Os Palmares

Diante da resistência passiva dos índios à escravidão, explicada em parte por seu caráter, como pelo habitat que sempre influi sobre a natureza do homem, recorreram os Portugueses e Paulistas, primeiros colonizadores da nossa terra, ao servilismo do do negro africano.
Da escravidão vermelha no Brasil há notícia desde 1531, quando Martim Affonso de Sousa dera licença a Pero de Góes para levar à Europa 17 escravos indígenas.
Desde o ano seguinte, nas antigas capitanias de São Vicente e Pernambuco escravos negros trabalhavam na lavoura da cana de açúcar.
Os escravos índios, caçados nos sertões do norte e sul do Brasil, inadaptáveis à agricultura, eram antes utilizados como canoeiros, combatentes ou no serviço da indústria extrativa.
Na zona marítima oriental, acentuava-se a preferência dos negros, para as lavras das primeiras povoações.
Portugal era então, de todas as nações, a que em mais larga escala exercia o tráfico de escravos africanos.
Senhor de quase toda a costa ocidental do continente negro, era principalmente nas ilhas do mar de Guiné e mais terras de Angola, Benguela e Moçambique, dos presídios de Caconda e Ambaça, que Portugal exercia esse monopólio, e entreposto de carne humana, tendo, entre os próprios príncipes negros, aliados e vassalos, a par do comércio de marfim e outros produtos.
Também do Congo e Zaire, através o golfo de Cabinda e da costa de Mina, como das ilhas de Cabo Verde, Cachéo e Bissau, vinham escravos com destino à Bahia, em maior número, Pernambuco e Maranhão, e outras capitanias do nordeste brasileiro.
Os negros da Guiné compreendiam os Berberes, Jalofos, Felupos e Mandingas.
A escravidão, para as nações africanas, era, aliás, uma instituição política, civil e penal, para grande número de casos, em que o rei, em relação aos seus vassalos, o pai aos filhos, o vencedor na guerra aos vencidos, o juiz (soba) aos condenados, tinham o arbítrio de praticar.
A execução da pena era representada pelo resgate do negreiro, que muitas vezes se operava por troca de miçangas de vidro, pano riscado da costa, facões de aço e cachaça.
Essas vítimas, em bando, seguiam conduzidas de presídio a presídio, por condutores denominados funidores ou tumbeiros.
Os escravos eram marcados por um ferrete em brasa, afim de distingui-los em caso de fuga, ajoujados pelo pescoço, com pesadas cadeias (libambo).
Amontoados no porão escuro e infecto do navio às centenas, muitos sucumbiam, e, chegando ao Brasil, eram vendidos nos trapiches e entravam na posse dos senhores de engenho ou da cidade.
O banzo, nostalgia da terra natal, o sarampão, a varíola, aliados aos maus tratos sofridos no cativeiro, dizimavam-nos em grande parte.
Durante a invasão holandesa em Pernambuco, o número de quilombolas ou mocambeiros, escravos foragidos no interior de Alagoas, avultou a ponto de chegar, em poucos anos, ao número de 30 mil.
Formaram então quilombos dos quais o principal ficava situado nas fraldas da serra da Barriga, mais ou menos no sítio onde hoje se encontram as cidades de Atalaia e Jacuhipe, denominado dos Palmares, cujo núcleo central, do Macaco, tinha em 1680, cerca de 1.500 mocambos (choças ou taperas em meio do mato). Costumavam raptar negras dos lugares próximos, incrementando assim a população dessa república negra.
Os chefes eram denominados zambi, nome extensivo ao rei negro dos Palmares como aos seus principais.
Os quilombolas frequentemente desciam às vilas e fazendas mais próximas onde procuravam se prover dos artigos necessários de comércio, até de armas, por violências ou em transação.
Por esse motivo resolveram os governadores de Pernambuco exterminar essa Troia Negra.
Várias expedições, de 1673 a 1695, foram enviadas contra os Palmares.
A primeira sob o comando do capitão André Rocha, e a segunda chefiada pelo coronel Antônio Jacome Bezerra. Não tiveram resultado apreciável.
Após estes, Fernão Carrilho, foi pelo governador de Pernambuco expedido ao reduto negro, onde, após renhida luta, chegou a propor acordo ao zambi, que não foi aceito.
Ainda em 1684, Fernão Carrilho ali tornou sem, lograr êxito, seguido por João de Freitas da Cunha, durante o governo pernambucano de Souto Maior, que, por fim, em 1687 contratou com o paulista Domingos Jorge Velho destruir a confederação dos negros.
No tempo do governador Caetano de Mello e Castro organizou-se uma coluna com seis mil homens, composta de paulistas comandados por Domingos Jorge Velho, de pernambucanos por Bernardo Vieira de Mello, e de alagoanos, por Sebastião Dias.
O assédio de Palmares durou cerca de três anos.
No último encontro, os negros repeliam os sitiantes que escalavam as estacadas com armas de fogo e flechas, disparadas dos baluartes, e tições de fogo.
