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Maria Graham, por Américo Jacobina Lacombe e Dictionary of national biography

Maria Callcott, pintada por seu segundo marido, Sir Augustus Wall Callcott
Maria Callcott, pintada por seu segundo marido, Sir Augustus Wall Callcott via Wikimedia Commons

Maria Graham (19 de julho de 1785 – 21 de novembro de 1842). O primeiro marido morreu em 1822. Ela casou novamente em 1827 passando a chamar-se Maria, Lady Callcott.

Dentre o grande número de viajantes ingleses que percorreram o Brasil a partir da vinda da corte para o Rio de Janeiro, está Maria Graham, autora de um Diário Famoso. Reúne ela um feliz conjunto das qualidades tradicionais dos britânicos: objetividade, precisão, clareza e – acima de tudo – simpatia para com o povo observado.

Maria Graham nasceu em Papcastle, perto de Cockermouth, na Inglaterra, em 19 de junho de 1785. Seu pai era o Vice-almirante George Dundas, comissário do Almirantado Britânico. Recebeu uma educação muito apurada. Conhecia profundamente literatura inglesa e estrangeira, e arte. Desenhava satisfatoriamente.

Em 1808 foi à Índia com o pai, de que resultou seu primeiro livro de viagens. No ano seguinte casou-se com o cap. Thomas Graham, da marinha de guerra, e fez segunda viagem à Índia. Em 1819 visitou a Itália.

Em 1821 veio ao Brasil, na fragata Dóris, sob o comando do seu marido, na qualidade de professora de literatura de uma turma de guardas-marinha. A América do Sul estava então em plena agitação autonomista.

Na Bahia a inteligente viajante não só visitou igrejas e fortalezas, mas deixou alguns flagrantes únicos da vida Íntima da família baiana, nem sempre envaidecedores, mas jamais caluniosos.

No Rio de Janeiro, cuja descrição minuciosa é das mais preciosas que possuímos, assistiu aos acontecimentos do Fico. Frequentou casas de boas famílias fluminenses, a da Viscondessa do Rio-Seco, a da Baronesa de São Salvador dos Campos dos Goytacazes, a de seus conterrâneos Sir Thomas Hardy, comandante da estação naval inglesa na América do Sul, e Sr. William May, e a do estranho e misterioso general napoleônico, o Conde de Hogendorp.

Foi ao Teatro São João e após nova viagem a Bahia visitou uma fazenda em Guaxindiba.

Quando o navio tocou em Pernambuco, Recife estava sitiado pelas tropas nacionalistas e o governador Luís do Rêgo teve dificuldade em fazer devidamente as honras da casa. Como o navio precisava de víveres o cap. Graham teve necessidade de entender-se com os revolucionários. Temos, por esse motivo, uma viva descrição da junta revolucionária de Goiana.

Deixando o Rio em direção ao Chile, o Cap. Graham faleceu após a passagem do Estreito de Magalhães. A viúva passou alguns meses no Chile, refazendo-se do abalo, e escreveu um diário igualmente famoso sobre aquele país.

No Chile é acolhida benevolamente por seu patrício Lord Cochrane, então comandante em chefe da marinha chilena. Cochrane passa a ser, daí por diante, a figura central de seus apontamentos. Vem com ele ao Brasil, induzindo-o a aceitar o convite do Imperador para organizar a marinha brasileira.

Aqui permanece até fins de 1823. Visita os arredores do Rio, desenha abundantemente aspectos da cidade e conquista a amizade da Imperatriz D. Leopoldina.

Afinal, num beija-mão de aniversário do Imperador, vem a saber que a Imperatriz deseja-a como governante dos filhos, especialmente D. Maria da Glória, então com cinco anos.

Parte então para a Inglaterra, a fim de preparar material didático para a educação da princesa. Manda imprimir em português ad usum delphini os livros didáticos mais famosos.

Volta ao Brasil em agosto de 1824. Encontra Pernambuco revoltado e Cochrane no comando do bloqueio. Serve de intermediária para negociações com o presidente revolucionário – casado com inglesa.

Anotou minuciosamente suas negociações em um exemplar de seu diário que foi, depois, comprado por Oliveira Lima e está hoje na Universidade Católica de Washington.

Chegando ao Rio entra em função e luta com grandes obstáculos. A corte recebe-a mal e prepara-lhe armadilhas até criar incompatibilidades com o Imperador. A Imperatriz, porém, demonstra-lhe uma confiança inflexível. As cartas – hoje na Biblioteca Nacional – são documentos preciosos de uma amizade sincera.

Saindo do Palácio Maria Graham residiu algum tempo à Rua dos Pescadores (hoje Visconde de Inhaúma) e embarcou para a Inglaterra em fins de 1825 com passaporte do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Brasil. Antes de partir recebeu do Imperador demonstrações de apreço pessoal que a puseram à vontade perante seus patrícios.

