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Divisão do Brasil em Capitanias Hereditárias. Situação das mesmas em confronto com o mapa atual

Nicolas de Fer. Le Brésil dont les côtes sont divisées en capitaineries: dressé sur les dernieres relations de flibustiers et fameux voyageurs. Paris, França, 1719.
Nicolas de Fer. Le Brésil dont les côtes sont divisées en capitaineries: dressé sur les dernieres relations de flibustiers et fameux voyageurs. Paris, França, 1719. Disponível em Barry Lawrence Ruderman Antique Maps Inc

Dom João III, tendo enviado Christóvão Jacques por “governador às partes do Brasil”, – lhe fez saber, em Alvará de 5 de Julho de 1526, a autorização dada a Pero Capico, “capitão de uma das capitanias do dito Brasil”, para que regressasse ao reino, visto ter expirado o prazo de três anos de exercício de sua capitania.

Os capitães vigias da nossa costa não se limitavam a simples guardas da mesmas costa, ou capitães de navios em cruzeiro pelo litoral; antes tinham sede determinada e mando em terra, e auferiam proventos dessa investidura, parcial e a prazo.

Christóvão Jacques em 1526, e Martim Affonso de Sousa em 1530, foram despachados como capitães-mores de mar e terra e governadores gerais do Brasil.

Logo se apercebeu, porém, o soberano da ineficácia do poder colonizador, e ouvindo Diogo de Gouveia, achou melhor prosseguir no regímen das capitanias, não provisórias, mas permanentes, por uma divisão sistemática e geral de todo o território brasileiro, entre fidalgos beneméritos, como feudatários da coroa.

– “Depois de vossa partida (3 de Dezembro de 1530), escrevia dom João III a Martim Affonso de Sousa, em carta régia de 28 de Setembro de 1537, se praticou se seria melhor serviço povoar-se toda essa costa do Brasil”.

Nessa mesma correspondência para o Brasil, de que foi portador João de Sousa, declarou o rei que, depois de ter mandado logo demarcar e fazer doações de 160 léguas da costa ao referido Martim Affonso e a seu irmão Pero Lopes de Sousa, doou a mais algumas pessoas, que lhe haviam requerido, 50 léguas a cada qual.

A parte de costa do Brasil primeiro demarcada, conforme a citada carta régia, foi a compreendida entre Pernambuco e o Rio da Prata.

Dividiu-se o litoral em três zonas de quatro capitanias cada uma:– do Norte, do Centro e do Sul; isto é – cerca de 28 graus de latitude, ou 200 mil léguas quadradas, obra de 2 terços do território atual.

Nas cartas de doação marcava-se astronomicamente o número de léguas, baseado o cálculo na latitude, e designados os limites por dois pontos na carta de Gaspar Viegas, de 1534, tomando por marco o acidente geográfico mais aproximado.

Declarava-se no texto legal dessas cartas que as linhas paralelas à costa de limites entre as capitanias – “entrariam pelo sertão e terra a dentro quanto puderem entrar e for de minha conquista”.

Quer dizer, até cruzar a linha convencional de Tordesilhas.

Mesmo que as capitanias tivessem todas 50 léguas de testada, seria ainda muito desigual sua superfície, devido à sensível obliquidade e reentrância da costa. As de maior longitude oriental teriam mais fundo.

A frente do litoral, porém, variava nelas de 30 a 150 léguas.

Assim, as 100 léguas de costa, doadas a Martim Affonso, cujos serviços o soberano procurou recompensar, galardoando-o com um quinhão considerado o mais valioso, equivaliam somente a 4 mil léguas quadradas, ao passo que as 30 léguas de Pero de Góis, donatário do menor quinhão de testada, representavam de fato, 4.500 léguas em quadra; e o terceiro lote de Pero Lopes de Sousa, com 30 léguas de testada, contava uma superfície seis vezes maior que a dos dois primeiros lotes, com 50 léguas de costa.

