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Balthazar da Silva Lisboa, por Joaquim Manuel de Macedo

Na cidade de São Salvador, capital da província da Bahia, nasceu a 6 de Janeiro de 1761 Balthazar da Silva Lisboa: foram seus pais Henrique da Silva Lisboa, e Helena de Jesus e Silva.

Este distinto brasileiro estudou humanidades e seguiu o curso e tomou o grau de doutor em direito civil e canônico na Universidade de Coimbra, sob a proteção do bispo Dom Francisco de Lemos Pereira Coutinho, seu muito ilustrado compatriota, do Rio de Janeiro.

Depois de ser encarregado do exame da mina de carvão de Buarcos, e das de chumbo nos contornos da vila de Coja em Portugal escrevendo sobre elas estimada memória, voltou para o Brasil despachado juiz de fora da cidade do Rio de Janeiro.

Elogiado pelo Vice-rei Luiz de Vasconcellos, malquistou-se com o sucessor deste, o Conde de Rezende, porque havendo na cidade enorme carestia de farinha, e ao mesmo tempo tolerado monopólio do mesmo gênero de que se carregavam muitas embarcações para fora, Balthazar da Silva Lisboa, desempenhando a favor do povo seus deveres de magistrado, abriu devassa, mandou examinar os carregamentos dos navios, chegando a encontrar-se neles caixões de farinha com as marcas de um ajudante de ordens do vice-rei!

Substituído no lugar de juiz de fora, Balthazar da Silva Lisboa saiu para Portugal em 1796, e lá foi absolvido pelo Tribunal do Conselho Ultramarino de acusações de revolucionário e republicano urdida pelos inimigos que deixara no Rio de Janeiro.

Ouvidor da comarca dos Ilhéus no Brasil e pouco depois juiz conservador das malas, fez estudos sobre a cultura e os cortes de madeira, escreveu a «Physica dos Bosques dos llhéos, e a Descripção da comarca do mesmo nome,» que a Academia Real das Sciencias de Lisboa mandou imprimir na sua coleção.

Como eram sabidos os conhecimentos que havia feito sobre metalurgia, foi Balthazar da Silva Lisboa incumbido de examinar grande massa de ferro achada nos riachos de Bendegó, cabeceira do Rio da Cachoeira, e a mina de carvão de pedra encontrada em 1813 no Rio Cotegipe, e satisfez essa comissão em relatório que apresentou, dando conta científica da existência e das condições do ferro e do carvão de pedra nos lugares mencionados.

O Conde dos Arcos, governador e capitão-general da Bahia, encarregou o ilustre baiano de fazer a mudança da aldeia dos índios da freguesia da Almada para o lugar chamado das Ferradas, e ele vencendo com doçura a oposição dos índios, conseguiu efetuar a útil medida com sacrifício de sua saúde e com grande fadiga.

Aposentado no Conselho da Fazenda com o respectivo ordenado, doente e recolhido à fazenda que comprara no Rio das Contas, foi em 1821 perseguido como oposto à constituição das Cortes portuguesas, cujas bases aliás foi jurar na cidade de São Salvador, declarando, é certo, que supunha que ela não faria a felicidade da nação.

Em 1823 as câmaras municipais da Cachoeira do Rio de Contas e de Valença, representaram contra Balthazar da Silva Lisboa, como inimigo da causa da independência da pátria, e o ilustre ancião fugitivo, atravessando matos e pântanos, pôde enfim embarcar em um brigue inglês, que o transportou ao Rio de Janeiro, onde a princípio não o quiseram receber o imperador D. Pedro I e o ministro José Bonifácio de Andrada.

Balthazar da Silva Lisboa provou documentalmente sua inocência: ele era ao contrário do que o acusavam, entusiasta da independência: tudo indica que o fundamento da perseguição estava em seus sentimentos desfavoráveis às ideias democráticas: era senão absolutista, liberal muito atrasado. Uma opinião não é um crime.

O imperador e o ministro José Bonifácio acabaram por fazer justiça ao ilustre baiano, a quem anos mais tarde D. Pedro I quis dar uma cadeira de lente do curso jurídico criado em São Paulo, e que ele não aceitou, lembrando sua idade quase de setenta anos.

Mas o velho ilustrado trabalhava ainda com ardor e em 1834 publicou na cidade a que se acolhera os Annaes do Rio de Janeiro em sete volumes, e de grande merecimento.

Fundado o Instituto Historico Geographico e Ethnographico do Brazil em 1838, Balthazar da Silva Lisboa saudou-o com entusiasmo, como sócio honorário, presenteou-o com preciosíssimo manuscrito, obra sua «BOSQUEJO HISTORICO DE LITTERATURA PORTUGUEZA, SERVINDO DE INTRODUCÇÃO A UM CORPO BIOGRAPHICO DOS MAIS DISTINCTOS BRAZILEIROS E DE MUITOS VARÕES CELEBRES POR SEUS SERVIÇO AO BRAZIL.»

Balthazar da Silva Lisboa morreu a 14 de Agosto de 1840. Seu nome ficou gravado entre os dos mais ilustres representantes das letras e das ciências no Brasil, na primeira metade do século décimo nono.

Sua variada ilustração se aprecia nas diversas tarefas que desempenhou comissionado pelo governo.

Para seu maior elogio basta dizer que não desmereceu a glória de irmão do sábio José da Silva Lisboa, o Visconde de Cairu.

Fonte

  • Macedo, Joaquim Manuel de. Ano Biográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: Tipografia e Litografia do Imperial Instituto Artístico, 1876.

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