Na Inglaterra Maria Graham casou-se segunda vez com Sir Augustus Calcott, pintor de renome e escreveu vários livros sobre história da arte. O duque de Palmela, quando acompanhava a então rainha de Portugal D. Maria II à Inglaterra, ainda pretendeu que ela voltasse a exercer suas funções junto à antiga aluna. Faleceu em 1842.

Dessa vida agitada resultou para o Brasil um dos mais fidedignos e simpáticos depoimentos. Para a Inglaterra, uma revelação pedagógica, porque o livrinho escrito por Lady Calcott, Little Arthur’s History of England, cujas edições se repetem até hoje, foi certamente inspirado na experiência de pedagogia infantil por ela realizada no Rio de Janeiro.

Américo Jacobina Lacombe

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CALLCOTT, MARIA, LADY (1785-1842), traveller, and author of ‘Little Arthur’s History of England,’ born in 1785 at Papcastle, near Cockermouth, was the daughter of George Dundas, rear-admiral of the blue and commissioner of the admiralty. From an early age she read widely and took great interest in plants, flowers, and trees. Her governess had been acquainted with the Burneys, Reynolds, and Johnson, and she often visited her uncle, Sir David Dundas, at Richmond, where Rogers, Thomas Campbell, Lawrence, and others were frequent guests. Early in 1808 Maria sailed with her father for India. In the following year she married Captain Thomas Graham, R.N., and soon after she set out on a travelling tour in India. She returned to England in 1811, and lived for a while in London, where she made the acquaintance of Sir James Mackintosh and Sir Samuel Romilly. Her husband was absent on foreign service for the next few years, but he and his wife spent some time in Italy in 1819, and started for South America in the ship Doris in 1821. Captain Graham died off Cape Horn in April 1822. His widow proceeded to Valparaiso, where she remained as instructress to Donna Maria from 22 Nov. 1822 to January 1823. Soon afterwards she came back to England, engaged in literary work, and on 20 Feb. 1827 married Augustus Wall Callcott [q. v.], the artist. In 1828 Mr. and Mrs. Callcott started on a long Italian tour. In 1831 Mrs. Callcott ruptured a blood-vessel, and became a confirmed invalid. She died at her husband’s house at Kensington Gravel Pits on 28 Nov. 1842, and was buried in Kensal Green cemetery.Lady Callcott wrote popular descriptions of her travels, and was also the author in later life of many successful children’s books, and of translations from the French. The book by which she is best remembered is ‘Little Arthur’s History of England,’ first published in 1835 in two volumes, under her initials M.C., and repeatedly reissued. Her other works are as follows: 1. ‘Journal of a Residence in India,’ 1812; 2nd ed. 1813; a French translation of this book was issued in A. Duponchel’s ‘Nouvelle Bibliothèque des Voyages,’ 1841, vol. x. 2. ‘Letters on India, with etchings and a map,’ 1814. 3. A translation from the French of De Rocca’s ‘Memoirs of the Wars of the French in Spain,’ 1815; reissued in 1816. 4. ‘Three Months in the Mountains east of Rome,’ 1820. 5. ‘Memoirs of the Life of Poussin,’ 1820. 6. ‘Journal of a Voyage to Brazil, and residence there during the years 1821-3,’ 1824. 7. ‘Journal of a residence in Chili during the year 1822, and a voyage from Chili to Brazil in 1823,’ 1824. 8. ‘History of Spain,’ 1828. 9. A letter to the Geological Society respecting the earthquakes which Lady Callcott witnessed in Chili in 1822, together with extracts from her letters to H. Warburton, Esq., 1834. 10. A description of Giotto’s chapel at Padua, being the letterpress issued with Sir A. W. Callcott’s drawings in 1835. 11. ‘Essays towards the History of Painting,’ 1836. 12. Preface to the ‘Seven Ages of Man’ (a collection of drawings by Sir A. W. Callcott), 1840. 13. ‘The Little Brackenburners, and little Mary’s four Saturdays,’ 1841. 14. ‘A Scripture Herbal,’ 1842.

Information kindly supplied by Mr. I. Brunel; Athenaeum, 4 Dec. 1842; Gent. Mag. 1843, pt. i. 98; Brit. Mus. Cat.

S. L. L. – Dictionary of national biography (1885)

Veja também

Livro

  • Graham, Maria. Diário de uma viagem ao Brasil: e de uma estada neste país durante parte dos anos de 1821, 1822 e 1823. Tradução e notas de Américo Jacobina Lacombe. 1ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1956. 403 p. (Biblioteca Pedagógica Brasileira Brasiliana Série grande formato, vol. 8).

Imagem destacada

  • Maria Callcott, pintada por seu segundo marido, Sir Augustus Wall Callcott, via Wikimedia Commons.