Marcha da Colonização para o Norte do Brasil. Entradas e Bandeiras. Conquista do Ceará e do Pará. Exploração do Amazonas. Estado do Maranhão
![Monumento às Bandeiras, no Parque dos seios de Ibirapuera, em São Paulo, Brasil, de Dornicke (Lucas B. Salles) [Public domain] Monumento às Bandeiras, no Parque dos seios de Ibirapuera, em São Paulo, Brasil, de Dornicke (Lucas B. Salles) [Public domain]](/img/wikimedia/wikimedia_Monumento_as_Bandeiras.jpg)
Até o fim do século XVI, os colonos e aventureiros que vieram ao Brasil e nele se estabeleceram, mantiveram-se sem ânimo de penetrar o sertão, pelo receio que lhes inspirava a floresta, infestada de índios e animais bravios.
Ao principiar, porém, o século XVII as tribos mais terríveis já haviam sido repelidas da costa.
Foi a ganância de descobrir o ouro das minas que apressou o devassamento do sertão.
A configuração natural da bacia potamográfica, que se descortina para além da Serra do Mar, oferecia fácil acesso, por via fluvial, ao Norte e Nordeste, subindo pelos afluentes do São Francisco.
Além disso, o Uruguai, o Iguaçu, o Paranapanema, o Rio Grande, que nascem nas proximidades de nossa costa meridional, correm, não obstante, para o interior, e lançam-se no Paraná, tributário do Rio da Prata.
Denominaram-se entradas no sertão brasileiro as expedições feitas pelos colonos à cata de índios para a escravidão vermelha, ou ainda em busca de jazidas de ouro, prata e pedras preciosas, ao passo que as bandeiras, com seu estandarte, homens vestidos de couro cru, arcabuzes de pederneiras, ao som de tambores, a cavalo o cabo da tropa, seus ajudantes, sacerdotes e mais pessoas gradas, e os restantes a pé tinham um regimén especial para a exploração do nosso hinterland.
Resignados e sóbrios, como os caravaneiros árabes no deserto, partiam sem saber se voltariam aos lares e levando apenas provisões para as primeiras etapas da jornada.
Diz João Ribeiro que só a formação de uma raça inteiramente aclimada ao sol, e ao céu do Brasil, como a dos Paulistas, poderia preparar tamanhos resultados.
As primeiras entradas foram as de Américo Vespucio (1504), contestada com sólidos fundamentos por Duarte Leite, em seu livro Os descobridores do Brasil, no sertão de Cabo Frio, e as da expedição de Martim Affonso de Sousa (1531); a que, partindo do Rio de Janeiro para o interior, composta de quatro portugueses; a de 80 homens sob a chefia de Pero Lobo, que, guiados por Francisco Chaves, se embrenharam de Cananéia até ao rio Iguaçu, e finalmente a exploração do Rio da Prata, por Pero Lopes de Sousa.
Das entradas que partiram para o sertão em busca das minas, por ordem dos primeiros governadores gerais, cumpre mencionar as dos ciclos – baiano, sergipano, cearense e espírito-santense.
No primeiro ciclo – figuram as de Francisco Bruzza Espinoza, acompanhado pelo padre Aspilcueta Navarro, em 1553; a de Vasco Rodrigues Caldas, em 1561; a de Martim Carvalho, em 1567 ou 1568; a de Sebastião Fernandes Tourinho, em 1572 ou 1573; a de Antônio Dias Adorno, em 1574; as de Sebastião Álvares e João Coelho de Sousa, que precederam a de Gabriel Soares de Sousa, em 1592.
O segundo ciclo encerra as de Belchior Dias Moreya, entre 1587 e 1590; a de Francisco Dias d’Avila, posterior a 1628; a do coronel Belchior da Fonseca Saraiva Dias Moreya, o Moribeca, bisneto de Belchior Dias Moreya e neto de Roberio Dias, em 1672, além de outras.
O terceiro ciclo compreende os de Pero Coelho de Sousa, em 1603 e 1605; e a dos jesuítas Francisco Pinto e Luiz Figueira, em 1607.
O quarto ciclo, finalmente, abrange as de Diogo Martins Cão, o Mata-negros, em 1596; a de Marcos de Azeredo, pouco antes de 1612; a do padre Ignacio de Siqueira, em 1634; as de Antônio e Domingos de Azeredo, em 1646 ou 1647, e a de Agostinho Barbalho Bezerra, em 1667.
