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Entradas e Bandeiras no Século XVIII, para Descobrimento das Minas

Igreja de Nossa Senhora do Rosário, a mais antiga de Diamantina (circa 1731)
Igreja de Nossa Senhora do Rosário, a mais antiga de Diamantina (circa 1731)

Até 1698, data do descobrimento das primeiras minas do sertão dos Cataguás², haviam os aventureiros batido quase todo o território da antiga capitania de São Paulo e Minas do Ouro, em várias direções, fundando núcleos de povoamento, que constituíram, indiretamente, o maior fruto da audaciosa empresa.

Assim foi colonizada, por iniciativa de feição acentuadamente nativista, toda a parte centro meridional do território brasileiro.

Deram início a essa grande obra as entradas dos séculos XVI e XVII, prosseguidas com vigor, no século XVIII, mercê das quais despertaram do profundo letargo de mais de um século e meio as populações da zona marítima.

Em 1719, uma bandeira de Paschoal Moreira Cabral, descobriu as minas de Cuiabá (Mato Grosso), deslocando-se então a corrente imigratória para essa região.

Daí, partiram os exploradores do sertão, rumo ao Norte, vindo a descobrir a serra dos Parecis e novas minas e jazidas auríferas (1731).

Prosseguindo para o Amazonas e Pará, desceu Manuel Félix de Lima, em 1742, pelo rio Guaporé até Belém.

Pouco antes, Francisco de Mello Palheta havia chegado a Mato Grosso, vindo do Pará pelo curso do Mamoré.

Em 1722, Bartholomeu Bueno da Silva, filho do Anhanguera, que lhe conservara o alcunha posto pelos índios, explorou terras de Goiás, tendo descoberto novas minas em 1725.

Ainda de 1733 até 1746, outras explorações de ouro foram levadas a efeito no subsolo goiano.

Em 1728, haviam sido descobertos diamantes na região denominada então Tejuco, atual Diamantina, Minas Gerais.

As mais opulentas lavras foram reveladas nessa época pelas bandeiras de São Paulo e Taubaté, capitaneadas por Salvador Fernandes Furtado, padre João de Faria Fialho, João Lopes de Lima, Bento Rodrigues Thomé Portes del Rey, José de Siqueira Affonso, Leonardo Nardes e outros.

Espalhada a notícia das minas por todo o Brasil e pelo reino de Portugal, atraiu a essa região aurífera, verdadeira multidão, só comparável ao fato mais tarde verificado com as jazidas da Califórnia.

De toda parte, acudia gente em massa – homens, mulheres, moços e velhos, pobres e ricos, plebeus e fidalgos, seculares, clérigos e religiosos – muitos dos quais eram estrangeiros e colonos da Bahia.

Em vão o governo ditava leis e ordens, para evitar esse êxodo para as minas de Sabará, Mato Grosso e Goiás.

Resultou daí grave prejuízo para as terras de cultura, engenhos, sítios e pastagens, e em geral para as atividades industriais e mercantis.

O então governador e capitão mór do Rio de Janeiro, Arthur de Sá e Meneses (1697-1702) teve ordem da corte de ir pessoalmente às minas, mais como particular, do que como governador (Rocha Pitta). Depois dele, foi lançada a proibição nesse sentido, devido ao prejuízo que tal concessão trazia ao serviço público.

Sabe-se que o contacto do ouro é corruptor e modifica o caráter. Assim, a febre do ouro emprestou energia aos fracos e transformava os somíticos em perdulários, os hábitos simples em vida suntuosa e sensual.

A descoberta das minas do Peru, ainda mais concorreu para se arquitetarem no espírito dos aventureiros fabulosas lendas.

Propalava-se então que granetes de ouro faziam o papel do chumbo de espingarda; que eram de ouro as tripeças que serviam para sustentar as panelas ao lume, e que para colhê-lo bastava arrancar as touças do capim, pois nas raízes vinham pregadas as folhetas – o que não foi totalmente fábula, pois viu-se isso muitas vezes tanto nas lavras do Sutil, como nas de Conceição, que depois foi arraial (Barbosa de Sá, Relação da Povoação do Cuiabá e Mato Grosso de seus princípios até os tempos presentes, escrito em 1755).

Cada ano as frotas chegavam de Portugal carregadas de aventureiros.

Invadiram-se, assim, não só as minas de Sabará, dos Campos de Goitacás, como as de Mato Grosso, Guaporé, e Arinos, com caminho por Goiás; acreditando-se que as lendárias jazidas estavam perto do antigo império dos Incas.

A descoberta de Bartholomeu Bueno, pelas amostras do primeiro ouro que apresentou em São Paulo, foi das de maior atrativo, por se acreditarem sitas na terra do Araês, como foi o primitivo nome daquela região, onde a imaginação popular criara “montanhas de ouro e lagos encantados” (José Martins Pereira de Alencastre, Anais da Província de Goiás).

Fora de qualquer ação da autoridade oficial, afastada do convívio da sociedade, em pleno sertão, essa aglomeração de gente de toda casta (flibusteiros do sertão, na frase de Humholdt), devorados pela ganância irrefreável de enriquecer rapidamente, só atendia ao sucesso dos mais fortes e dos mais espertos.

Logo se levantaram entre os chefes de bandos inimizades irreconciliáveis que degeneravam em sangrentos choques de ambição pela posse dos tesouros recém-descobertos ou em perspectiva.

