribuição das ações importou em seiscentos contos, que foram aplicados ao calçamento por paralelepípedos, usado pela primeira vez entre nós em 1854.

As primeiras ruas calçadas por esse sistema foram as de São PedroSabão, Assembleia, São José e Direita.

Depois de grande cabala procedeu-se na Praça do Comércio, em 4 de novembro de 1853, à eleição dos primeiros diretores do estabelecimento. O primeiro presidente eleito pelo governo foi o conselheiro João Duarte Lisboa Serra, que faleceu em 16 de abril de 1855; doze dias depois foi nomeado o Visconde de Itaboraí, que pediu e obteve demissão em 20 de junho de 1856; desde essa época até 15 de fevereiro de 1859 esteve o banco sob a direção do vice-presidente conselheiro José Pedro Dias de Carvalho; nomeado presidente, em 15 de janeiro de 1859, o Visconde de Itaboraí, tomou posse em 15 de fevereiro; em 11 de agosto foi substituído pelo conselheiro Cândido Baptista de Oliveira, que falecendo veio suceder-lhe o Dr. Francisco de Assis Oliveira Bueno em 8 de novembro de 1865; mas pedindo este demissão, nomeou o governo em 23 de março de 1866 ao Visconde de Jequitinhonha. Passando o direito da escolha do presidente aos acionistas, foi eleito em assembleia geral de 10 de dezembro de 1866 o conselheiro Francisco de Salles Torres Homem, depois Visconde de Inhomerim; em 16 de outubro de 1869 foi escolhido para esse lugar o negociante Militão Máximo de Souza, e em 14 de outubro de 1870 o Dr. José Machado Coelho de Castro, que é o atual.

O primeiro vice-presidente foi o Visconde do Rio Bonito, que faleceu em 11 de novembro de 1856; o segundo o conselheiro José Pedro Dias de Carvalho; o terceiro o Visconde de Tocantins, quarto José Fernandes Moreira, quinto o Visconde de Tocantins que é o atual; o primeiro secretário o conselheiro José Pedro Dias de Carvalho, segundo Dr. Manoel de Oliveira Fausto, terceiro Dr. Manoel Marques de Sá, quarto Luiz Alves da Silva Porto, quinto João Martins do Amaral, sexto Luiz Martins do Amaral.

Tinha o banco em algumas províncias do Império caixas filiais aprovadas por decretos de 20 de dezembro de 1854 e 29 de março de 1855; as caixas das províncias de São Paulo e Minas começaram a funcionar em 1 de janeiro de 1856, a do Rio Grande do Sul em 1 de março, as da Bahia, Pernambuco e Maranhão em 1 de junho, e a do Pará em julho do mesmo ano; porém, dessas caixas só existe a de São Paulo, tendo sido liquidadas as outras.

As notas de menor valor que emitiam eram de 10$000.

A lei de 12 de setembro de 1866 dividiu o estabelecimento em duas repartições distintas: uma comercial, outra hipotecária, que recebeu regulamento pelo decreto de 22 de novembro de 1867.

Pela lei de 17 de setembro de 1873, e por acordo celebrado entre o governo e o banco, em 24 de dezembro do mesmo ano, fixou-se o capital da seção hipotecária em 25,000:000$000, podendo o banco emitir letras hipotecárias até o décuplo. Em 1873 prorrogou-se até 31 de dezembro de 1900 a duração dessa casa de crédito.

Contava o estabelecimento trinta e um empregados, porém, reformados os estatutos em 1870, criaram-se mais dois gerentes.

Acha-se o palacete bancário na Rua da Alfândega, esquina da Rua da Candelária; tem três pavimentos: a face principal, voltada para aquela rua, apresenta no primeiro pavimento, revestido de cantaria, seis janelas de peitoril com varões de ferro e um portão central.

Coroa esta parte do edifício um renque de medalhões sustentando o segundo pavimento que com o terceiro formam um só corpo, cuja decoração é de ordem coríntia; abrem-se sete janelas nos dois pavimentos superiores, as do segundo com uma sacada corrida, ornando as três do centro frontões de cantaria, e as do terceiro com grades de ferro no vão das portadas. Erguem-se no segundo pavimento, entre as janelas, pilastras caneladas de granito com capitéis coríntios de mármore; a cornija é pobre em relação à ordem arquitetônica, e rematam o frontispício pequenos acrotérios.