À força do número o famoso quilombo do vale da serra da Barriga não pôde resistir; e caiu finalmente em 14 de maio de 1695.
O principal dos negros zambi não teve morte trágica, precipitando-se do cume de montanha num despenhadeiro, conforme refere a lenda, mas foi morto em combate, sendo vítima da traição de um mestiço.
Palmares, cantado no poema lírico de Castro Alves, foi o primeiro protesto dos africanos contra a escravidão e sua destruição muito facilitou a colonização da capitania das Alagoas.
A denominação de quilombo sobre-existe em vários lugares ou acidentes geográficos do Brasil.
Quanto ao designativo – Palmares provinha de serem ali muito comum as palmeiras, que cobriam os cimos das serras, ou marginavam os caminhos, sendo de grande préstimo, hastes e leques, fibras e cocos e palmitos, para os seus mocambos, que faziam amarras e cordas, leitos, abanos, azeite, manteiga, vinho e alimento.
Formavam esses palmeirais vasta zona de floresta quase paralela ao litoral e à distância de 20 a 30 léguas da costa, correndo desde o rio São Francisco até o grande sertão de Pernambuco.
Em 1675, assim se distribuíam os diferentes mocambos, segundo o manuscrito do conselheiro Pedro Paulino da Fonseca, publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo 39, 1ª, pág. 293.
O de Zambi só conhecido na última fase da guerra holandesa, ao N. O. de Porto Calvo; o de Acainene, Tabocas, Bambíabonga, Sucupira, Ozenga, Amaro e Andolaquituxe. Aos negros que viviam ali pacificamente das suas lavouras e granjas reuniram-se índios mansos.
O trecho da costa compreendido pelos quilombos, ia de Porto-Seguro até Paraíba, e, como fosse um recanto de desafôgo da guerra holandesa, era também procurado por brancos e mamalucos, que sefurtavam aos rigores da luta.
A invasão holandesa, cujos chefes fizeram logo aos quilombolas largas promessas de liberdade no caso de adesão, aliada à circunstancia dos senhores em fuga não mais poderem exercer férrea autoridade sobre os míseros escravos, concorreu mais do que tudo para a formação dessa Troia negra, que foi a república dos Palmares.
Quadro Sinótico
A escravidão vermelha teve seu primeiro vestígio na história da colonização do Brasil, em 1531, quando Martim Affonso de Sousa deu licença a Pero de Góes para conduzir à Europa 17 escravos índios; enquanto a escravidão negra figura, desde 1534, nas antigas capitanias de São Vicente e Pernambuco.
Os negros da costa da África eram preferidos por mais resistentes e práticas da lavoura; os índios serviam, antes, como canoeiros ou combatentes.
A invasão holandesa em Pernambuco favoreceu a formação de redutos de escravos fugidos, ou quilombos e mocambos, no sertão de Alagoas; chegando até ao número de 30 mil os negros foragidos de seus senhores. Estes, por seu turno, abandonaram igualmente os engenhos, granjas e lavouras, diante da invasão holandesa.
O principal desses quilombos foi o dos Palmares, (derivado das palmeiras, que eram ali muito comuns) nas faldas da serra da Barriga, Alagoas, cujo núcleo central do Macaco tinha, em 1680, cerca de 4.500 mocambos, cujo chefe era chamado Zambi (rei).
O governo de Pernambuco, com o fim de exterminá-la, preparou as expedições de 1673 a 1695.
Organizou-se, com o mesmo intuito, um corpo de seis mil homens, composto de paulistas, sob o comando de Domingos Jorge Velho; de pernambucanos, comandados por Bernardo Vieira de Mello, e de alagoanos, sob a chefia de Sebastião Dias.
O famoso quilombo da confederação dos Palmares foi destruído, enfim, em data de 14 de maio de 1695, após meio século de lutas. O principal dos negros, o zambi, não se atirou num precipício, conforme diz a lenda, morreu, porém, em combate, vítima da
traição de um mulato, atacado no seu mocambo, onde só lhe restavam seis homens.
Traços Biográficos
Domingos Jorge Velho, filho de Francisco Jorge Velho, natural da vila de Parnaíba (São Paulo), durante anos, a instâncias de Francisco Dias d’ÁVila, percorreu o sertão do Piauí, entre 1671 e 1674, fundando cerca de 50 fazendas de criação de gado, com imensa escravaria.
De acordo com o governador geral, contratou o governador da capitania de Pernambuco, João da Cunha Soutomaior, com o coronel Domingos Jorge Velho a distribuição dos Palmares. Faleceu em 1714.
Nota
- Ponto 10º – 29ª Lição
Fonte
- Fleiuss, Max. Apostilas de História do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1933. 467 p. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Volume Especial.
Imagem destacada
- Monumento a Zumbi dos Palmares no Rio de Janeiro
Mapa - Parque Memorial Quilombo dos Palmares