Os Franceses no Maranhão, sua reconquista pelos Portugueses

Achando-se o Brasil sob o domínio de Felipe III, de Espanha, e durante o governo dual de Dom Diogo de Menezes e de Dom Luís de Sousa, estabeleceram-se os Franceses no Maranhão.
Com a anexação da colônia à coroa luso-espanhola, acirraram-se contra o Brasil as investidas dos corsários que ostentavam as cores das nações inimigas de Castela.
Vieram primeiro os Ingleses e Holandeses, em fins do século XVI; e, no começo do século XVII, deu-se a tentativa mais ousada dos corsários franceses no litoral do Maranhão.
Um pirata inglês, Edward Fenton, em 1582, comandando dois navios, invadiu o porto de Santos, mas foi obrigado a retirar-se, após formidável luta com três navios da armada de Diogo Flores Valdez.
Em 1587, a esquadrilha britânica de Robert Withrington pretendeu tomar de surpresa a cidade do Salvador e atacou o Recôncavo, saqueando e devastando-lhe as plantações.
A junta governativa interina, que sucedeu a Telles Barreto, organizou a resistência com os elementos da guarnição militar da cidade, a que se aliaram os índios conversos, sob a chefia do missionário jesuíta Cristóvão de Gouvêa.
Durante o governo de Dom Francisco de Sousa, cognominado, por seus ardis e astúcia – Dom Francisco das manhas, – ocorreram ainda as incursões de corsários ingleses contra São Vicente, Espírito Santo e Pernambuco (1591 e 1595).
Em 1591, o pirata inglês Thomas Cavendish apareceu em águas do sul.
Num domingo, pela manhã, a cidade de Santos foi acometida de imprevisto, quando a maior parte de seus habitantes estava a ouvir missas.
Os Ingleses saquearam a cidade, mas seus moradores conseguiram escapar durante a noite, para o interior, com os bens que puderam carregar, enquanto os invasores se entregavam aos excessos da intemperança.
Cavendish incendiou ainda São Vicente, e tentou tomar de assalto a capital do Espírito Santo, sendo, porém, rechaçado, após violento combate.
Seus navios foram também desarvorados por grande temporal.
Afastou-se então do Brasil.
A terceira expedição inglesa de 1595, contra Pernambuco, foi a dos flibusteiros James Lancaster, de Londres, e do capitão John Venner, com uma esquadra de doze navios.
A 29 de Março desse ano, tomaram de assalto o fortim de Olinda; penetrando no porto, apoderaram-se facilmente da cidade do Recife, havendo-se retirado os habitantes.
Encontraram os armazéns repletos, inclusive da carga de um navio, pouco antes sinistrado, com escala da Índia.
Seriam necessárias algumas semanas para que carregassem a rica presa.
Durante esse tempo, estabeleceram-se aqueles corsários no Recife, chegando a construir uma cerca de fortificação e a instalar, dentro dela, uma bateria com as bocas de fogo assestadas sobre a estrada de Olinda.
Lancaster, para maior êxito da aventura, entrou em negociações com três navios holandeses, que já encontrara no porto, e com uma esquadrilha de cinco navios franceses, posteriormente ali aportados, conseguindo o concurso dos mesmos para o serviço de vigilância e defesa, dando-lhes parte na abundante presa que fizera.
Por um mês entregaram-se impunemente ao trabalho de carga de tais navios, que, em Maio de 1595, levantaram âncoras, abarrotados de despojos e partindo sãos e salvos para seus países de origem.
Os olindenses, sem ousar um ataque aberto, procuraram, mas em vão, molestá-los indiretamente, por meio de brulotes, para incendiá-los, ou buscando, às ocultas, cortar-lhes as amarras, havendo os Ingleses perdido parte de sua gente numa emboscada.
Alguns anos após, com o tratado de paz de 18 de Agosto de 1604, entre a Grã-Bretanha e a Espanha, cessaram as depredações de Ingleses nas costas do Brasil e em toda a América luso-espanhola.
Por esse tempo entraram a operar em nosso litoral o francês Le-Noyer e os holandeses van Noort, van Carlen, Joris van Spilberg e Dirk van Ruyter, sendo este último aprisionado por Martim de Sá.
Em princípio do século XVII estabeleceram-se no Maranhão Jacques Riffault e Charles des Vaux, que haviam desembarcado em 1594, na aldeia de São Luís, onde, obtendo a amizade do gentio, fundaram uma colônia.
De regresso à França, expôs Charles des Vaux ao rei Henrique IV seu plano de ali fundar uma grande colônia francesa, já que se haviam frustrado as tentativas anteriores, desde as de Villegagnon.
Mandou então Henrique IV ao Maranhão Daniel de la Touche, senhor de La Havardiere, que voltando à França, opinou pela execução do plano, cujas possibilidades estudou no próprio local.
Henrique IV dispunha-se a realizar essa empresa quando caiu vítima do atentado de Ravailac.
À rainha regente, Maria de Médicis, coube conceder licença para a organização de uma companhia destinada a colonizar o Maranhão, fundando a França Equinocial.
