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Início da Colonização. Martim Affonso de Sousa. Primeiros Núcleos Coloniais

MAPA da costa desde a ilha de São Sebastião até a Barra Grande de Santos, [17--]. Acervo digital da Biblioteca Nacional.
MAPA da costa desde a ilha de São Sebastião até a Barra Grande de Santos, [17--]. Acervo digital da Biblioteca Nacional.

Descoberto o caminho marítimo das Índias e aportado Cabral ao Brasil, teve Portugal de solucionar dois grandes problemas: – fundar um império asiático e colonizar um continente de selvagens.

O gênio aventureiro português, que se havia celebrizado nas façanhas marítimas do século XV, levara muitos de seus patrícios a estabelecer-se fora do reino. Primeiro nos Açores, Madeira e Cabo Verde, depois na costa africana, na Índia e no Brasil.

Durante o reinado de dom Manuel, acusam as estatísticas uma baixa de metade da população por esse efeito: – saíam anualmente do país mais de oito mil homens.

Entretanto, não havia, entre os conselheiros de dom Manuel, um estadista capaz de conceber um sistema de colonização para o Brasil.

A fim de ser levada a efeito a colonização, era imprescindível um tipo de perfeito capitão-mor da costa, que dela expulsasse definitivamente os corsários e fundasse um centro de ação militar, como na Índia; fazia-se mister, em suma, a autoridade de um verdadeiro estadista colonizador.

Afora isso, a fronteira do Prata, com o litígio regulado aparentemente pelo tratado de Tordesilhas, entre Portugal e Espanha, carecia de rigorosa demarcação.

Foi esse o tríplice objetivo da primeira missão colonizadora do Brasil (1530), confiada por dom João III, o Colonizador, a Martim Affonso de Sousa, com amplos poderes de governador da Terra do Brasil, verdadeiro lugar-tenente do soberano; segundo se lê nas Cartas Patentes de 20 de Novembro de 1530 e no Diário de Pero Lopes de Sousa.

Sua esquadra compunha-se de cinco naus, sendo a capitânia comandada por Pero Lopes; a São Miguel, por Heitor de Sousa; a Rosa, por Diogo Leite; a Princeza, por Balthazar Gonçalves; e a São Vicente, por Pero Lopes Pinheiro.

Como substituto legal do capitão-mor, vinha o vigário Gonçalo Monteiro. Veio também Pero Capico, depois escrivão da capitania de São Vicente, que, em 1527, voltara ao Reino. E também Pedro Annes, piloto, Henrique Montes, que fora companheiro de Solís; os fidalgos Pedro Corrêa e João de Sousa, formando cerca de 400 pessoas o total da expedição, que trouxe ferramentas, instrumentos de lavoura e sementes dentre as mais úteis da Europa.

Apressou-se a partida da esquadra ante a notícia do desastre sofrido pela Espanha com a expedição de Caboto, além de que se propalava que Francisco I, da França, tratava do aparelhamento de numerosa frota de corso, com que pretendia garantir a exploração do contrabando em nosso litoral.

A primeira armada de colonização portuguesa zarpou do Tejo a 3 de Dezembro de 1530 e a 31 de Janeiro de 1531 montava o cabo de Santo Agostinho, tendo tomado uma nau francesa carregada de pau-brasil e mais duas outras, apresadas por Pero Lopes, junto à ilha de Santo Aleixo (Pernambuco).

Após ter reerguido em Pernambuco (Fevereiro de 1531) a feitoria destruída pelos Franceses, e feito explorar a costa por Diogo Leite, até ao rio Gurupi, aportou a esquadra à baía de Todos os Santos, tendo-se avistado ali com Diogo Álvares, o Caramuru (branco molhado), e a 30 de Abril chegou ao Rio de Janeiro, onde permaneceu três meses, fazendo aí aliança com os Tamoios e construindo uma casa-forte, uma forja e estaleiro para o preparo das naus, onde se aparelharam dois bergantins de 15 bancos cada um, empregados na exploração dos rios do interior.

Prosseguiu, depois, na averiguação de nossa costa meridional até a proximidade do cabo de Santa Maria; tomou posse da terra e lançou padrões no esteiro dos Querandins, do rio Uruguai.

Desta última empresa foi incumbido Pero Lopes (12 de Dezembro de 1531), que, para esse fim, subiu o rio num bergantim com 30 homens, regressando à ilha das Palmas, onde os aguardava o resto da esquadra, a qual, a 1º de Janeiro de 1532, partiu para o N. até Cananéia.

Depois de alguns dias de viagem, surgiu, a 20 de Janeiro, a meia légua da abra de São Vicente, onde, desembarcando a 22 de Janeiro, dia de São Vicente, encetou Martim Affonso a sua empresa colonizadora, fundando a vila de São Vicente, que, verdadeiramente, foi a primeira capital que teve o Brasil, obedecendo em tudo ao regímen comum às vilas da Coroa e às do Mestrado da Ordem de Christo.

São Vicente representa, assim, “a célula mater do Brasil”, segundo se lê na inscrição do seu escudo municipal, devido a Affonso Taunay.

