Biografia de Vieira Fazenda, por IHGB

José Vieira Fazenda nasceu no Rio de Janeiro, na Rua do Cotovelo (depois Vieira Fazenda), hoje desaparecida, em 26 de abril de 1847 e faleceu em 19 de fevereiro de 1917. Filho do negociante português Antônio Cândido Daniel e de D. Rosa Maria Cândido Fazenda.
Aprendeu as primeiras letras no Colégio Vitório, então estabelecido na Rua dos Latoeiros (Gonçalves Dias), 46, dirigido pelo renomado educador Adolfo Manuel Vitório da Costa e Azevedo, e Guilherme Frederico Vitório da Costa. Concluído o curso primário, matriculou-se, em 1858, no externato do Colégio de D. Pedro II, passando para o internato, logo que foi fundado, ainda no mesmo ano. Obteve o diploma de bacharel em letras em 8 de dezembro de 1865. Ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 15 de março de 1866, formando-se em 1871 e recebendo o grau de doutor em 9 de janeiro de 1872, após defender tese em 27 de dezembro do ano anterior. Terminado o curso, clinicou nas ruas do Cotovelo e São José, sendo, em 1872, efetivado médico da Santa Casa da Misericórdia, com exercício na enfermaria das anciãs. Em 1881 solicitou afastamento do cargo, transferindo-se para o Hospital São João Batista, em Botafogo, de onde retornou ao Hospital da Santa Casa, na Rua Santa Luzia, em 1886. Embora não se dedicasse à política partidária, concorreu, e saiu eleito, ao pleito para Intendente Municipal, pela Freguesia de São José; assim, no período 1895/1896, quando ocupou uma cadeira no Conselho Municipal, teve oportunidade de revelar-se um vereador probo, interessado pelo bem comum, profundo conhecedor da história do Rio de Janeiro, por isso merecedor do respeito de seus colegas. Ao terminar o mandato, deixou a política e regressou ao seu lugar de médico da Santa Casa. Em 6 de março de 1898, assumiu o cargo de bibliotecário do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, nele permanecendo até falecer.
Apesar da admiração que todos lhe tributavam, pelos seus dotes pessoais e de historiador, não foi sócio do IHGB. Américo Jacobina Lacombe, ao recordar este fato, lembra que “sempre se recusou a ingressar nos quadros da veneranda instituição”, e pergunta: “Quem sabe se por espírito franciscano, já que o Pobre de Assis jamais recebeu o presbiterado?” Entre as atividades que desempenhou no IHGB, conta-se a de professor da Academia de Altos Estudos, e de Vice-Presidente do 1.º Congresso de História do Brasil (1914). Na Sessão Magna realizada em 21 de outubro de 1917, o orador oficial, barão de Ramiz, ao fazer o elogio dos sócios falecidos durante o ano, abriu exceção para incluir o nome de Vieira Fazenda, e dizer que “a dedicação e o amor com que serviu por muitos anos à nossa casa, à série copiosa de excelentes trabalhos que legou sobre coisas de nossa terra, e particularmente deste torrão, que lhe foi berço – a cidade do Rio de Janeiro – são títulos que justificam esta exceção. Perdoai permitindo que eu glorifique convosco o nome do saudoso brasileiro, que não foi sócio efetivo, benemérito ou honorário do Instituto, mas que se associou de coração à nossa vida, efetivamente, com a mais alta benemerência, e fazendo a maior honra ao seu muito amado Instituto”.
O interesse pela história do Rio de Janeiro revelou-se bem cedo em Vieira Fazenda. Ainda estudante elaborou dois trabalhos sobre o assunto: História da Cidade do Rio de Janeiro, e Apontamentos para a História Civil e Eclesiástica do Rio de Janeiro. A própria tese de doutoramento (1871) versava sobre o Mefitismo dos esgotos em relação à cidade do Rio de Janeiro e sua influência na saúde pública, transformada mais tarde em artigo publicado na Revista Médica, sob o título Dos esgotos da cidade do Rio de Janeiro (1873/1874). Para elaborar a tese, Vieira Fazenda certa vez no Conselho Municipal (1895), declarou que revolvera no “pó das bibliotecas documentos importantíssimos que serviam para outros estudos”, pesquisa que certamente incentivara “seu amor aos estudos dos papéis velhos”, que marcaria o resto de sua existência. Mas a obra principal são as Antiqualhas e Memórias do Rio de Janeiro, recolha de centenas de crônicas publicadas na imprensa do Rio de Janeiro, principalmente no jornal “A Notícia” e nas revistas “Kosmos” e “Renascença”, durante o período que se estende de 1896 a 1913. São ao todo cerca de 600, e ocupam cinco volumes da Revista Trimestral do IHGB. Várias crônicas, todavia, não se encontram incluídas nas “Antiqualhas”, entre elas as que, revistas e aumentadas, foram enfeixadas no livro Os Provedores da Santa Casa da Misericórdia, editado em 1912, do qual existe segunda edição de 1960. Algumas ainda estão dispersas em periódicos, como “A Notícia”, “Revista Trimestral do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro” e “Boletim da Associação Comercial do Rio de Janeiro”. Inclui-se, entre sua obra, o livro A Posse do Convento do Carmo. Informações prestadas pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1908).
Dois conceitos sobre Vieira Fazenda. O primeiro, do conde de Afonso Celso, presidente do IHGB:
“Enquanto durar a nossa corporação, perdurará nela a memória de Vieira Fazenda, aureolada de respeito, reconhecimento e saudade.”
O outro, de um então jovem professor e jornalista, Luciano Tapajós:
“Recordo os meus tempos de rápida passagem pela vida da imprensa da Capital. Quando ali, em qualquer sala de redação, a propósito de qualquer coisa, de uma data, de um fato, de um nome carioca, faltava-nos a memória, não nos socorria a tintura histórica que levávamos do ginásio, do colégio, o remédio nos surgia logo: – Vamos ao Vieira Fazenda. E íamos. E voltávamos com o nó górdio desfeito… Vieira Fazenda era acima de tudo um bom, um excelente Mestre que se não cansava em atender todos quantos o procurassem para haurir na sua clara fonte a água necessária para dar vida ao artigo, à polêmica, à notícia.”
(Colaboração de Elysio Belchior)
Nota de rodapé
- Vieira Fazenda não foi sócio do Instituto. Devemos-lhe, porém esta homenagem, não só pela vasta e importante obra histórica, mas pelos seus serviços à Casa como bibliotecário.
Fonte
- Tapajós, Vicente, Dicionário Biobibliográfico de Historiadores, Geógrafos e Antropólogos Brasileiros, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro - IHGB, vol. 4 - Sócios falecidos entre 1881/1920, 1993.
Imagem destacada
- INSTITUTO CARTOGRÁFICO CANABRAVA BARREIROS. Map of The Central Part of Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ: Departamento de Turismo e Certames, [19–]. 1 Planta, col., 44 x 32,5cm. em f. 42 x 30,5. . ((W43° / S22°50')). Disponível em: http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart313884v/cart313884v.jpg. Acesso em: 10 ago. 2020. Disponível em: http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart313884v/cart313884v.html. Acesso em: 10 ago. 2020.
Livro
Mapa - Local da Antiga Rua Vieira Fazenda