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Expulsão dos Franceses do Rio de Janeiro

PLANTA da barra do Rio de Janeyro. Acervo digital da Biblioteca Nacional.
PLANTA da barra do Rio de Janeyro. Acervo digital da Biblioteca Nacional.

Tanto o terceiro governador-geral Brasil, Mem de Sá, como o superior da missão jesuítica, padre Manuel da Nóbrega, não cessavam de pedir à metrópole urgentes auxílios, que Duarte da Costa não conseguira obter, para a expulsão definitiva dos Franceses do Rio de Janeiro.

Mem de Sá, tendo posto em ordem as capitanias, principalmente as de Ilhéus e Espírito Santo, ansiava por organizar uma expedição contra o reduto dos Franceses no interior da baía de Guanabara, onde se haviam estabelecido desde 1555, com o auxílio dos Tamoios, nas ilhas e no litoral.

Tendo chegado ao porto da Bahia, em novembro de 1559, a armada para esse fim mandada pela metrópole, sob as ordens do capitão mór Bartholomeu de Vasconcellos da Cunha, tratou logo Mem de Sá de arregimentar homens de guerra e índios das capitanias limítrofes e do Sul.

Em fevereiro de 1560, entrou essa expedição na baía do Rio de Janeiro, capturando de surpresa uma nau dos Franceses, e a 15 de março atacou o forte de Coligny, que, defendido por 74 homens de Bois-le-Comte, resistiu, durante dois dias e duas noites, aos bombardeios e assaltos.

Teve, afinal, de capitular, devido à falta de água e de víveres, sitiado completamente pelos atacantes.

A guarnição francesa, esgotados os elementos de resistência, resolveu abandonar a ilha de Serigipe e procurou refúgio em terra firme.

Mem de Sá não pôde, porém, tirar o devido partido dessa vitória, ocupando a praça desertada pelo inimigo, pois, não dispondo, para guarnecê-la, de forças suficientes, limitou-se a fazer voar o paiol de pólvora, encravar os canhões e demolir as fortificações.

Isso permitiu aos Franceses, apesar de dizimados, voltar de seu refúgio nas matas do litoral da Guanabara, em companhia dos Tamoios, fortificando-se em Biraoçú-mirim (outeiro da Glória) e Paranapucú (ilha do Governador), logo que os Portugueses regressaram à Bahia.

O resultado obtido não deixou, porém, de ser compensador, por isso que enfraqueceu de muito o plano de estabelecimento de um núcleo permanente de colonização francesa no Brasil, sob a denominação de França Antártica.

Não dispunham, aliás, os Franceses de auxílio oficial tão eficiente quanto o dos Portugueses, nos governos de Thomé de Sousa e Mem de Sá, em que se mostraram superiores aos sacrifícios para manter as terras conquistadas da real coroa.

Preparava Villegagnon em França nova expedição de reforços a seu definitivo estabelecimento no Rio de Janeiro, armando duas grandes naus de guerra, quando lhe chegou a notícia da rendição do forte de Coligny, o que lhe causou indignação.

Foram tomadas logo providências oficiais para a organização de uma esquadrilha real, que teve ordem de partir imediatamente, afim de tirar desforra completa.

Tendo, porém, cessado a perseguição religiosa em França, foi desviada a atenção do governo para a guerra de religião na regência de Catarina de Médici, iniciada com a Conferência de Passy (1561) e com o massacre de Vassy (1562).

E a aventura francesa da baía de Guanabara caiu, de todo, no olvido oficial.

Deixando o Rio de Janeiro, Mem de Sá foi à capitania de São Vicente, e despachou ao longo do Tietê uma expedição em busca de ouro, da qual fez parte Braz Cubas, e determinou que se transferisse a povoação de Santo André para o antigo sítio do Colégio dos Jesuítas, em São Vicente, afim de que seus moradores ficassem mais protegidos contra os ataques dos Tamoios.

De São Vicente, passou-se Mem de Sá à sede de seu governo geral na Bahia.

Enquanto isso, no Rio de Janeiro, L’E’pine e Bressay, companheiros de Bois-le-Comte, trataram de voltar às antigas posições, arrasadas pelos Portugueses; aliados sempre aos Tamoios, restabeleceram-se nelas, e, com o auxílio do gentio, reconstruíram o forte de Coligny, na esperança do concurso oficial que seria trazido por Villegagnon. Por vezes mesmo, os aliados franco-tamoios investiram contra São Vicente e Santo Amaro.

Pouco depois de 1562, chegaram a atacar São Paulo, sendo, porém, repelidos pelos índios das Missões Jesuíticas.