As entradas pouco produziram, já em relação à descoberta das minas, já quanto à posse do sertão desconhecido.
As bandeiras paulistas deram muito maior proveito, especialmente, quanto a penetração nas regiões meridional, central e nordestina do Brasil.
Braz Cubas, o fundador de Santos, e Luis Martins, descobriram, em 1560 e 1562, o primeiro ouro de lavagem, em São Paulo.
Heliodoro Eobanos e outros aventureiros exploraram o litoral de São Paulo e chegaram até Paranaguá e Curitiba.
Affonso Sardinha, pai e filho, com o auxílio de Clemente Álvares, descobriram também ouro e outros metais no interior paulista, em Jaraguá, na Mantiqueira, e em Sorocaba.
Datam, porém, do século XVII as mais importantes bandeiras paulistas, em 1672 e 1675, com o incentivo real de Affonso VI, o – Vitorioso – as cinco expedições capitaneadas por Sebastião Paes de Barros, Lourenço Castanho Taques, Fernando de Camargo, Manuel Paes de Linhares e Fernão Dias Paes Leme.
A célebre bandeira de Fernão Dias, cognominado – “o caçador de esmeraldas” – durou sete anos.
Tendo partido de São Paulo, a 21 de Julho de 1674, fixou os pontos de penetração do interior da região mineira, desbravados posteriormente por seus companheiros e parentes, e que serviram de seguro roteiro aos abridores de caminhos para as minas: Garcia Rodrigues Paes, Manuel de Borba Gato e Mathias Cardoso de Almeida.
No território do atual Estado de Minas Gerais – o primeiro ouro foi descoberto em 1693 pela bandeira de Antônio Rodrigues Arzão, natural de Taubaté, que apresentou ao capitão-mór, regente da capitania do Espírito Santo, três oitavas que extraíra e de que se fizeram dois anéis, naquele tempo chamados – memórias.
No ano seguinte, em Itaverava, o concunhado de Arzão – Bartholomeu Bueno de Siqueira – também descobriu ouro.
O primeiro desbravador do sertão do Ceará – Pero Coelho de Sousa – partiu da Paraíba, em 1603, para a serra da Ibiapaba, com o título de capitão-mór das terras a descobrir.
Munido da licença do governador, levava em sua expedição soldados e muitos índios.
Após ele, partiram os padres jesuítas, Francisco Pinto e Luiz Figueira, em 1607, com alguns índios mansos, escravizados por Pero Coelho, tendo fundado aldeamento, não longe do local onde depois se ergueu a vila, que passou a ser a capital do Ceará.
Partiram em demanda da serra do Ibiapaba e rumo do Maranhão, tendo, porém, sofrido ataque dos índios, no qual morreu o padre Pinto, depois de difícil jornada, seu companheiro chegou enfermo ao Rio Grande do Norte, com os índios restantes da malograda expedição.
Em 1611, a metrópole portuguesa incumbiu a Martim Soares Moreno, que é “o guerreiro branco”, da lenda de Iracema, escrita por José de Alencar, de colonizar o Ceará.
Moreno foi companheiro da expedição de Pero Coelho, mas tendo, ao contrário deste, tratado sempre humanamente ao gentio e feito aliança com o chefe Jacaúna (homem de peito negro), irmão do famoso Poti (Camarão dos Portugueses) partiu com ele em um barco, seguido de dois arcabuzeiros e um missionário.
Desembarcou um pouco ao Norte da ponta de Mucuripe, aí erguendo um forte e a ermida de Nossa Senhora do Amparo.
Foi desse forte, cercado de aldeias de Tapuias, submissos aos Portugueses, que se originou a atual cidade de Fortaleza.
O Maranhão, o que já ficou dito em lição anterior, foi colonizado em 1613 e 1614, após a expulsão dos franceses de La Ravardiere, por Jeronymo de Albuquerque, com o auxílio naval de Diogo de Campos Moreno e Alexandre de Moura, governador geral da armada e da conquista.
Ocupado o forte de São Luis pelos Portugueses, em Novembro de 1615, retirou-se Alexandre de Moura para Pernambuco, deixando a conquista sob a direção de Jeronymo de Albuquerque, que, em razão de seus grandes feitos, acrescentou ao seu cognome – Albuquerque – o de Maranhão.