Na ordem cronológica, é o primeiro, não só dos municípios de São Paulo, como de todo o Brasil. O segundo foi Olinda (1535) e o terceiro Santos (1545).

Aliás, já anteriormente a 1532, era esse ponto da nossa costa assinalado nos mapas e portulanos quinhentistas por uma torre à beira-mar (Turíbio de Medina, Affonso Taunay e Eugênio de Castro).

Já ali foi encontrar Martim Affonso os primeiros mamalucos (mamaluco, segundo Th. Sampaio, vem de mamãruca, o mestiço).

Diz Th. Sampaio que ao mestiço, oriundo do branco e do selvagem, deu-se nos primeiros tempos o nome de mamaluco, que é como se lê em Gandavo (1576), em frei Vicente do Salvador (1627) e em Simão de Vasconcelos (1664), e que só mais tarde foi que se começou a pronunciar mameluco, confundindo-se com a denominação dada aos soldados escravos do sultão do Egito.

Os mamalucos paulistas, encontrados por Martim Affonso, eram descendentes de João Ramalho e de Antônio Rodrigues, ali já residentes, de data não de todo averiguada, e genros dos caciques Tibireçá e Caiubi (Tibireçá, o vigia ou guarda da terra, o maioral ou principal; Caiubi, mata-verde).

João Ramalho e Antônio Rodrigues, segundo alguns autores, já entretinham mesmo correspondência com o rei de Portugal.

Ao fundar São Vicente, Martim Affonso edificou logo a Matriz, a Casa do Conselho, a cadeia da vila; distribuiu sesmarias, proveu ofícios administrativos e de justiça, convocou as primeiras vereações, de que faz menção frei Gaspar da Madre de Deus, em suas Memórias da Capitania de São Vicente, relativas ao ano de 1542.

As atas anteriores foram destruídas, com o arquivo municipal, por um maremoto, que alagou todo o litoral de São Vicente.

Esta vila foi, durante 177 anos, desde sua fundação até ao ano de 1709, a capital dos Paulistas.

Só a 3 de Novembro de 1709, com a criação da capitania de São Paulo e Minas do Ouro, deixou de ser a cabeça da capitania, que passou à vila de São Paulo, elevada a cidade em 1711.

Tendo-se desavindo com os colonizadores, retirou-se João Ramalho para Piratininga, e Martim Affonso, em sinal de aliança com Tibireçá e os Guaianazes, subiu ao planalto de Piratininga, e ali, na Borda do Campo e da aldeia de João Ramalho, fundou uma segunda vila, sob o nome de Santo André, a 4 de Fevereiro de 1533, fazendo entrega a Ramalho da carta-patente de capitão-mor do Campo, título de grande prestígio entre os selvagens.

Martim Affonso e Pero Lopes regressaram a Lisboa em 1533.

Quanto à fronteira do Prata, feitas as observações astronômicas, parece haver-se concluído que esse rio estava fora da demarcação de Tordesilhas.

Deve-se ainda à expedição de Martim Affonso um assinalado serviço: – o levantamento da primeira carta do nosso litoral, pelo padre Gaspar Viegas, em 1534.

Quadro Sinótico

Descoberto definitivamente o Brasil, teve Portugal de demarcar, desde logo, a vastidão de nossas costas e garanti-las contra as incursões de flibusteiros, bem como povoar a nova terra e administrá-la por prepostos idôneos.

Esses foram os fins principais da missão colonizadora de 1530, incumbida a Martim Affonso de Sousa, que a realizou plenamente.

São Vicente, fundado a 22 de Janeiro de 1532, por essa expedição, é o mais antigo dos municípios de todo o Brasil. O segundo é Olinda e o terceiro Santos.

Ao fundar São Vicente, Martim Affonso fez logo as principais edificações, distribuiu as terras e deu as primeiras providências administrativas.

João Ramalho e Antônio Rodrigues, antigos moradores do local (sem se conhecer a data de sua vinda), prestaram-lhe grandes auxílios.

Traços biográficos
Martim Affonso de Sousa

Fidalgo da Casa Real e Conselho, senhor do Prado e Alcoentre, alcaide-mor da Casa de Bragança, era filho de dom Lopo de Sousa e de Beatriz de Albuquerque.

Nascido em 1500, foi pagem de dom João III, quando este era príncipe. Passou parte da mocidade em Salamanca.

Casou-se com Anna Pimentel, dama da rainha dona Catharina.

Devido ao prestígio de que gozava junto a dom João III, foi nomeado para a primeira expedição colonizadora do Brasil.

Camões, na estância 67 do canto X dos “Lusíadas”, fez o elogio de Martim Affonso pelo modo seguinte:

“Este será Martinho, que de Marte
O nome tem co as obras derivado;
Tanto em armas ilustre em toda parte,
Quanto, em conselho, sábio e bem cuidado.”

Martinho e Martim são formas paralelas, representativas de Martinus, que é derivado de Mars, como nos ensina Epiphanio Dias (pag. 246 dos Lusíadas, por ele comentados).

Nota

  • Ponto 2º – Lição 7ª

Fonte

Imagem destacada

  • MAPA da costa desde a ilha de São Sebastião até a Barra Grande de Santos, [17–]. Acervo digital da Biblioteca Nacional.

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