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Grande Ciclo da Navegação Portuguesa no Século XV

Mapa antigo da Europa e África, com caravela sobreposta. Direcção Geral de Turismo de Portugal,
Mapa antigo da Europa e África, com caravela sobreposta. Direcção Geral de Turismo de Portugal, via Biblioteca Nacional de Portugal

Restritos eram os conhecimentos geográficos no começo do século XV.

Limitavam-se a uma parte do continente europeu, ao contorno africano do mar Mediterrâneo, à Arábia, Pérsia, Síria, Palestina e ao delta do Nilo, no Egito.

Vagas e confusas eram as noções sobre o Oriente, compreendendo a Tartária, a Índia, a China e o Japão.

Imaginavam menor a circunferência da terra, dando á Asia extensão muito maior, sendo, portanto, diminuta a distância entre a costa ocidental da Europa e as praias das Índias, denominação esta generalizada ao Extremo Oriente.

Ptolomeu e Marco Polo, em seus mapas, punham Catai (China), Sipango ou Zipango (Japão) e ilhas das especiarias (Índias) no Atlântico, a pequena distância da Europa; e pretendiam que o Atlântico (mar Oceano Ocidental) se prolongava a oeste, até encontrar-se com o Oceano Índico.

Não acreditavam na existência de um quarto continente, de que nos fala Duarte Pacheco Pereira, em 1505, no seu livro – Esmeraldo de situ orbis, pois diferiam os conhecimentos, por parte dos portugueses, da perfeita extensão e divisão do globo terráqueo em fins do século XV.

Colombo, também, que faleceu em 1506, estava convencido de haver descoberto o caminho ocidental para terras da China e do Japão.

Concorriam ainda para isso as lendas geográficas, espalhadas no Livro das Maravilhas do Mundo, ditado por Marco Polo, quando prisioneiro (1298-1300), e oferecido pelo Senado de Veneza a dom Pedro, duque de Coimbra e irmão do infante dom Henrique, o Navegador.

No globo de Martinho Behaim, astrônomo e cartógrafo de Nuremberg, construído no mesmo ano (1492) do descobrimento da América por Cristóvão Colombo, o continente asiático ocupa o lugar da América, e a costa oriental de Catai (China) com o arquipélago de Zipango (Japão) se demarcam na situação geográfica do México atual.

Geógrafos gregos da antiguidade haviam calculado em 10 mil léguas a distância entre a Espanha e a Índia.

Na idade média a ciência fixava em 90 graus a longitude entre Catai e a extremidade ocidental da Europa (Portugal). Colombo, porém, inspirado em Aristóteles e Eratóstenes, Estrabão, Plínio Sênior, Pompônio Mela, Toscanelli e outros, chegou a iludir-se com a redução dessa distância.

A configuração do mundo medievo acha-se condensada num tratado, em latim, que resume todos os conhecimentos geográficos e cosmográficos do princípio do século XV, data de sua publicação.

É a Imago Mundi (1408), do cardeal francês Pierre d’Ailly (Petrus de Alliaco), da qual possuía Colombo um exemplar, que anotou.

Fernando Colombo, filho do almirante genovês, diz ter sido esse livro o subsídio decisivo para a empresa marítima.

Premidos entre o oceano Atlântico e a hostilidade de Castela, num estreito retângulo de terra peninsular, viram-se os portugueses na emergência de aperfeiçoar seus estudos marítimos e de encetar com o infante dom Henrique o ciclo do Sul, ou périplo africano, que devassou o caminho da Índia.

A necessidade da expansão geográfica, a atividade comercial e a propagação da fé católica inspiraram dom Henrique, criador da Escola de Sagres, em sua temerária empresa, que serve de argumento ao poema heroico dos Lusíadas.

Além dos subsídios de Pierre d’Ailly e de Toscanelli, dos cálculos astronômicos dos árabes, contribuíram para o desenvolvimento da ciência geográfica, na idade média, em Portugal, Itália, Catalunha e Maiorca:

os trabalhos de Bacon e Vicente Beauvais;

as tábuas e o globo terrestre de Martinho Behaim, navegante alemão, a Carta Catalan de 1375, mandada levantar por Carlos V de França, na qual é figurada a costa ocidental africana até ao cabo Bojador;

o mapa de André Bianco (1436), que pela primeira vez assinala uma terra em frente a essa costa, no local aproximadamente do Brasil, e o mapa de Fra Mauro (1459), encontrado na biblioteca do palácio dos Doges de Veneza;

roteiros e portulanos (mapas configurativos dos portos).