Vencidos os Franceses, prosseguiu Alexandre de Moura na exploração do litoral do norte do Brasil, e, volvendo as vistas para o Grão Pará, nomeou a Francisco Caldeira Castello Branco por capitão-mór de sua descoberta e conquista.
Caldeira, com três navios e muitos homens, partiu em demanda da foz do Amazonas, entrou no rio Pará (Alto-Tocantins) e desembarcou em Janeiro de 1616, a margem da baía de Guajará, onde lançou os fundamentos da atual capital, com a denominação de – Nossa Senhora de Belém.
Muito o auxiliaram nessa empresa, não só o alferes Pedro Teixeira que, em viagem ao Maranhão, obteve socorros e reforços de Jeronymo de Albuquerque, como os naturais da região, de quem soube Caldeira captar amizade e confiança.
Por esse tempo os Holandeses tratavam de fundar feitorias no baixo Amazonas.
Em 1621 resolveu a metrópole espanhola, tendo em vista as dificuldades de comunicação com o sul do país e o desenvolvimento da parte setentrional, criar o Estado do Maranhão, completamente independente do restante Estado do Brasil, e constituído pelo território de capitanias do Ceará, Maranhão e Pará.
Seu primeiro governador, em 1626, foi Francisco Coelho de Carvalho.
Em 1637 o governo desse estado preparou a expedição de Pedro Teixeira, que subiu o Amazonas, até o rio Napo.
Quadro Sinótico
No princípio do século XVII começou propriamente a exploração do interior brasileiro.
As primeiras entradas no sertão, sem falar nas tentativas do século do descobrimento, foram as de Pero Coelho de Sousa, Francisco Pinto, Luis Figueira, Marcos de Azeredo, Francisco Dias d’Avila, padre Ignácio de Siqueira, Antônio e Domingos de Azeredo, Agostinho Barbalho Bezerra e Belchior Saraiva, o Moribeca. Todas a partir de 1603.
As bandeiras mais importantes foram as paulistas, do século XVII, capitaneadas por Sebastião de Barros, Lourenço Castanho Taques, Fernando de Camargo, Manuel Paes de Linhares e Fernão Dias, o
caçador de esmeraldas.
Martim Soares Moreno foi o colonizador do Ceará (1611); com Pero Coelho fundou a povoação que se tornaria cidade de Fortaleza.
Francisco Caldeira conquistou o Pará e fundou a vila de Belém.
Em Novembro de 1615, os portugueses, com Jeronymo de Albuquerque, ocuparam o Maranhão, cujo estado independente, foi fundado em 1621.
Em 1637 o governador do Maranhão mandou explorar o Amazonas por Pedro Teixeira, que subiu até o rio Napo.
Traços Biográficos
Braz Cubas
Em virtude de concessão de d. Anna Pimentel, esposa de Martim Affonso de Sousa, veio Braz Cubas para o Brasil, onde ocupou, na capitania de São Vicente, terras de que tirou grandes resultados para a agricultura (1536).
Estabeleceu depois outra povoação do lado oposto à ilha de São Vicente, no outeiro de Santa Catarina, então mata virgem, criando na restinga o novo fundeadouro, ou porto, que logo atraiu os navegantes e colonos do rio da Bertioga e ilha de Santo Amaro.
Em 1543 fundou ai o Hospital de Santos, primeira Casa de Misericórdia do Brasil, e a denominação – Santos – veio a estender-se a todo o porto.
Foi nomeado capitão-mór da capitania de São Vicente.
Tomando posse em 8 de Junho de 1545, elevou a povoação do porto de Santos a categoria de vila, com foral passado por Tomé de Sousa, a 8 de Fevereiro de 1552.
Foi ainda provedor da Fazenda.
Fez doação, aos religiosos do Carmo, da terra junto à capela de Nossa Senhora da Graça, para que fundassem seu convento.
Faleceu, quase centenário em 1592, sendo sepultado na capela-mór da matriz da vila de Santos.
Português de origem, dedicou sessenta anos de serviços ao Brasil.
A ele se deve o descobrimento do ouro de lavagem em São Paulo, em 1562.
Nota
- Ponto 7º – 22ª Lição
Fonte
- Fleiuss, Max. Apostilas de História do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1933. 467 p. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Volume Especial.
Imagem destacada
- Monumento às Bandeiras, no Parque dos seios de Ibirapuera, em São Paulo, Brasil, de Dornicke (Lucas B. Salles) [Public domain], via Wikimedia Commons