Eis a denominação e dimensões e a situação geográfica dessas capitanias, confrontadas com o mapa atual, e seus respectivos donatários.

– A Capitania de São Vicente e São Thomé constava de 100 léguas de costa, divididas em dois lotes: o primeiro de 55 léguas da foz do rio Macaé a do Curupacé (Juquiriquerê, fronteira ao extremo Norte da ilha de São Sebastião); o segundo de 45 léguas, entre a barra de Bertioga e a barra de Paranaguá.

A Capitania de Santo Amaro, Terras de Santa Anna e Itamaracá, doada a Pero Lopes de Sousa, compunha-se de três quinhões, com 80 léguas de litoral, assim compreendidas: – 40 léguas, a contar da barra de Paranaguá para o Sul, até ás terras de Santa Anna (Laguna); dez léguas encravadas entre os dois lotes de Martim Affonso, ou seja desde São Vicente até a embocadura de Juquiriquerê, mais 30 léguas, da foz do rio Iguaraçu até a baía de Traição (Paraíba).

A Capitania do Espírito Santo teve por donatário Vasco Fernandes Coutinho e abrangia 50 léguas do litoral, desde a foz do rio Itapemirim à do Mucuri.

A Capitania da Paraíba do Sul foi doada a Pero de Góis da Silveira, contando 30 léguas costeiras, entre os rios Itapemirim e Macaé, limite norte. Abandonou-a o donatário, em vista dos ataques dos Goitacases.

A Capitania de Porto Seguro constava de 50 léguas, concedida a Pero do Campo Tourinho, tendo por limites, o rio Mucuri (Espírito Santo), e o porto do Poxim (Bahia), um pouco acima da foz do rio Pardo (Bahia) ou Patipe. O donatário fundou a povoação de Porto Seguro e a de Santa Cruz, nos pontos a que aportara Cabral.

A Capitania dos Ilhéus coube a Jorge de Figueiredo Corrêa. Corria por 50 léguas de litoral, a partir do porto de Poxim até as proximidades da Baía de Todos os Santos. Corrêa não veio povoar a capitania; mandou, porém, fundar a povoação de Ilhéus, atual cidade.

A Capitania da Baía de Todos os Santos teve por donatário Francisco Pereira Coutinho, e contava 50 léguas de litoral, desde a Baía de Todos os Santos até á foz do rio São Francisco (Alagoas). Coutinho foi morto e devorado pelos Tupinambás.

A Capitania de Pernambuco, que teve como donatário Duarte Coelho Pereira constava de 60 léguas, entre a foz do rio São Francisco e a do Iguaraçu (Pernambuco), onde começava a correr até à baía da Traição (Paraíba) o terceiro quinhão de Pero Lopes de Sousa. Introduziu Duarte Coelho a cana de açúcar.

A Capitania do Rio Grande do Norte foi doada a João de Barros, associado a Agres da Cunha. Compreendia 100 léguas, desde a baía da Traição até á Angra dos Negros (Ceará).

A Capitania do Ceará coube a Antônio Cardoso de Barros, estendendo-se por 40 léguas, entre o limite desta última até ao rio da Cruz, braço mais oriental do delta do Parnaíba (Piauí).

A Capitania do Piauí, compreendendo parte do Maranhão. 75 léguas do Parnaíba até o rio Gurupi (Maranhão), tocou ao tesoureiro mór do reino, Fernando Alvares de Andrade.

A Capitania do Maranhão, doada a João de Barros e Ayres da Cunha, abrangia de extensão 50 léguas, a oeste do Gurupi até ao Amazonas.

Quadro Sinóptico

Em 1532, dom João III dividiu o litoral do Brasil em 15 lotes de terras, formando as capitanias hereditárias, de 30 até 100 léguas de testada, e tantas de fundo quanto alcançasse o domínio português, e concedeu-as por doação a fidalgos ilustres e homens de cabedal, aos quais foram passadas cartas de doação e forais de senhorios das respectivas capitanias, assim divididas:

1ª – São Vicente e São Thomé – Martim Affonso de Sousa.