Até 1341 só se registra uma expedição dos Portugueses, e esta foi às Canárias. Ainda no século XIV chegaram eles ao cabo Não, a respeito do qual havia a superstição: – “Quem passar do cabo Não, voltará ou não”.

Mas, no começo do século seguinte, o infante dom Henrique, filho de dom João I e governador do Algarve, reuniu em Sagres cartógrafos e mareantes abalizados, decidindo-se a ultrapassar o cabo Bojador, além do qual os geógrafos árabes situavam o Mar Tenebroso.

Em 1418, Bartholomeu Perestrello, sogro de Colombo, descobriu a ilha de Porto-Santo, da qual foi primeiro donatário.

No ano seguinte, João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira, navegando com o intuito de dobrar o cabo Bojador, foram acossados por um temporal e, afastando-se do rumo seguido, descobriram a ilha da Madeira ou Ínsula do Lenhame, das cartas marítimas.

Em 1432, foi descoberta a ilha de Santa-Maria, do grupo dos Açores, por Gonçalo Velho Cabral.

Em 1434, Gil Eannes dobrou o cabo Bojador.

Em 1441, Nuno Tristão avistou o cabo Branco.

Em 1446, a expedição de Cadamosto e Nola descobriu o arquipélago de Cabo Verde.

Desde a tomada de Constantinopla (1453), fim da idade média, haviam os Turcos fechado o fundo oriental da bacia do Mediterrâneo ao entreposto do comércio veneziano e genovês.

Compreenderam então os Portugueses ser-lhes, mais do que nunca, indispensável a conquista do caminho marítimo da Índia pelo sul africano, aspirando ao monopólio do comércio do Levante.

Aliás, pretendendo fazê-lo por terra, já haviam conquistado as praças de Ceuta e Tanger, em Marrocos.

Ao falecer em 1460, deixara o infante dom Henrique reconhecidas 1.700 milhas de costa da Africa, além da foz do rio Grande até a Serra Leoa.

Dois anos após era devassada a costa de Guiné.

Transposta a linha equinocial, que passava no mar de Guiné, aproximadamente na altura de São Tomé, surgiram dificuldades para os mareantes lusos, que navegavam só com o auxílio da bússola e do astrolábio, uma vez que no hemisfério austral se verificava o desaparecimento de estrelas sob a linha do horizonte.

Como solução do caso, tiveram os Portugueses de recorrer às tábuas de Martinho Behaim, e este próprio cosmógrafo fez parte da expedição de Diogo Cano, no reconhecimento da foz do Congo ou Zaire, em 1484, e em 1485 até á Hotentotia.

Datam de 1487 duas importantes expedições: uma por terra, a de Pero da Covilhã e Affonso Paiva, de Marrocos e Abissínia até ao Monte Sinai, pelo mar de Aden até Calecute e Sofala, chegando quase a encontrar-se na costa oriental africana com a outra, marítima, a de Bartholomeu Dias, a qual, tendo partido do Tejo naquele mesmo ano, chegou até ao rio do Infante, na citada costa, tendo sido o primeiro que dobrou o promontório meridional da África, a que dom João II denominou de Cabo da Boa Esperança, substituindo o nome de Tormentoso, que lhe dera seu descobridor Bartholomeu Dias.

Rasgou-se assim às caravelas portuguesas a rota marítima da Índia, cuja costa oriental já se vê esboçada na carta de 1489, existente no Museu Britânico, estimando-se em quatro mil léguas a rota oceânica entre Lisboa e Calecute.

O grande périplo marítimo da Índia foi, em conclusão, realizado por Vasco da Gama, já no princípio do reinado de dom Manuel I.

Saiu Vasco da Gama de Lisboa a 8 de Julho de 1497 com uma esquadrilha de três naus de guerra: a São Gabriel, capitânia; a São Rafael, do soto comando de Paulo da Gama, irmão do almirante; e a São Miguel, comandada por Gonçalo Coelho, além de uma barca de mantimentos, a qual tinha por mestre Gonçalo Nunes.