La Ravardière associou-se a Nicolau Harlay e a Francisco Rasilly, organizando uma expedição composta de três navios, La Regente, La Charlotte e La Sainte-Anne, que, em Março de 1612, partiram de Cancale, com cerca de 500 aventureiros.
Trouxeram quatro capuchinhos para o serviço religioso, cujo guardião – Claude de Abbeville – deixou a narração da viagem e a crônica dessa empresa francesa de colonização do norte brasileiro.
A rainha deu-lhes uma bandeira, com as armas da França em campo azul celeste, representando um navio guiado por mão feminina, tendo o dístico em latim – Tanti dux faemina facti (uma mulher é chefe de tamanha empresa), e a data de 1611.
Chegando ao Maranhão, saltaram na ilha desse nome, onde construíram um forte, que denominaram de São Luís, em homenagem a Luís XIII.
Jerônimo de Albuquerque e Martim Soares Moreno foram mandados em 1613 bater os Franceses, mas só puderam fundar o forte de Nossa Senhora do Rosário, na baía das Tartarugas (Jericoacoara), onde 40 Portugueses derrotaram mais de 200 Franceses e índios.
Na segunda expedição de 1614, Jerônimo de Albuquerque teve sob suas ordens Diogo de Campos Moreno, sendo suas forças compostas de brancos, índios e mamelucos.
Essa expedição, pelas condições penosas em que se realizou, foi chamada – Jornada milagrosa.
Os Portugueses fortificaram-se em Guaxenduba, onde, a 19 de Novembro desse ano, foram atacados pelos Franceses, que, não obstante a superioridade de forças sofreram completa derrota.
Celebrou-se então um armistício, durante o qual foram enviados emissários às cortes de França e de Espanha a fim de discutir-se o direito de posse territorial.
Tendo, porém, chegado reforços aos Portugueses, sob o comando de Alexandre de Moura, investiu este contra a fortificação francesa na ilha do Maranhão, a qual foi obrigada a capitular.
Os Franceses, desanimados, desocuparam a povoação de São Luís, que passou à soberania de Portugal, conservando, porém, o mesmo nome.
Voltaram, então, os Franceses suas vistas para a Guiana, onde definitivamente se estabeleceram.
A consequência mais importante da expulsão dos Franceses do Maranhão foi o ato previdente de Alexandre de Moura, mandando fundar, pela esquadrilha de Francisco Caldeira de Castello-Branco, uma povoação fortificada na foz do Amazonas, a fim de evitar que aquele rio caísse em poder de estrangeiros.
Tendo partido de São Luís a 25 de Dezembro de 1615, Castello-Branco denominou – Belém – a colônia que, em começo do ano seguinte, estabeleceu na baía de Guajará.
Atingia assim a ocupação lusitana o limite máximo setentrional da linha de Tordesilhas, e em 1621 foi criado pelo governo da metrópole o Estado do Maranhão.
Quadro Sinótico
Sob o domínio espanhol sofreu o Brasil várias investidas de corsários, que traziam em suas naus bandeiras de nações inimigas da Espanha.
Vieram primeiro os Ingleses: Fenton (1582); Withrington (1587); Cavendish (1591); Lancaster e Venner (1595), atacando o porto de Santos, a capital da Bahia, São Vicente, Espírito Santo, Olinda e Recife.
Negociado o tratado de paz, de 1604, entre a Grã-Bretanha e a Espanha, cessaram as depredações dos piratas ingleses, em toda a América luso-espanhola.
Depois, os Holandeses, que operaram no litoral, chefiados por van Noort, van Carden, van Spilberg e van Ruyter.
Em 1594 os franceses Riffault e des Vaux ocuparam a costa do Maranhão, resultando daí a expedição colonizadora de la Ravardière, em 1612, fundador da França Equinocial.
Em 1614 Jerônimo de Albuquerque e Alexandre de Moura expulsaram os Franceses da Ilha de São Luís, no Maranhão.
Em 1621 foi criado pela metrópole o Estado do Maranhão.
Traços Biográficos
Jerônimo de Albuquerque (1548-1618)
Nascido em Olinda, conquistou o Rio Grande do Norte, em 1599.
Em 1614, auxiliado por Diogo de Campos Moreno e Alexandre de Moura, expulsou os Franceses da Ilha de São Luís do Maranhão, onde os mesmos se haviam estabelecido desde 1611.
Em recompensa desse feito, o rei de Espanha deu-lhe concessão para usar do cognome – Albuquerque Maranhão.
Nasceu em 1548, e faleceu em 11 de Fevereiro de 1618.
Nota
- Ponto 7º – 21ª Lição
Fonte
- Fleiuss, Max. Apostilas de História do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1933. 467 p. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Volume Especial.
Texto Original
Imagem destacada
- Da barra de Maranhao, ate a barra do Cuma sao tres legoas. Auteur: Albernaz, João Teixeira (16..-16..). Cartographe. Date d’édition: 1640. via Bibliothèque nationale de France
Mapa - Palácio dos Leões, no local do antigo Forte de São Luís