Isto levou o terceiro governador-geral a obter do superior, padre Manuel da Nóbrega, e do padre José de Anchieta, este versado na língua geral do gentio, a conclusão do tratado com os Tamoios, o qual se realizou em Iperoig, próximo a Ubatuba (1563).

Mem de Sá, relatando à metrópole os serviços que prestara expulsando os Franceses, insistiu na necessidade de fundar-se no Rio de Janeiro uma cidade, como “salvadora” de tais paragens.

A princípio, quis Mem de Sá estabelecer na costa do Espírito Santo cidade igual à do Salvador da Bahia, mas, desde que visitou, em 1560, a baía de Guanabara, mudou de ideia, passando a concordar com Thomé de Sousa em ser este último local o mais adequado à nova fundação.

Não aprovou a metrópole o abandono em que foi deixado por Mem de Sá o estabelecimento dos Franceses na ilha de Serigipe.

A fim de expulsar definitivamente os Franceses e colonizar o Rio de Janeiro, foi expedida pela regência de dona Catharina d’Áustria, avó de dom Sebastião, uma esquadrilha de dois galeões bem providos de gente e apetrechos de guerra, sob o comando do capitão mór Estácio de Sá, sobrinho do terceiro governador geral, com ordem de receber na Bahia ulteriores instruções.

Auxiliado por seu tio Mem de Sá, pelos padres Nóbrega e Anchieta e pelo ouvidor Braz Fragoso, conseguiu Estácio de Sá, após longa demora, reunir em São Vicente e Espírito Santo uma leva de cerca de 200 homens de guerra.

A 27 de janeiro de 1565, partiram de Bertioga (São Paulo) cinco pequenos navios, sendo três de remos e oito canoas, conduzindo índios Tupiniquins, colonos e mamelucos de São Vicente, o gentio convertido de Piratininga com José de Anchieta e os índios Temiminós, com o seu cacique Arariboia.

Na Ilha Grande tiveram de estacionar, à espera da nau capitânia, a Santa Maria, retardada por ventos contrários, e que a 28 de fevereiro surgiu com mais três navios menores, trazendo provisões de boca.

Finalmente, a 10 de março de 1565, na preamar, entravam na baía de Guanabara, fundeando junto à península e várzea do morro Cara de Cão, onde se acha a atual fortaleza de São João.

Quadro Sinótico

1560 – Mem de Sá desaloja os Franceses de sua fortificação no ilhéu de Serigipe, na baía de Guanabara, limitando-se, porém, a arrasá-la, sem ocupar a posição.

Mal se retirou para a Bahia, os Franceses que haviam fugido com os Tamoios, seus aliados, voltaram a ocupar os redutos abandonados.

1564 – A regência de dona Catharina d’Áustria envia Estácio de Sá, sobrinho do terceiro governador geral, para fundar a cidade do Rio de Janeiro.

1564 – 6 de Fevereiro – Estácio de Sá chega à barra do Rio de Janeiro, onde não se pode estabelecer sem os auxílios, que depois lhe chegaram, da capitania de São Vicente.

1565 – 1 de Março – Estácio de Sá funda a primitiva cidade do Rio de Janeiro no morro Cara de Cão, junto ao Pão de Açúcar.

Traços Biográficos
Araïboia ou Ararigboia

O 1º como quer Theodoro Sampaio, o 2º conforme Anchieta, quer dizer cobra de tempestade ou mau tempo.

Chefe guerreiro dos Temiminós, da tribo dos Tupinambás, batizado com o nome de Martim Affonso, – é dos mais dignos e bravos exemplares da raça brasileira.

Celebrizou-se na campanha da expulsão dos Franceses, de 1565 a 1567; trazido por Estácio de Sá, cooperou na fundação da cidade do Rio de Janeiro, por seu heroísmo e fidelidade aos Portugueses.

Depois da morte de Estácio de Sá, secundou a Mem de Sá e a Salvador de Sá na repulsa aos Franceses de Cabo Frio.

Em recompensa de seus serviços, foi-lhe concedida em 1568 uma légua de terra ao longo da costa e duas pelo sertão, da outra banda da baía de Guanabara, – Niterói, onde fundou a aldeia de São Lourenço.

Teve o hábito de Christo, o posto de capitão mór de sua aldeia e a tença de 12$000.

Morreu afogado nas proximidades da ilha de Mocanguê, tendo salvado de igual sorte a Salvador de Sá, durante o combate de Cabo Frio contra os Franceses.

Há dele um busto na praça de Niterói, onde as barcas têm sua estação.

Nota

  • Ponto 5º – Lição 16ª

Fonte

Imagem destacada

  • PLANTA da barra do Rio de Janeyro. Acervo digital da Biblioteca Nacional.

Mapa - Morro Cara de Cão