Bartholomeu Dias acompanhou essa expedição até São Jorge da Mina.

Vasco da Gama gastou seis meses de viagem até dobrar o cabo da Boa Esperança.

Mais de dois anos após a partida, chegou de regresso ao Tejo em 18 de Setembro de 1499, com as naus restantes, carregadas de especiarias e valores que fartamente compensaram a viagem, fornecendo também os recursos indispensáveis para o aprestamento da armada de 1500, que descobriria o Brasil.

Quadro Sinótico

Portugal, não só em consequência de sua situação geográfica, mas ainda graças à influência dos árabes, que possuíam a dupla capacidade, teórica e prática, da navegação, estava destinado, no século XV, às expedições marítimas de descobrimento do resto do mundo.

Para esse fim, o infante dom Henrique inaugurou o ciclo da navegação portuguesa, fundando a escola de Sagres, resultando daí o périplo africano, em oposição a Colombo, que buscava o Oriente pelo Ocidente. Desfazendo as lendas marítimas que retinham os Portugueses, no século XIV, em frente ao cabo Não, temendo o Mar Tenebroso, os Portugueses, às ordens do infante, foram do cabo Bojador até a Serra Leoa.

Em 1453, após a tomada de Constantinopla, os Turcos fecharam ao comércio italiano a bacia oriental do Mediterrâneo.

Sob dom João II, os Portugueses prosseguiram nas empresas marítimas e Bartholomeu Dias dobrou o cabo da Boa Esperança (1487); no reinado de dom Manuel I Vasco da Gama chegou a Calecute (1497).

Traços Biográficos
Infante Dom Henrique, O Navegador (1394-1460)

Era o quarto filho de dom João I e é um dos maiores vultos da história da civilização. Serviu à carreira das armas e dedicou-se também à ciência.

Depois da rendição de Ceuta, fundou no promontório de Sagres (1412 ou 1415), junto ao cabo São Vicente, uma escola de navegação, onde, além dos aparelhos necessários aos estudos, havia também estaleiros para construção de navios.

Contratou cosmógrafos estrangeiros, dedicando-se ao estudo das ciências geográficas, cartográficas e náuticas.

Foi discípulo de Edrisi, astrônomo árabe (1). Armava anualmente, com recursos próprios e os da Ordem de Cristo, da qual era grão-mestre, esquadrilhas de caravelas, capitaneadas por fidalgos e outros homens de sua casa.

Preparou o grande ciclo de navegação ao longo do litoral africano, em busca das Índias, realizado metade por Bartholomeu Dias e metade por Vasco da Gama.

Jaz no Mosteiro da Batalha, em Lisboa.

Vasco da Gama (1469-1524)

Dom Manuel I, o Venturoso, confiou-lhe em 1497 o comando da armada que ultimou o ciclo marítimo do descobrimento do caminho das Índias.

Durante a travessia, Vasco da Gama teve que mandar queimar a nau São Gabriel, na baía de São Braz. Sofreu tremendo temporal antes de aportar a Moçambique. Precisou sufocar uma revolta da marinhagem e a expedição escapou de ser vítima da cilada, contra ela urdida pelo piloto mouro, que o sultão de Moçambique oferecera a Vasco da Gama para guiar a armada à Índia, e que secretamente estava incumbido de entregar os navios aos árabes em Mombaça.

Em Melinde, o rei lhe forneceu um piloto fiel para conduzi-lo a Calecute.

Dom Manuel recompensou-o, nomeando-o almirante mór das Índias, com uma dotação de 300 mil réis de renda anual.

Nasceu Vasco da Gama em 1469, na vila de Sines, de que seu pai, Estevam Gama, era alcaide mór, e faleceu em 1524.

Notas

  1. Os árabes e a cartografia
  2. Ponto I – Lição 1ª

Fonte

Imagem destacada

  • PORTUGAL. Direcção Geral de Turismo. Portugal / created and issued by Portuguese National Tourist Board. - [S.l.] : P.N.T.B, imp. 1985 (Lisboa: EPNC-Oficinas Gráficas). - 1 cartaz : color. ; 48x33 cm

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