2ª – Santo Amaro, Terras de Santa Anna e Itamaracá – Pero Lopes de Sousa.

3ª – Espírito Santo – Vasco Fernandes Coutinho.

4ª – São Thomé – ou Paraíba do Sul – Pero de Góis da Silveira.

5ª – Porto Seguro – Pero do Campo Tourinho.

6ª – Ilhéus – Jorge de Figueiredo Corrêa.

7ª – Baía de Todos os Santos – Francisco Pereira Coutinho.

8ª – Pernambuco – Duarte Coelho Pereira.

9ª – Rio Grande do Norte – João de Barros e Ayres da Cunha.

10ª – Ceará – Antônio Cardoso de Barros.

11ª – Piauí – Fernão Alvares de Andrade.

12ª – Maranhão – João de Barros e Ayres da Cunha.

Traços Biográficos
Pero Lopes de Sousa (1502)

Pero Lopes de Sousa foi o segundo filho de Lopo de Sousa e irmão de Martim Affonso.

Diz Varnhagen ser provável que tivesse ele frequentado a Universidade, que então estava em Lisboa, fazendo estudos de navegação.

Começou a servir na armada de guarda costa, quando ainda muito jovem.

Acompanhou o irmão na armada ao Brasil, servindo primeiro na capitania, passando a comandar duas caravelas, com as quais afrontou uma peleja com uma nau francesa, a qual abalroou e fez prisioneira.

Mandou-o Martim Affonso ao Rio da Prata, tendo mostrado nessa empresa grande valor, naufragando próximo ao cabo Santa Maria, conseguindo, porém, por o bergantim a nado e reunindo-se à armada a 27 de Dezembro de 1531, na ilha das Palmas.

Foi nomeado capitão mór de 5 naus para a Índia em março de 1539, perdendo-se na paragem da ilha de São Lourenço (Madagascar), não havendo dele outras notícias.

Fora casado com Isabel de Gamboa. Era de gênio altivo, caprichoso no mando e independente.

Deixou escrito o Diário ou Roteiro de Navegação, publicado primeiramente por Varnhagen e ultimamente reeditado, com admiráveis comentários pelo sr. comandante Eugênio de Castro.

Duarte Coelho Pereira

Duarte Coelho distinguiu-se na Índia, e recebeu, por isso, a capitania de Pernambuco, quando dom João III dividiu o Brasil em capitanias.

Registra Pinheiro Chagas que, ao ver Duarte Coelho o sítio onde hoje é a cidade de Olinda, exclamou:

“O’ linda situação para se fundar uma vila”!

Daí, talvez, provenha o nome de Olinda, que ele fundou. Varnhagen acha esse ponto ridículo; entretanto Rodolfo Garcia diz que ele aparece em frei Vicente do Salvador.

Casou com Brites de Albuquerque e dessa união nasceu a família brasileira dos Corrêas e Albuquerques. Duarte Coelho faleceu em 1554.

João de Barros (1496-1570)

João de Barros, nascido em Vizeu, purista da língua e clássico quinhentista, denominado o Tito Lívio português, foi o historiógrafo famoso das Décadas da Ásia, em número de 4, de 10 livros cada uma, obra concluída por Diogo do Couto.

Era feitor da Casa da Índia e Mina, ao ser nomeado donatário no Brasil. Valido da corte, de notável espírito e patriotismo, escreveu também a Crônica do Rei Clarimundo, uma gramática e obras de literatura e de moral.

Nota

  • Ponto 3º – Lição 9ª

Fonte

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  • Nicolas de Fer. Le Brésil dont les côtes sont divisées en capitaineries: dressé sur les dernieres relations de flibustiers et fameux voyageurs. Paris, França, 1719. Disponível em Barry Lawrence Ruderman Antique Maps Inc

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