Tem a mesma decoração a face que olha para a Rua da Candelária, porém há em cada andar só quatro janelas.

É este palácio elegante, de prospecto agradável, e manifesta arte, gosto e arquitetura; vê-se que era de mestre a mão que traçou-o; sendo de sentir não estar colocado em espaço mais vasto onde pudesse ser devidamente apreciado.

Em gratidão ao artista que desenhou este monumento ofertou-lhe a diretoria do banco, em 24 de março de 1854, uma boceta de ouro do valor de 220$000.

Transposto o portão vê-se um pequeno vestíbulo que mostra no fundo uma escada coleada de granito, e de cada lado uma porta, abrindo-se uma para a casa da emissão, e a outra para a tesouraria, onde está a casa forte, que é mui segura, com paredes revestidas de cantaria, teto de pedra, portas de ferro, armários de ferro; e por estar colocada debaixo da escada que vai ter ao segundo pavimento é tão escura que mesmo de dia não se pode trabalhar aí sem o auxílio da luz artificial. As paredes de pedra, as portas de ferro, a luz frouxa que penetra por um pequeno óculo, e o ar frio desse recinto dão-lhe o aspecto de um cárcere; de feito é a prisão do ouro, o cofre do dinheiro.

No fundo da sala da tesouraria há um corredor, no qual começa uma escada que vai ao segundo andar, onde estão as salas das propostas, do secretário, da diretoria, da comissão de descontos, da secretaria, e contadoria.

A escada principal, que é de granito até o segundo andar, conduz ao terceiro onde estão a sala do guarda-livros e o salão dos acionistas. Importou em 216:969$455 a construção deste palácio.

O edifício é bem dividido, mas não tem a capacidade necessária para satisfazer a todas as operações do serviço mercantil, principalmente atendendo ao seu futuro desenvolvimento; pelo que a diretoria, prevendo semelhante inconveniente, promoveu e conseguiu a aquisição dos prédios que ficam contíguos, quer do lado de uma rua, quer da do outro.

O Banco do Brasil, o primeiro estabelecimento de crédito do país tem prestado serviços ao governo, à praça e ao comércio; tem superado as crises, que se hão dado nas praças estrangeiras e na nossa; lutou em 1864 com uma crise violenta, que trouxe a liquidação de diversas casas bancárias, entre outras a de Antônio José Alves Souto, a qual por merecer a confiança pública era a mais concorrida em depósitos de dinheiro a juros, produzindo sua liquidação e a de outras grande dano às fortunas particulares. Em 1875 atravessou o banco outra crise da praça, na qual, como já dissemos [3], faliram alguns bancos.

O escrúpulo no giro dos capitais confiados ao estabelecimento, o cuidado e cautela nas operações, e a perícia e zelo dos empregados tem cooperado para o crédito e prosperidade dessa instituição da riqueza pública.

Notas

  1. Veja – O Poder Autoritário, opúsculo sobre a história do Brasil, pelo Dr. Villanova Machado.
  2. Veja Corographia Historica do Dr. Mello Moraes, tomo I da 2ª parte, pag. 183.
  3. Veja volume I, pág. 48. (que diz: Em maio deste ano (1875) deu-se violenta crise comercial no Rio de Janeiro, suspendendo os bancos Mauá, Nacional e Alemão seus pagamentos, e pedindo moratórias: o gerente do Banco Alemão suicidou-se, e o governo para fazer face a essa crise emitiu 25.000 contos de papel moeda. N. do E.)

Fonte

  • Azevedo, Manuel Duarte Moreira de. O Rio de Janeiro: Sua História, Monumentos, Homens Notáveis, Usos e Curiosidades. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1877. 2 v. (É a segunda edição do “Pequeno Panorama” 1861-67, 5 v.).

Livro digitalizado:

Mapa - Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro - CCBB/RJ