Em Goiás, Manoel Rodrigues, tendo-se por único senhor do arraial da Meia-Ponte, recusou-se a prestar obediência ao velho Bartholomeu Bueno, arvorado em capitão regente daquelas minas, investido de poder discricionário, e a seus locotenentes.

Não havia meio de coibir os excessos e atentados impunes, a que se entregavam os novos povoadores; e os agentes do fisco, sem poder algum de autoridade, viam-se expulsos das funções exatoras por essa multidão heterogênea.

Pela carta régia de 18 de Março de 1694 se garantia aos descobridores desses tesouros jacentes, além do foro fidalgo, o domínio das minas, com o pagamento, do quinto do mineral extraído, à coroa real portuguesa.

Foi tal a desordem, que o próprio Bartholomeu Bueno reclamou do governador Antônio da Silva Caldeira Pimentel providências enérgicas.

Ficava, porém, São Paulo a tal distância que só muito tarde puderam ser tomadas medidas, já no governo do conde de Sarzedas.

Ainda após ser criada a intendência, no distrito do Tocantins (1737), deram-se novas complicações com os colonos maranhenses, que se pretendiam apoderar das minas de São Félix, Natividade e outras.

No Pará, houve iguais conflitos, em 1731, sendo governador Alexandre de Sousa Freire.

Em Mato Grosso, devido à pronta organização oficial do serviço das lavras e ao seu afastamento das regiões marítimas, iniciou-se o povoamento sob melhores auspícios.

Chamavam-se, então, monções de povoado as penosíssimas jornadas que, em todos os anos, em época certa, começaram a fazer-se de São Paulo até Cuiabá.

Da de 1720, logo após o descobrimento das minas, morreram todos; e da de 1725, de 300, só escaparam cinco, dois brancos e três negros.

Nada, porém, foi de comparável ao que ocorreu então em Minas Gerais, onde o movimento dos aventureiros do ouro foi o mais desordenado e a luta mais renhida e sangrenta, por só não serem essas as primeiras minas descobertas, como por ficarem ao alcance dos especula dores.

Os Paulistas pediram então ao governador Arthur de Sá que lhes mandasse distribuir, em seu exclusivo benefício, essas datas de terras auríferas; e reconhecer-lhe o monopólio, como seus descobridores e povoadores, dominantes em toda linha.

Ocupantes dos postos e ofícios providos pelo governador, encarregaram-se da perseguição dos forasteiros reconhecidos por turbadores intrusos, e nesse número incluíam não só os imigrantes do reino e os estrangeiros residentes no Brasil, como até os nascidos aqui, que não fossem da vila de São Paulo o que se verificou com os de Taubaté, da Bahia e outras partes do nosso país.

As principais explosões armadas foram as de 1706, na Ponta do Morro, sendo governador Fernando Martins Mascarenhas de Lencastre, no qual foi assassinado um emboaba português, por índios partidários dos Paulistas, dando isto motivo a reclamação ao governo por toda a população do rio das Mortes: os do Morro Vermelho e Caeté (1716), de onde se propagou verdadeira insurreição por todas as comarcas.

Essas desordens foram crescendo até o movimento de Felipe dos Santos, em 1720, sendo governador da capitania das Minas Gerais e São Paulo, d. Pedro de Almeida, conde de Assumar.

Seguindo a ordem cronológica, os nossos maiores núcleos de mineração no século XVIII, foram os das Minas Gerais, o mais notável; de Cuiabá, Mato Grosso, Goiás, e, finalmente, as lavras da Bahia.

Minas Gerais compreendia como mais importante zona o sertão denominado dos Cataguás (Ribeirão do Carmo, Pitangui, rio das Velhas, Ouro Preto), para o sul as do Rio das Mortes, de Itatiaia e Itaberaba; e para o Norte, as do Serro Frio, Tocambibira, rio das Velhas, Sabarabussu (Sabará), Caeté, Santa Bárbara, Catas Altas e outras.

Quadro Sinótico

No século XVIII, foram mais importantes os seguintes movimentos para a exploração das minas de ouro e diamantes:

1719 – Pascoal Moreira Cabral descobriu as minas de Cuiabá.

1725 – Bartholomeu Bueno da Silva, filho do Anhanguera, encontrou as minas de Goiás.

1728 – Na região denominada então do Tejuco, atual Diamantina, Minas Gerais, foram descobertos diamantes.

As mais opulentas lavras foram as exploradas pelas bandeiras de São Paulo e Taubaté.

Divulgada a notícia do descobrimento, multidões de aventureiros para ali foram, atraídos, não só de vários pontos do país, como do reino de Portugal. Em vão o governo procurou evitar o êxodo para as minas de Sabará, Mato Grosso e Goiás.

As principais explosões armadas, devido ao choque de interesses entre Paulistas e forasteiros, foram as de 1706, em Ponta do Morro; de 1716, de Morro Vermelho e Caeté, de onde se propagou a insurreição por todas as comarcas, culminando no movimento nativista de Philippe dos Santos, em 1720.

Notas

  • Ponto 13º – 35ª Lição
  • “sertão dos Cataguás”, onde hoje se localizam as cidades de Ouro Preto (Vila Rica), Mariana e Sabará. (Caderno de Atividades)

Fonte

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  • Igreja de Nossa Senhora do Rosário, a mais antiga de Diamantina (circa 1731)

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